Entregas de biodiesel chegam ao melhor nível desde o início do ano
Depois dos percalços do mercado de biodiesel em julho, quando passou a ser obrigatória a mistura de 3% no diesel convencional, as entregas do combustível pelos fabricantes atingiram em agosto o maior patamar desde janeiro, mês em que a mistura passou a ser compulsória. Na semana encerrada em 24 de agosto, as entregas chegaram a 68,3%. No primeiro semestre, quando ainda vigorava a adição de apenas 2%, a média das entregas foi de cerca de 60%, segundo Edson Silva, superintende de abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Ainda que os problemas nas entregas persistam, Silva avalia o desempenho como positivo. "Julho foi um mês muito ruim. O mercado melhorou em agosto", disse ele em São Paulo nesta quinta-feira, no encerramento do Biodiesel Congress. Dos 193,38 milhões de litros que deveriam ter sido entregues até o último dia 24, 132,12 milhões foram efetivamente entregues.
A disparada do preço do óleo até junho, em particular do de soja, base da maior parte da produção brasileira de biodiesel, interrompeu as atividades de muitas fabricantes. Estas, por sua vez, argumentam que as entregas não são maiores porque a Petrobras deixa de retirar o combustível nas usinas. "Ainda há um terreno cinzento nessa questão", diz o superintendente. Segundo ele, a Petrobras rebate o argumento das fabricantes ao dizer que elas não têm produzido o volume total arrematado nos leilões. "Fica um jogo de empurra. As partes precisam entrar em acordo".
Outro ponto ainda pouco claro no mercado é sobre as punições às empresas que deixam de entregar o biodiesel. Segundo Silva, a ANP notifica a Petrobras quando as entregas deixam de ser feitas. A Petrobras, por sua vez, é que precisa notificar a agência sobre a necessidade de punição.
Por mais que a inadimplência nas entregas tenha sido um dos maiores problemas no mercado em 2008, apenas duas empresas, BioCamp e Binatural, foram efetivamente excluídas de um leilão de venda, de acordo com o superintendente. Ambas já cumpriram a punição e puderam voltar a participar das rodadas realizadas pela ANP. Sete empresas foram notificadas por inadimplência.
A agência só faz a notificação quando as entregas são de até 50% do arrematado pela fabricante nos leilões de venda. Na prática, as produtoras de biodiesel podem entregar apenas 51% do acertado no leilão que, ainda assim, não serão punidas. "Mas isso não ocorre. Além disso, há empresas que antecipam entregas. Em vez de entregar 100%, entregam 130%", diz. Isso, segundo Silva, ajuda a explicar por que a Petrobras realizou um leilão de estoques de 100 milhões de litros, mas comprou, até o momento, 53 milhões. "É sinal de que ela ainda não precisou dos outros 47 milhões", afirma o superintendente.
Patrick Cruz - Valor Econômico
Entregas de biodiesel
Gazeta MercantilAté ontem, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) havia notificado a Petrobras sobre a inadimplência acima de 50% de sete empresas, segundo Edson Silva, superintendente de Abastecimento da agência. "Já adotamos todos os procedimentos que poderíamos. Notificamos a Petrobras, como determinam as regras dos leilões. Estamos aguardando as decisões comerciais entre as partes", justifica Silva.
A Brasil Ecodiesel, a maior empresa do setor no País, não entrega regularmente biodiesel desde abril deste ano, mas continua participando dos leilões. Nos últimos dois, realizados em 14 e 15 de agosto, a companhia foi a que mais arrematou contratos: 21,2% dos 330 milhões de litros arrematados. A companhia informou por meio de nota que, com a renegociação de suas dívidas de curto prazo e com a retomada de crédito para capital de giro, conseguiu reestabelecer o ritmo "normal" de sua produção industrial.
Até 24 de agosto, tinham sido entregues 132 milhões de litros do biocombustível à Petrobras, referentes aos leilões nº 8 e 9, volume que deveria estar em 193,3 milhões. Até o final de setembro, mais 198 milhões de litros devem ser entregues. Em novembro do ano passado, quando ocorreram os leilões de venda de biodiesel para entrega em janeiro de 2008, já com no início do Programa Nacional de Biodiesel, o litro do biodiesel foi vendido, em média, a R$ 1,86 nas ofertas públicas realizadas pela ANP. O preço do óleo de soja já estava mais alto, em torno de R$ 2,39 o litro no mercado interno. Daí em diante, esse valor só aumentou, atingindo em março o patamar de R$ 3,18.
Mas, apesar de hoje os preços estarem agora estarem mais atrativos, Miguel Biegai alerta para a perspectiva de elevação da cotação dos óleos. "Há cerca de duas semanas, as usinas que arremataram o biodiesel por R$ 2,60 o litro, estavam comprando o óleo de soja por R$ 1,90 o litro e com um custo de mais R$ 0,30, resultando em um lucro de R$ 0,40 por litro. Agora, a situação já está sendo invertida, porque o preço do óleo está reagindo", diz Biegai.
Fabiana Batista - Gazeta Mercantil