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Biodiesel

Veterano do agronegócio, Iafelice enfrenta novo revés


Valor Econômico - 23 jun 2008 - 07:48 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Antonio Iafelice, de 59 anos, fundador e diretor-presidente da Agrenco, preso na última sexta-feira na Operação Influenza, da Polícia Federal, é um veterano do agronegócio no Brasil. Começou sua carreira no grupo Zillo Lorenzetti, da indústria de açúcar e álcool, em 1966, antes mesmo de concluir a faculdade de química, na qual graduou-se dois anos depois.

Em 1981, ele foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), entidade que chegou a presidir. De 1986 a 1989, foi presidente e gerente-geral da Continental Grain. Nos três anos posteriores a esse período, comandou a Ceval Internacional, mais tarde comprada pela Bunge, e foi também diretor-gerente da divisão de processamento de oleaginosas da Ceval Alimentos.

A Agrenco enfrentou reveses nos últimos meses. Em abril, deixou de pagar por 6 mil toneladas de soja em Mato Grosso. O débito foi quitado em maio, segundo a empresa. Há uma semana, também for falta de pagamento, teve sua falência requerida pela Hunter Douglas do Brasil, que forneceu telhas para as obras da usina de biodiesel de Alto Araguaia (MT) - a unidade foi inaugurada em março. A Agrenco informou ao Valor que a dívida, de R$ 254 mil, foi quitada na última quarta-feira.

Com sede na Holanda, a Agrenco foi criada em 1992 e teve seu primeiro escritório na França. Sua estrutura inclui 23 armazéns na América do Sul, nove deles próprios, com capacidade somada de 987 mil toneladas. No Brasil, as unidades de processamento de grãos ficam em Alto Araguaia (MT) e Caarapó (MS). Em São Francisco do Sul (SC) e Del Guazú, na Argentina, estão seus terminais marítimos.

Em entrevista recente ao Valor, Iafelice falou de sua vontade de se aposentar em 2013 e do "sonho" de que a empresa atinja até lá faturamento anual de US$ 20 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, a empresa reportou receita líquida de R$ 1,2 bilhão e lucro líquido de R$ 26,4 milhões. Em 2007, seu prejuízo líquido foi de R$ 123,3 milhões.

A prisão de Iafelice e de outras 23 pessoas pode reverberar sobre o restante da indústria, acreditam fontes do segmento. "A imagem do setor pode, sim, ser abalada, especialmente agora que ele está em um momento de euforia", diz um corretor com atuação no mercado de soja. "Os bancos podem criar resistências na liberação de crédito, que já está apertado". O corretor reitera não ter negócios com a Agrenco. "Não tenho nem nunca tive".

O acesso mais restrito ao crédito na cadeia da soja ocorre, também, em virtude da disparada do preço da commodity. Neste ano, a cotação do grão na bolsa de Chicago, que bateu recordes sucessivos, superou um teto que se mantinha desde 1973. Isso pode ampliar a receita dos exportadores, mas também torna mais caras as compras feitas pelas tradings. "Hoje compra-se metade da soja que era possível comprar no ano passado com a mesma quantidade de dinheiro", diz o corretor.

Na Agrenco, além de Iafelice, foram presos preventivamente Francisco Ramos, diretor institucional, e Antônio Augusto Pires Júnior, executivo-chefe de operações. Em comunicado, a empresa disse ter recebido "com surpresa e estranheza as notícias envolvendo alguns de seus executivos".

O comunicado informa que a Agrenco se pronunciará apenas depois de analisar detalhadamente os autos da investigação. "Até o momento, não se sabe quais são as acusações que pesam sobre os executivos nem as razões que motivaram os decretos de prisão", afirma a nota. O informe diz que a Agrenco permanece em atividade.

Patrick Cruz, De São Paulo

Tags: Agrenco