Petrobras cria diretoria para tratar de etanol e biodiesel
O engenheiro Alan Kardec Pinto foi o escolhido para assumir a nova diretoria de Biocombustíveis cuja criação deverá ser sacramentada na próxima quinta-feira pelo Conselho de Administração da Petrobras. A nomeação, indesejada pelo PT, que preferia o executivo na Diretoria de Abastecimento da estatal, foi sacramentada na última semana, no bojo das articulações para acomodar nomes do PMDB na empresa.
Liderados pelo governador da Bahia, Jacques Wagner, os petistas ainda vão tentar uma cartada final para transformar Kardec em diretor de Abastecimento. Para isso, já teriam até aceitado sacrificar Guilherme Estrella, atual diretor de Exploração e Produção e um dos fundadores do PT, que cederia a vaga para o atual titular do Abastecimento, Paulo Roberto Costa.
Pela configuração definida na última semana, porém, a única mudança acertada seria a criação da diretoria de Biocombustíveis. Tanto Estrella quanto Costa deverão permanecer em seus lugares atuais. A situação que ainda permanece incerta é a do diretor da Área Internacional, Nestor Cerveró, cuja cadeira tem sido alvo de cobiça do PMDB da Câmara há pelo menos um ano.
Articulada pelos deputados Fernando Diniz (MG) e Eduardo Cunha (RJ), que querem Jorge Zelada no lugar de Cerveró, a mudança não agrada, a princípio, à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas pode ocorrer na ciranda de negociações com o principal partido da base aliada. Além de Dilma e do senador petista Delcidio do Amaral Gomes, Cerveró conta a seu favor, curiosamente, com o apoio dos pemedebistas do Senado - aí incluídos os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP).
Esta semana promete ser agitada nos corredores da Petrobras, principalmente nos dias que vão anteceder a reunião de quinta-feira do conselho da empresa. Nos próximos três dias, o grupo ligado a Jacques Wagner - que também inclui outros governadores do Nordeste - promete fazer carga pesada sobre o articulador do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio. A intenção é reverter a indicação de Kardec para a diretoria de Biocombustíveis, considerada uma espécie de prêmio de consolação pelo partido.
Qualquer que seja o destino de Kardec, no entanto, um interlocutor do PMDB avalia que a nomeação do executivo para a diretoria de Biocombustíveis deverá, por si só, criar um mal-estar no primeiro escalão da estatal. Essa mesma fonte lembra que, em 2006, quando ocupava o posto de gerente executivo de Refino da Diretoria de Abastecimento, o executivo protagonizou um desentendimento com Paulo Roberto Costa. Segundo fontes internas da companhia, Costa o teria demitido por avaliar que Kardec teria articulado sua própria indicação para a diretoria de Abastecimento, quando o executivo ainda convalescia de uma enfermidade que quase o levou à morte.
A pedido dos próprios petistas, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli decidiu manter Kardec na companhia, ao acomodá-lo na presidência da estatal, como uma espécie de assessor pessoal. Mesmo que não venha ocupar o cargo de Costa, que tem apoio do PMDB, Kardec terá que conviver pelos próximos anos com o desafeto.
Em termos técnicos, caberá a Kardec dar seguimento aos investimentos da empresa em projetos de etanol e biodiesel. Atualmente sob o comando de Costa, tais projetos envolvem não só a construção de usinas de etanol para exportação, em parceria com a iniciativa privada, como também a implementação do primeiro álcoolduto do mundo, em parceria com a Camargo Corrêa e a trading japonesa Mitsui. Também ficarão sob a responsabilidade de Kardec os investimentos na cadeia do biodiesel.
Ricardo Rego Monteiro