Leilões de biodiesel geram expectativa
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizará hoje e amanhã dois leilões de venda de biodiesel cercados de expectativa. Serão as duas primeiras rodadas depois da inauguração da unidade de produção do combustível da Petrobras Biocombustível, localizada em Candeias (BA). Ontem, até o fim do dia, no entanto, nem a estatal havia decidido se participaria dos leilões.
Se, por um lado, a presença da estatal aumenta a garantia de oferta de biodiesel no mercado, sua participação reforça o temor de que os preços recebidos pelas fornecedoras sejam baixos. "A participação da Petrobras agora não faz muito sentido, a não ser que ela queira puxar o preço para baixo", diz Odacir Klein, presidente executivo da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio).
O biodiesel brasileiro é altamente dependente da soja, matéria-prima que viveu momentos de preços recordes durante o segundo trimestre deste ano. Com a soja mais cara, a margem para as produtoras do combustível ficou mais apertada. Esse cenário forçou a inadimplência na entrega.
Alisio Mendes Vaz, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), estima que 30% do volume arrematado para abastecer o mercado no terceiro trimestre não foi entregue. Ainda assim, a situação está "sob controle", segundo ele. "O momento mais crítico ocorreu entre maio e junho", diz.
O terceiro trimestre coincidiu com a elevação, de 2% para 3%, da mistura obrigatória do biodiesel no diesel convencional. Mesmo com o aumento, o nível de inadimplência caiu um pouco. Sem fornecer maiores detalhes, Edson Silva, superintendente de abastecimento da ANP, afirma que as entregas melhoraram depois da obrigatoriedade do B3.
"Fizemos um estudo comparando o período de abastecimento de B3 com o de abastecimento do B2, tomando o número igual de semanas em um período igual. A oferta de B3 é maior que a de B2. Portanto, o índice de adimplência do B3 está sendo maior que o de B2", disse. "Mas tem uma diferença: no B2, você tinha uma empresa só, a Brasil Ecodiesel, que controlava mais de 42% da oferta, coisa que não acontece agora com o B3".
Entre as punições previstas para as empresas que deixam de entregar o biodiesel arrematado nos leilões está o impedimento de participação nas rodadas seguintes. Isso não tem ocorrido. Segundo a ANP, 57 usinas estão habilitadas para os leilões de hoje e amanhã.
A agência informa que só pode excluir as fabricantes quando recebe notificação da Petrobras, mas esses informes não têm sido apresentados. A Petrobras Biocombustível vai inaugurar no dia 20 sua segunda unidade de produção de biodiesel, localizada em Quixadá (CE). Procurada, a Petrobras preferiu não conceder entrevista.
Patrick Cruz e Rafael Rosas, de São Paulo e do Rio