Programa de biodiesel do RN trava
O Programa de Agroenergia, que tem o poder de catapultar a agricultura familiar e a produção de biocombustíveis do Rio Grande do Norte, esbarrou numa série de gargalos e viu sua meta de cultivar 28 mil hectares com algodão e girassol, traçada em fevereiro - quando estreou - literalmente ir por água abaixo. Apenas 9 mil hectares, do total esperado, conseguiram ser plantados. O resultado, segundo o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), foi fortemente influenciado por fatores como chuvas, falta de maquinário no tempo certo e também descrença do agricultor, lá no campo, o que espera-se ver revertido quando os ‘‘descrentes’’ virem os preços conseguidos na safra, remunerando. Conseguir números precisos sobre os resultados do programa com essas mesmas instituições não foi, porém, missão possível de realizar.
Emparn e Emater, que disseram que a meta traçada era chegar a ‘‘ousada’’ marca de 23 mil hectares entre algodão e girassol, dispõem de relatórios com números distintos, levando a impressões diferenciadas sobre o programa. Segundo o presidente da Emparn, Henrique Santana, 7 mil hectares - 6 mil de girassol e 1 mil de algodão - conseguiram ser cultivados, o que não considerou, porém, negativo. ‘‘A meta que traçamos foi muito otimista e ter plantado 7 mil ha não é um resultado pessimista. Acho que foi uma grande vitória porque esses 7 mil iniciam um ciclo virtuoso de produção. Trará para os agricultores uma nova esperança de produzir uma cultura que deu retorno mínimo por quilo. O agricultor que plantou, vai vender e conseguir comprar uma camisa nova. O que não plantou vai ver os resultados que vieram para o compadre e vai se estimular também’’, aposta.
Segundo dados fornecidos pelo presidente da Emater, Luiz Cláudio Macedo, o desempenho do programa foi, porém, melhor que isso. Dos 23 mil hectares, dos quais esperava-se que ‘‘13 mil fossem cultivados com girassol e 10 mil com algodão’’, 5 mil de girassol teriam sido plantados, entre outros motivos, por ser uma cultura nova no RN e ainda sofrer com a resistência do agricultor. ‘‘Mas a meta do algodão foi cumprida’’, garantiu ele, por telefone.
BARREIRAS
Muitos gargalos teriam jogado contra o cumprimento das metas. As fortes chuvas que atingiram o estado em abril acabaram sendo um dos principais na lista. ‘‘No Baixo Assu e no Baixo Apodi, por exemplo, as cheias chegaram a comprometer até 100% de áreas plantadas’’, diz o coordenador do Programa de Sementes e Mudas da Secretaria de Agricultura, Antônio Carlos Magalhães.
A Secretaria ficou responsável por coordenar o programa. Foi nela que a reportagem encontrou os dados levados em conta como oficiais: meta de plantar 28 mil hectares, mas apenas 9 mil atingidos - 4 mil de girassol e 5 mil de algodão. ‘‘A meta era chegar a 13 mil e 15 mil (respectivamente)’’, frisa ainda Magalhães, acrescentando que as chuvas se somaram a outros fatores - que acabaram encolhendo os números.
Além de destruirem plantações, as cheias também impediram o cultivo em algumas áreas do estado, onde os acessos às propriedades ficaram comprometidos, diz Luiz Cláudio Macedo, da Emater. Ele lista ainda como barreira à meta a falta de infra-estrutura de mecanização, ou seja, de plantadeiras adequadas e tratores suficientes quando começaram as primeiras chuvas.
Para Santana, da Emparn, o maior problema no caminho do programa é a descrença do agricultor, puxada pela mamona. ‘‘No passado estimulou-se o plantio, o agricultor colheu e não tinha a quem vender. Perdeu dinheiro e ficou descrente com as políticas públicas’’. Além disso, ele diz que alguns ficaram sem acesso a crédito por estarem inadimplentes com os bancos, outros resistiram às novas tecnologias, a obedecer as direrizes da pesquisa, a orientação da extensão rural. ‘‘Não deu tempo de o agricultor aprender as técnicas culturais necessárias, de ele se convencer, por exemplo, de que é preciso colocar, em vez de meio quilo, um quilo e meio de adubo. Muitos querem continuar plantando do jeito que aprenderam com o pai, com o avô’’, observa.
No caso do algodão que, segundo números apresentados por ele, teria atingido área muito inferior ao girassol, o problema não foi o bicudo, que no passado acabou enterrando a cultura, mas hoje já seria ‘‘uma página virada’’. Mesmo com preço mínimo garantido pelo programa e o biodiesel para abrir novas perspectivas de mercado, ‘‘os agricultores não acreditaram na revitalização por medo de não conseguir preço justo de comercialização. ‘‘Mas vamos insistir na cultura. Tenho certeza de que quando ele colher e vender a R$ 1,30, o preço garantido pelo governo, vai se animar e no ano que vem vamos ter um retorno significativo na produção’’, acrescenta o presidente da Emparn.
Renata Moura, da equipe do O Poti