PUBLICIDADE
CREMER2025_novo CREMER2025_novo
Biodiesel

Tecnologia garante liderança brasileira


Gazeta Mercantil - 17 nov 2008 - 16:09 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:07

Apesar de as previsões para o curto prazo apontarem retração na economia global e na demanda por commodities em geral, as pesquisas e investimentos em biocombustíveis seguem a passos largos, inclusive no Brasil. O País largou na frente, é verdade — foi o primeiro a patentear o biodiesel em 1980, por exemplo. No etanol, o Brasil possui boa vantagem sobre outros países produtores, dominando o ciclo completo de cultivo, produção e comercialização do produto por meio da cana-de-açúcar, de longe a melhor matéria-prima.

Mas o consenso entre estudiosos e indústrias é que são os crescentes investimentos em novas tecnologias e fontes de energia para a geração de bioenergia que podem garantir a liderança do País no setor a longo prazo.

Paralelo ao crescimento dos volumes de etanol e biodiesel fabricados no País, aumenta também a produção científica brasileira sobre biocombustíveis. Um levantamento realizado pela editora de conteúdo científico Elsevier, a pedido da Gazeta Mercantil, aponta que o número de artigos de pesquisadores brasileiros publicados em periódicos científicos internacionais subiu 166% desde o ano 2000, atingindo 367 textos no ano passado. No mesmo período, a produção científica mundial sobre o tema cresceu 98%, de 5.313 artigos em 2000 para 10.536 em 2007. “Há cada vez mais projetos de pesquisa e cientistas dedicados à área de biocombustíveis no País, o que fez desse um tema muito mais relevante para a ciência brasileira do que para a de outros países”, afirma Dante Cid, diretor de operações da Elsevier para a América do Sul.
Produção científica em biocombustíveis
De olho no potencial que o País possui, empresas estrangeiras anunciam grandes negócios por aqui. No dia 3 de novembro, a Monsanto, multinacional americana de biotecnologia, adquiriu a CanaVialis e a Allelyx. As empresas pertenciam ao Grupo Votorantim e são líderes mundiais em pesquisa genética e melhoramento de cana de-açúcar. A transação foi concretizada após 30 horas de reunião por US$ 290 milhões (R$ 616 milhões) pagos nas duas companhias.

O professor Expedito Parente, detentor da primeira patente mundial de biodiesel e presidente da Tecbio, conta que a tecnologia estreou no mundo em 1977, mas só foi patenteada e reconhecida em 1980 por meio de pesquisas comandadas por ele. “A tecnologia ficou parada por dez anos porque não havia motivação. Só em 1991, o biodiesel foi ressuscitado na Alemanha e Áustria por causa da busca por fontes renováveis”, lembra.

De lá para cá muita coisa mudou. O “pai” do biodiesel explica que três motivos amparam a popularização dos biocombustíveis: as questões ambiental, social e estratégica. No momento, Parente pesquisa um método de produzir o bioquerosene de aviação, em um projeto em parceria com a Boeing e a Nasa.

No Ceará, o Núcleo de Tecnologia Industrial do estado (Nutec),  um dos berços do biodiesel nacional, deve investir R$ 9,8 milhões em seis projetos de energia para os próximos dois anos. Ricardo Mendes, diretor do instituto, destaca o crescimento no volume dos estudos. “Os projetos desenvolvidos abrangem pesquisas que vão desde a análise de matérias-primas aos processos de produção”.

Roel Collier, diretor geral da Amyris Crystalsev Biocombustíveis, vai além e diz que, atualmente, os biocombustíveis representam um dos pilares para o desenvolvimento. Para o executivo, o Brasil está na frente no que diz respeito ao etanol de cana e a toda a infra-estrutura do sistema. “Mas o etanol não será o principal produto no futuro. Outros derivados dessa matéria-prima devem surgir com o tempo”. A companhia planeja colocar em funcionamento a partir de 2009 sua primeira planta para produzir diesel de cana-de-açúcar por meio de fermentação. “Não conhecemos nenhuma fonte de carbono abundante como essa”, afirma.

Até mesmo a Cosan, líder do setor sucroalcooleiro, está investindo no desenvolvimento de leveduras transgênicas capazes de transformar a cana em biobutanol, um biocombustível de nova geração com 20% mais energia que o etanol.

Biodiesel


Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, afirma que há muitas pesquisas com novas matérias-primas também para o biodiesel, mas que, no momento, “a melhor opção agora em termos de custo, produção e estrutura é a soja”. Segundo ele, a oleaginosa possui a seu favor um ciclo de produção relativamente curto e vasto conhecimento da cultura. Para os próximos 10 ou 15 anos, ele acredita que a palma (que produz o dendê) e as algas são ótimas opções. O desafio das pesquisas é diminuir os custos.

Roberto Tenório e Luiz Silveira