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Biodiesel

Usina de biodiesel de Montes Claros é "elefante branco"


O Tempo - MG - 13 abr 2009 - 06:31 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

A usina de biodiesel Darcy Ribeiro, inaugurada pela Petrobras em Montes Claros, já nasceu com fama de elefante branco. "O problema é de localização (está a 417 km de Belo Horizonte). A escolha é política e não técnicoeconômica", criticou o consultor Univaldo Vedana, do portal BiodieselBR.com. A usina custou cerca de R$100 milhões.

Para uma usina de biodiesel dar certo são dois os pré-requisitos: ficar perto do consumidor e da produção agrícola. "No caso de Montes Claros, nenhum desses detalhes foi observado", reforça Vedana, para quem a produção será viabilizada em uma década.

Outro crítico da instalação da planta em Montes Claros é o professor Antônio Machado, coautor do livro "Biodiesel Produção e Desafios", junto com o professor Herbert Martins. "É um projeto absurdo. O biodiesel vai fazer turismo energético de Montes Claros para Uberlândia, Brasília ou Betim para ser misturado. Isso vai aumentar o custo com o frete", disse.

No quesito custos, Vedana apresenta a seguinte conta: R$ 2 o litro de soja, mais R$ 0,30 pelo processo de transesterificação (veja quadro), outros R$ 0,50 de PIS e R$ 0,22 de Cofins, R$ 0,36 de ICMS, R$ 0,30 de custo da usina, mais lucro da usina de R$ 0,20, atingindo, no total, R$ 4. "Isso sem margem de lucro para ninguém da distribuidora e na bomba, o que tornaria seu preço inviável economicamente", ressalta.

No último leilão de biodiesel da Agência Nacional de Petróleo (ANP), realizado em fevereiro, a Petrobrás vendeu a R$ 1,70 o litro. Um valor bem distante do custo de produção de R$ 4.

A rota metílica também gera polêmica. A tecnologia utilizada pelas grandes usinas brasileiras é importada de empresas como a norte-americana Crown, assim como o álcool metanol é adquirido, na maior parte, dos nossos vizinhos chilenos. O metanol é necessário para separar o biodiesel da glicerina encontrada nos óleos vegetais e animais, num processo chamado transesterificação. Outro componente eficiente na separação é o etanol, o álcool anidro utilizado como combustível e produzido a partir da cana-de-açúcar.

Baseado em metanol, o consultor Univaldo Vedana explica que o mote do "biodiesel verde" cai por terra porque não é 100% renovável. O professor Antônio Machado descreve o metanol como um combustível fóssil. "Quando queima, está incorporando no meio ambiente um carbono que já tinha sido retirado dele. É usado porque a reação é mais econômica", explica.

Sonho.
O biodiesel é um projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a descrevê-lo como "uma das coisas que mais me tocam neste governo". A produção atingiu 1,2 bilhão de litros no ano passado e conta com capacidade instalada de 3,7 bilhões de litros em janeiro deste ano, de acordo com a ANP. É um dos projetos mais defendidos e badalados pelo atual governo.

A Petrobras não se manifestou sobre o assunto e não apresentou respostas quanto aos custos de produção das usinas.

Produto precisa encontrar a sua cana para ter preço

Mesmo criticando a localização das usinas e o fato de estarem paradas, como é o caso da Usina de Biodiesel de Cássia, no Sul de Minas, especialistas enxergam futuro no novo combustível, desde que se um produto mais rentável para a extração do óleo.

Assim como o etanol encontrou na cana-de-açúcar a matéria-prima essencial, “nós precisamos encontrar a cana do biodiesel que possa produzir óleo a preço competitivo. Mas ela não passa pela mamona. Temos dezenas de plantas com potencial como o pinhão-manso, a macaúba e canola”, descreveu o professor Univaldo Vedana.

Transformar o sucesso do álcool como combustível em realidade também para o biodiesel é questão de algumas décadas, admite o especialista.

Além de Cássia, projetos como a usina de biodiesel de Fuserman, em Barbacena, e outras com concessão da ANP para operar em Minas, como em Araxá, Araguari, Varginha e Poços de Caldas, também estão em compasso de espera. “Cássia está parada por problemas técnicos e Barbacena está investindo na produção”, disse.

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Helenice Laguardia