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Biodiesel

Motor a diesel menos poluente deverá atrasar


Valor Econômico - 28 nov 2007 - 16:45 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Uma das mais importantes etapas do programa de redução de poluentes de caminhões, prevista para janeiro de 2009, tende a sofrer atrasos. A Petrobras garante que conseguirá fornecer o diesel necessário aos novos motores. Mas os fabricantes de veículos argumentam que as especificações do óleo chegaram com dois anos de atraso.

O diferencial nessa nova etapa do programa que começou a reduzir o teor de enxofre do diesel em 1993 é que os motores exigem uma tecnologia muito mais avançada e só funcionarão com um tipo de combustível especial ainda não disponível no mercado brasileiro.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determinou que os caminhões fabricados a partir de 2009 terão que obedecer à nova norma, que se alinha aos atuais padrões de controle de emissões de poluentes na Europa.

O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse ontem que a estatal estará pronta para suprir a demanda se os novos motores estiverem de fato prontos. “Não haverá benefício nenhum se a frota não estiver adequada para receber o novo combustível”, declarou.

Segundo Costa, a Petrobras vem se preparando há três anos, com investimentos que somam R$ 9 bilhões entre 2008 e 2012 para a construção de 12 unidades de tratamento de combustível nas refinarias.

O diesel que atende à próxima etapa do Conama é o chamado 50 ppm (partes por milhão). Na maior parte do país o diesel disponível é o 2 mil ppm e nas principais regiões metropolitanas o nível cai para 500 ppm. Costa lembrou que em 2010 a demanda de diesel chegará a 41% do total do consumo de combustíveis no país.

A indústria automobilística conhece a nova tecnologia porque já oferece caminhões menos poluentes nos seus países de origem. Mas argumenta que conhecer as especificidades do produto com antecedência para adequar a tecnologia à realidade brasileira.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marco Saltini, lembrou da existência da lei federal 8.723, que dá amparo ao programa, e que determinou que as especificações do combustível deveriam chegar 36 meses antes do início da nova etapa. No entanto, a resolução da Agência Nacional de Petróleo (ANP) só foi divulgada no dia 16 de outubro. Isso significa que se a regra for seguida à risca, a nova etapa do programa só entraria em vigor em novembro de 2010.

“Esse atraso não nos impede, porém, de buscarmos uma solução negociada entre as partes”, afirmou Saltini. “O importante é não criarmos confronto numa questão que envolve o meio ambiente”, completou.

A preocupação de cada parte envolvida é não ser responsabilizada por qualquer demora num programa que nunca sofreu atrasos. Desta vez, o tema ambiental, uma das principais discussões em todo o planeta, pesa mais.

Instituído pelo Conama, o Programa de Controle de Poluição do Ar por VeículosAutomotores (Proconve) foi criado em 1986. Em 1989 a Petrobras tirou o chumbo da gasolina e em 1992 foi lançado o diesel metropolitano. Em 2005 lançou o diesel de 500 ppm nas regiões metropolitanas.

No início da década de 90 o teor de enxofre do diesel era de 13 mil ppms. Nessa nova etapa para veículos de carga, chamada de Proconve 6, prevê a instalação no caminhões de um sistema de póstratamento dos gases do escapamento à base de uréia.

Isso significa que o fabricante do caminhão precisa colocar um reservatório adicional de uréia, um derivado petroquímico. No veículo a função dessa uréia é limpar o filtro das partículas que vão se acumulando.

O pacote de inovações tecnológicas representaria um incremento de preço em torno de15% novalor total do caminhão. Essa questão também preocupa a indústria. Na mais recente etapa de redução de emissões, a passagem do Proconve 4 para 5 também houve aumento de preços de 15% por conta da instalação de motores eletrônicos. Isso fez com que os frotistas, principais clientes da indústria automobilística, antecipassem as compras na véspera da mudança.

A polêmica envolve ainda os postos de combustíveis. Com a chegada do novo diesel esses estabelecimentos terão que fazer investimentos adicionais em bombas e tanques. Os caminhões novos terão que ser abastecidos em bombas exclusivas. A indústria alerta que não pode haver misturas com o diesel com maior teor de enxofre. Isso causaria não apenas emissão de mais poluentes como danificaria as peças dos novos motores.

Há 14 mil postos de combustíveis em todo o país. Para que a nova etapa funcione todos precisam aderir, já que o transporte de carga envolve uma logística que se espalha num país de dimensões continentais. “Não é competência da Petrobras fazer com que o dono do posto faça esses investimentos”, afirmou Costa. “Não adianta tapar o sol com a peneira; se a sociedade quer reduzir a emissão de poluentes, precisa exigir o novo motor e a fiscalização dos Estados e Municípios”, disse.

André Vieira e Marli Olmos

Nova regra não atinge frota antiga

O Brasil tem 2 milhões de caminhões com idade média de 19 anos. Mas o programa de redução de emissões de poluentes só se aplica aos veículos novos. Há anos o governo ensaia a adoção da inspeção, uma forma de forçar a manutenção e renovação da frota.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marco Saltini, lembra que os veículos mais velhos poluem cinco vezes mais que os zero-quilômetro.

Segundo seus cálculos, se 20 mil caminhões fabricados no início da década de 90, quando o programa começou, fossem retirados das estradas, o ganho em redução de poluentes seria equivalente à produção de caminhões de um ano inteiro dentro das novas regras. A indústria automobilística prevê a venda de 110 mil caminhões neste ano.

O dirigente mostra-se animado com a proposta do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de iniciar a inspeção veicular no município, onde circula a maior frota do país. O plano de Kassab prevê começar essa fiscalização com os caminhões, a partir de março de 2008, utilizando recursos do orçamento municipal.

O governo federal tem uma linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com juros mais baixos voltado à renovação da frota de caminhões, chamado Pró-Caminhoneiro. Mas os veículos mais antigos pertencem ao motorista autônomo, que não tem como conseguir comprovar às instituições financeiras — responsáveis pelo repasse da verba garantia de patrimônio, exceto o próprio caminhão.

Os engarrafamentos de veículos pesados pioram o quadro. “Os congestionamentos significam um maior volume de emissões de poluentes”, diz o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

“Quanto menor a velocidade no trânsito, maior a emissão”. A Petrobras negocia com o Ministério das Minas e Energia um plano para antecipar o uso do diesel 500 ppm (partículas por milhão), que já é vendido nas regiões metropolitanas desde 2005 em outras regiões do país. A idéia é fazer um escalonamento.

A indústria argumenta que de nada adianta o combustível menos poluentes ser vendido apenas nas áreas de maior circulação de veículos, já que a maior parte dos caminhões costuma cruzar todo o país para fazer as entregas.
Tags: Diesel