PUBLICIDADE
CREMER2025_novo CREMER2025_novo
Biodiesel

Especial CE: expectativa pela vinda da Petrobras


Diário do Nordeste - CE - 16 fev 2008 - 15:51 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

O andamento das obras da usina de fabricação de biodiesel em Quixadá impregna os produtores rurais da região de um clima de otimismo. Ao perceberem que o projeto começa a sair do papel e das palavras dos discursos políticos, cada vez mais agricultores se preparam para plantar mamona e girassol, tornando-se fornecedores do novo empreendimento que chega com a promessa de revolucionar a economia local.

De acordo com o secretário de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural de Quixadá, Ereni Lima Tavares, um em cada cinco produtores da região já estão cadastrados no programa de incentivos que foi formatado em parceria entre a prefeitura, o governo do Estado e a Petrobras. ´Temos cinco mil propriedades cadastradas, das quais mil devem ter plantio de mamona ou girassol´, detalha.

Ereni Lima revela uma meta para lá de ousada em 2008: atingir a marca de cinco mil hectares cobertos com mamona. Ou seja, ampliar a área ocupada com a semente em mais de dez vezes, com incentivos para todos os envolvidos.

Futuras instalações da Petrobras - Foto: Kiko Silva/Thiago Gaspar Apesar do apoio ter começado ainda em 2007, a naquele ano adesão foi pequena: foram dedicados ao plantio de mamona e de girassol apenas 105 hectares, todos oriundos de zonas de assentamentos. Outros 400 hectares receberam as oleaginosas, mas, por serem propriedades de finalidade comercial, não tiveram direito às vantagens do programa. No ano passado, o rol de incentivos concedidos era menor do que o projetado para 2008. Auxílio técnico para o preparo do solo, subsídio para a compra do adubo químico, empréstimo de tratores e concessão de sementes apareciam como as principais medidas, saindo ao custo de R$ 400 por cada hectare plantado, rateado em recursos dos cofres municipais e do BNB (Banco do Nordeste). Outro auxílio que deve ser ofertado é o transporte das sementes e das sacas colhidas nas propriedades locais.

Família de agricultores vive a poucos metros da nova usina

No quintal de Dona Maria do Carmo, o som dos homens trabalhando na construção da usina da Petrobras rivaliza com o das galinhas e cabras que ajudam a garantir o sustento de sua família. Da pequena propriedade de oito hectares, que se estende da rodovia principal que dá acesso à fábrica até os monolitos da paisagem do sertão central, a agricultora tem uma visão privilegiada do canteiro de obras do empreendimento que surge com a promessa de revolucionar o perfil econômico da região.

A proximidade de vizinha tão ilustre não teria como passar despercebida ao agricultor Sidiley Barbosa. Para este ano, a ordem é reservar um trecho da terra para plantar mamona, de olho no apetite da indústria. Mas a cautela típica do sertanejo, já calejado por promessas de melhoras no campo que nunca chegam, sobretudo para os que vivem castigados pelas mazelas da seca, faz com que a adesão ao plantio de oleaginosas seja gradual. ´Vamos fazer um primeiro teste. Se a terra der e o preço for bom, ai a gente planta mais´, planeja.

Com a proximidade da usina, o único temor é o de deixar a terra. ´Gosto daqui e é onde quero ficar para trabalhar com minha família´, diz.

Ernandes sonha em conseguir um emprego na nova fábrica

Instalações da Petrobras - Foto: Kiko Silva/Thiago GasparNão são apenas os trabalhadores rurais que já estão se preparando para interagir com a usina de biodiesel. A população das cidades que ficam em seu entorno também contam com uma oportunidade de geração de emprego e renda que venha a reboque do novo empreendimento.

Enquanto o prédio vai ganhando forma e os primeiros equipamentos vão sendo instalados, alguns jovens da região já procuram o local que receberá a usina da Petrobras para entregar currículos. Caso do técnico agrário Ernandes Fernandes, de 28 anos, que sonha em com o vínculo formal em uma atividade que já desempenhava: o acompanhamento técnico aos produtores do sertão.

Desempregado desde meados do ano passado, ele espera ingressar na companhia como agente de monitoramento. ´Quero poder acompanhar os produtores e orientá-los para conseguir a máxima produção no perfil adequado ao biodiesel´, planeja. Como o rumor de que a cidade receberia o equipamento vem desde sua adolescência, sua família encontrou brechas no orçamento apertado para mandar o filho fazer um curso na área, em Iguatu, por três anos. ´Tomara que chegue a hora de colher os resultados´, deseja.

Quem também enfrenta o sol escaldante do sertão em uma longa espera para conseguir uma ocupação é o marceneiro Francisco Evandro Castro. Para ele, trabalhar nas obras da usina ou mesmo em seu funcionamento é a chance dar adeus à instabilidade e à incerteza características de quem vive de ´fazer bicos´. Aos 31 anos, ele nunca soube o que é ter sua carteira assinada.

Ele relata que em Quixadá o clima é de grande expectativa pela entrada em funcionamento da indústria. ´A gente vive quase que obrigado a trabalhar no campo. Quem quer ficar na região sem ir para a roça, tem de achar alguma alternativa, e não são muitas. Com a fábrica, a gente vai ter mais oportunidades´, empolga-se.

LEÔNIDAS ALBUQUERQUE
Diário do nordeste