Cultivo de oleaginosas é ideal para os pequenos
O potencial de produção de oleaginosas em pequenas propriedades ainda é pouco explorado no Brasil. Segundo dados da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, dos 4,1 milhões de propriedades baseadas neste tipo de agricultura, apenas cerca de 100 mil estão inseridas na cadeia produtiva de agrobiocombustíveis. Ainda não existem dados do Triângulo Mineiro no levantamento.
Em Uberlândia, Congresso discutiu o cenário mundial dos biocombustíveis. Nas palestras de ontem, o destaque foi o mercado brasileiro de bioenergia. De acordo com o coordenador do centro de agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, o futuro da produção de biocombustíveis está garantido e é baseado em três fatores.
O fator ambiental é o mais urgente: o combustível produzido a partir de vegetais não polui e é a melhor alternativa ao petróleo — deverá gradativamente substituí-lo. O segundo fator é o mercado: como a tendência do petróleo é ficar mais caro, os preços dos biocombustíveis serão cada vez mais competitivos. Por fim, o fator social, porque os pequenos agricultores poderão participar da cadeia produtiva. “O melhor da produção de oleaginosas para biodiesel é que tanto o grande quanto o pequeno têm seu lugar”, afirmou.
Rodrigues alertou que a produção de biocombustíveis é viável ao pequeno agricultor desde que ele esteja reunido em sistema de cooperativa ou associação com outros produtores. “É impossível ao pequeno produtor negociar com a indústria e sair ganhando. Ele sairia esmagado na comercialização”, disse o ex-ministro.
Segundo ele, uma das vantagens para a pequena produção é a variedade de espécies com as quais é possível produzir óleo combustível. Para o cerrado, Roberto Rodrigues destaca o cultivo de soja, mamona, algodão, amendoim, gergelim e girassol.
Ele avalia que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) tem cumprido o papel de regular o mercado de biocombustíveis, preestabelecendo preços e percentuais mínimos de mistura no diesel comum, promovendo leilões de compra de biodiesel para a Petrobras, além de monitorar a inserção dos novos combustíveis nos postos. “Enquanto o biodiesel não avança, é essencial haver a regulação, pois a competitividade ainda é baixa. Depois que alavancar, a tendência é que a ANP saia um pouco do cenário”, disse.
O percentual mínimo obrigatório de mistura de biocombustível ao diesel comum é de 3% desde junho deste ano e deverá chegar a 5% até 2013. A demanda atual do mercado é de cerca de 1 bilhão de litros de biodiesel ao ano e a perspectiva é que atinja 2,4 bilhões em cinco anos.
Algodão é a cultura mais viável para o cerrado
Segundo Napoleão Beltrão, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a cultura oleaginosa ideal para o cerrado é o algodão, já que a região responde por 84% da produção algodoeira do País e detém a mais alta produtividade do mundo em áreas não irrigadas. Além disso, as técnicas agrícolas necessárias para o cultivo já são dominadas pelos pequenos agricultores da região e o clima é favorável à produção.
Ele afirmou que o cultivo do algodão é rentável ao pequeno produtor pelos três subprodutos: a fibra, o óleo e a torta — utilizada como ração animal no lugar do farelo de soja.
As sementes comuns de algodão têm entre 11% e 14% de óleo, mas a Embrapa desenvolveu a BRS Aroeira, que rende 27% de óleo e já está disponível no mercado. A produtividade média do algodão é de 600 a 650 litros de biocombustível por hectare plantado. O preço médio, de acordo com Beltrão, é de cerca de R$ 1,5 mil por hectare. “Como a semente é resultado de melhoramentos genéticos e a mão-de-obra utilizada pelo pequeno agricultor é a familiar, o maior gasto é com a semente. Por isso, o algodão é o cultivo ideal para este tipo de propriedade”, disse.
AGRICULTURA FAMILIAR
. 4,1 milhões de propriedades
. 13 milhões de trabalhadores
. 100 milhões de hectares
. 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional
Lygia Calil - Especial para o CORREIO