Nova matriz energética está plantada nos campos
O grande potencial do Brasil para a produção de biocombustíveis levou o País a ser convidado para uma reunião da poderosa Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), realizada recentemente na Arábia Saudita. Não é pouco e foi lembrando esse fato que o secretário de Petróleo, Gás e Combustíveis do Ministério das Minas e Energia, José Lima, abriu o terceiro bloco de palestras, destacando a importância dos biocombustíveis como matriz energética de grande viabilidade.
Na opinião dele, a capacidade do Brasil gerar energia através de fontes renováveis é o principal motivo de o Brasil ser conduzido à Opep, e não necessariamente a posição de destaque que o País ocupa em termos de produção petrolífera. “Temos recebido equipes técnicas de várias partes do mundo para saber mais sobre a tecnologia empregada. Por que esse interesse? Porque temos a melhor matriz energética em termos de renovabilidade”. A combinação dos fatores sol (que gera calor) e abundância de áreas agricultáveis contribui para a produção dos biocombustíveis em solo brasileiro.
Para embasar o posicionamento em relação à viabilidade técnica dos combustíveis originados de fontes renováveis, José Lima destacou a tecnologia genuinamente brasileira de veículos do tipo “flex”, movidos a álcool e gasolina, e o crescimento da produção e venda desses modelos. De 2003 a 2008, mais de cinco milhões de carros vendidos no Brasil rodam com os dois combustíveis.
No ano passado, 86% dos veículos comercializados são “flex”, com ênfase para as vendas realizadas no mês de dezembro. Dez montadoras instaladas no Brasil produzem pelo menos 100 modelos diferentes, que têm em comum a capacidade de funcionar a álcool e gasolina. Mesmo diante dessa realidade, o Brasil é acusado pelos países desenvolvidos de ser um dos responsáveis pela crise mundial de alimentos. “O governo chamou quase todos os países do mundo para desmistificar esses equívocos. Em novembro de 2008, será realizado um amplo evento sobre biocombustíveis”.
O secretário enfatisa que a intenção do encontro será mostrar que a produção de biocombustíveis favorece a segurança alimentar, ao estruturar e desenvolver a agricultura, gerando renda de forma sustentada; ao mesmo tempo em que contribui para mitigar os efeitos climáticos, por ser muito menos poluente do que os combustíveis fósseis. Durante a palestra, ele mostrou números que reforçam essa tese.
“O Brasil expandiu 36% da área plantada e quase triplicou sua produção agrícola”, compara. José Lima acredita que a produção de grãos para alimentos cresceu proporcionalmente à oferta de grãos para biocombustíveis. Quando ele fala em matriz energética renovável, não se refere apenas ao plantio de cana para produção do etanol (o álcool para combustíveis, que no Rio Grande do Norte gera 50 milhões de litros por ano, produção muito abaixo do consumo, estimado em 137 milhões de litros por ano.
No contexto das políticas brasileiras para produção de combustíveis renováveis, o secretário destacou a produção do biodiesel e a legislação que obriga a composição do diesel mineral com óleo vegetal. Através da lei federal 11.097/2005, nos dois primeiros anos, a mistura era facultativa. Depois passou a ser obrigatória, para 2%, e a partir de 2013, deve compor 5% do diesel.
O grande desafio proposto pelo palestrante, no que diz respeito ao RN, é o plantio de oleaginosas para geração do biodiesel em áreas utilizadas para o plantio da cana, durante o período de rotação (pausa recomenda para evitar perda de nutrientes do solo).
“Se for utilizada somente 20% da área plantada para produção de etanol, seriam gerados 3,6 milhões de litros por ano de biodiesel, ou seja, 335 da demanda somente com a rotação da cana”.
No entanto, José Lima destacou que a proposta é apenas uma sugestão que deve ser estudada com rigor. Quando se referiu a pesquisas, ele citou que o relacionamento entre a Petrobrás e a UFRN foi adotado pela empresa como modelo para outras universidades.
Greenpeace vê potencial de energia saudável no RN
Ricardo Baitelo, professor e pesquisador de fontes de energia renóvavel, representante do Greenpeace, fechou o ciclo de palestras no seminário sobre “Energia”, ontem, dentro do projeto “Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte”. Para ele, as fontes de energia eólica e solar, que apresentam mínimos impactos ao meio ambiente, constituem o grande potencial para o desenvolvimento energético sustentável do Brasil.
Baitelo confirmou a tendência – registrada ao longo de outras palestra do evento – de ressaltar a energia eólica como a grande via para o futuro, falando da importância dos ventos alíseos que caracterizam a faixa que se estende do Rio Grande do Norte ao Ceará.
Para cumprir a meta estabelecida pelo G8 – os países desenvolvidos que se reuniram recentemente para debater a sustentabilidade do planeta – é necessário priorizar a produção e a utilização de fontes renováveis de energia e reduzir em 50% a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera. “As alterações climáticas nos últimos 150 anos foram responsáveis pelo aumento de pelo menos 2ºC na temperatura. A campanha de energias renováveis do Greepeace mostra que é possível cumprir a meta de redução de emissão de gás carbônico”, destacou Baitelo.
Ao contrário dos países desenvolvidos, cuja predominância dos gases poluentes é originada dos veículos, o Brasil lança CO2 em maior quantidade devido ao desmatamento e pela utilização de pesticidas no uso do solo. Diante dessa “realidade dramática”, o pesquisador não considera segura o estímulo à produção de biocombustíveis. “Temo que haja implicações sociais, com remoção de pequenas agriculturas para regimes exploratórios e trabalho, além da possibilidade da conversão de áreas de florestas”, aponta.
Ele considera que a redução do passivo ambiental passa a existir se o biodiesel for produzido com óleo reciclado. “Mas isso demanda uma logística muito grande”. A energia nuclear também é condenada pelo pesquisador, que enxerga na geração de lixo atômico uma possibilidade mais latente do que predisse o ministro Edison Lobão, em sua palestra de abertura do seminário “Motores”.
“O custo é alto, Angra 3 vai custar R$ 8,5 bilhões, e o risco de impacto ambiental é muito grande e o risco de acidentes não é apenas coisa do passado, como disse o ministro”.