Agricultura familiar: resultado amargo
O recém-divulgado balanço da Brasil Ecodiesel, referente ao segundo trimestre, é revelador. Demonstra o quão amargos são os dias da empresa. O prejuízo subiu 495%. Isso mesmo. Atingiu R$ 82,5 milhões. Houve queda nas vendas, usinas paradas e provisões para perdas diversas. As vendas não conseguiram cobrir nem sequer o custo de produção do período, de R$ 58,9 milhões. Pesou muito a alta no preço da soja, principal matéria-prima da empresa. Paga o pato pela extrema dependência da soja para produção de biodiesel. Ao lançar ações na Bovespa, a empresa falava em usar matérias-primas alternativas, como mamona, girassol e, no longo prazo, pinhão manso.
Em Crateús, a 401 km de Fortaleza, a Brasil Ecodiesel possui uma usina esmagadora e a fábrica de produção de biodiesel, instaladas em dezembro de 2006. Um investimento de R$ 20 milhões, que resultaria na produção anual de 118 mil metros cúbicos do combustível renovável - uma das maiores do País.
Em tempo: de acordo com Júnior Ruiz Garcia (doutorando de Desenvolvimento Econômico, IE/Unicamp), na sua dissertação de mestrado com o titulo " O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel Brasileiro e a Agricultura Familiar na região Nordeste (PNPB)", os resultados alcançados apontam para um cenário pessimista quanto à inserção dos agricultores familiares do Nordeste no agronegócio do biodiesel, por causa do descaso verificado no âmbito do PNPB no que se refere à competitividade econômica. Apesar dos subsídios, o preço de venda pelo produtor, mal cobre as despesas de custeio de produção.
Ele adverte que, ao preço de referência de R$ 2,62 por litro da Agência Nacional de Petróleo (ANP), entregue na porta da Petrobras, o biodiesel produzido a partir da mamona na atual conjuntura mostra ser inviável, havendo a necessidade de aplicar elevados subsídios na equalização dos preços, num momento em que o biodiesel a partir da soja mostra ser mais sustentável. Lembra que as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste vêm expandindo a oferta de biodiesel para atender à demanda da ANP, diferente do que se observa no Nordeste que não vem conseguindo se aproximar da meta estabelecida de produzir 1.119 mil toneladas de bagas para produção de 525 mil litros de biodiesel de mamona. A rigor, indústria e agricultura familiar estariam evoluindo em ritmos incompatíveis.
Jocélio Leal