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Biodiesel

Indonésia faz acordo para etanol, mas barreira à carne segue firme


Valor Econômico - 16 jul 2008 - 05:42 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

A rápida visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Indonésia, no sábado, resultou em um acordo de cooperação em etanol, mas não aliviou a barreira dos asiáticos contra a carne bovina brasileira, o principal tema hoje na pauta de comércio bilateral.

Os frigoríficos Bertin e JBS-Friboi assinaram contrato de abastecimento de carne halal com a Dekopin, grupo de mais de 100 mil cooperativas da Indonésia, na frente do presidente Lula e do ministro de Agricultura daquele país, Anton Apriyantono, no encerramento de um seminário sobre a economia dos dois países, em um elegante hotel da capital.

Mas isso só demonstra a impaciência de exportadores e importadores. Na prática, o mercado continua fechado. Logo após a assinatura do acordo, o ministro Apriyantono, caminhando um pouco atrás do presidente Lula, disse ao que o

Valor sinal verde para a carne brasileira “vai demorar meses”. Ele alegou que o Brasil “precisa estar totalmente livre de febre aftosa”, confirmando que a Indonésia não aceita o principio da regionalização sanitária, pelo qual o importador admite receber carne de áreas livres da doença, como ocorre com boa parte dos países.

A expectativa de Bertin e JBSFriboi era poder exportar antes do Ramadã, em setembro, quando o consumo aumenta bastante. Trouxeram a Jacarta inclusive um representante da federação islâmica de São Paulo para garantir que o abate é feito em conformidade com a religião muçulmana.

Está em jogo um negócio de mais de US$ 300 milhões/ano. A Indonésia consumiu 396 mil toneladas de carne bovina em 2007, 30% do total importado de Austrália, Nova Zelândia e Canadá. Na semana passada, Jacarta proibiu a entrada da carne neo-zelandesa, alegando que o certificado de carne halal tem de vir em inglês e indonésio — o que foi interpretado como puro protecionismo.

O presidente Lula não mencionou publicamente uma só vez o termo “carne” na visita, mas foi pródigo em sua campanha para transformar o etanol em commodity mundial. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, admitiu o pouco impacto do acordo bilateral de cooperação emetanol, notando que a Indonésia sequer sabe quando — e se — vai misturar o produto na gasolina.

Mas o acordo é politicamente sensível, porque pode misturar na opinião pública o etanol brasileiro com o óleo de palma indonésio, fonte importante para biodiesel. Se o etanol brasileiro pode ser submetido a critérios de sustentabilidade ambiental na Europa, o biodiesel de óleo de palma está excluído por causa da concorrência com produção agrícola e destruição da floresta.

Lula defendeu os biocombustíveis das acusações de causar a alta dos alimentos, acusou a especulação no mercado de petróleo, voltou a defender uma reforma no sistema financeiro internacional e conclamou a Indonésia a atuar em conjunto com o Brasil porque, caso contrário, “corremos o risco de que nos passem uma conta pela qual não somos responsáveis”.

Em sintonia com o governo da Indonésia, Lula conclamou — “por favor” — aos países ricos que não peçam para os países em desenvolvimento deixarem de crescer, com exigências de duras metas de redução de emissões de gases de efeito-estufa. E terminou afirmando que o Brasil não tem nem terá crise de energia “no curto prazo”. E depois de falarem muito de etanol e crise alimentar, Lula e o presidente indonésio Susilo Bambang Yudhoyono subiram num carrinho elétrico e foram para o banquete no outro lado do palácio presidencial, no centro de Jacarta.

Assis Moreira, de Jacarta (Indonésia)