Declínio em plantios de pinhão-manso
Desde 2007 são crescentes os registros da ocorrência de uma doença de potencial alta letalidade para plantas de pinhão-manso (Jatropha curcas), aparentemente causada por fungo. As manifestações sintomatológicas típicas desta doença, em sua fase inicial, são, dependendo das condições climáticas locais, a seca descendente dos ramos, a infecção na base do caule e a podridão do sistema radicular.
Em 2009 grupos de pesquisa no Brasil (Pereira et al., 2009) e na Índia (Latha et al., 2009) relataram a sintomatologia da infecção e identificaram o fungo Lasiodiplodia theobromae como agente etiológico.
No semiárido do estado da Paraíba, a doença foi observada pela primeira vez nos campos experimentais do Instituto Fazenda Tamanduá (IFT), em 2008, e, desde então, a prospecção por genes de resistência ao fungo Lasiodiplodia theobromae é parte dos trabalhos de melhoramento genético em curso naquele Instituto.
Além do estado da Paraíba, a doença tem sido noticiada na Bahia e em outros estados do Nordeste, também no Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e em regiões do Sul do país.
Observações de campo mostram que a infecção é bem mais severa frente a condições climáticas que levam a estresses ambientais recorrentes e intensos, cenário típico da região semiárida/NE onde os números da mortalidade alcançam, em alguns casos, 90% até o segundo ano de plantio.
Um exemplo concreto desta estatística foi a morte, em pouco mais de um ano da instalação, de 100% das plantas da Unidade de Observação de Genótipos de Pinhão-Manso fruto da parceria público-privada entre Embrapa Agroenergia e ABPPM, no município de Santa Terezinha (PB).
Por outro lado, naquelas regiões com clima, comparativamente, mais ameno e com precipitação média anual superior a 1000 mm, os efeitos da infecção se caracterizam, mais frequentemente, por declínio irreversível da produção em plantas adultas aparentemente saudáveis (a partir dos três anos); nessas regiões, a taxa de mortalidade, para plantas jovens (até um ano e meio), é bem inferior àquelas registradas na região semiárida/NE.
É interessante ressaltar que a causa mais provável do insucesso dos primeiros plantios de pinhão-manso, no Brasil, se deve, em grande parte, ao declínio causado pela ação sistêmica do fungo Lasiodiplodia theobromae, à época sem uma identificação precisa. Em alguns casos o declínio em plantios adultos de pinhão-manso, causado pela reportada doença, foi equivocadamente atribuído a ferrugem em algumas regiões do Mato Grosso do Sul. Ressalta-se, nesse mesmo sentido, que a broca do pinhão-manso é uma manifestação oportunista decorrente da infecção na base do caule.
Instituições parceiras do Instituto Fazenda Tamanduá têm demonstrado certa preocupação com a incidência e agravamento da doença na Ásia, África e América Central.
A despeito da severidade da doença, dos crescentes registros de sua ocorrência no Brasil e no mundo e da falta de tratamento químico registrado com comprovada eficácia, ações concretas das Instituições de Pesquisa com vistas à melhor entender e propor soluções a este cenário são ainda escassas e incipientes.
Nos mais recentes eventos, de alcance nacional, II Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, em Guarapari (ES), e II Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão-Manso, em Brasília (DF), nada foi abordado sobre o tema.
Em entrevista ao BiodieseBR, em maio de 2007, o empresário Nagashi Tominaga já alertava para o problema da podridão do caule e raízes, da falta de conhecimentos sobre a doença e da indisponibilidade de defensivos para seu combate. Apesar dos avanços no campo das tecnologias de manejo, vislumbra-se que ações de melhoramento genético direcionadas ao acesso de genótipos de pinhão-manso resistentes, ou tolerantes, ao fungo Lasiodiplodia theobromae, são cruciais para que o cultivo de tão importante oleaginosa venha a prosperar no Brasil.
Plantio irrigado na Paraíba. No detalhe, plantas de pinhão-manso com sintomatologia generalizada da infecção. (Fonte: Instituto Fazenda Tamanduá).
Pinhão-manso no Espírito Santo com podridão nas raízes. (Fonte: Instituto Fazenda Tamanduá).
Sintomatologia da seca descendente. Plantas de pinhão-manso, sul da Bahia (Fonte: Instituto Fazenda Tamanduá).
Ricardo Almeida Viégas - Professor, DSc, metabolismo de plantas, Universidade Federal de Campina Grande
ricardoviegas@fazendatamandua.com.br
Deborah Laurentino de Morais - Eng. Florestal, MSc, melhoramento genético, Instituto Fazenda Tamanduá