Especial CE: estímulo ao plantio de sementes
O Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) quer estimular a produção de sementes selecionadas nas áreas irrigadas do Nordeste, criando as bases para que a agricultura familiar, realizada majoritariamente em sistema de sequeiro, receba grãos de produtividade elevada.
Para os irrigantes, entrar neste filão representa a oportunidade de ganhos quase cinco vezes maiores do que os obtidos com a produção voltada para as usinas. Enquanto a baga usada é comercializada por R$ 0,70 o quilo, a selecionada para o plantio pode chegar à casa dos R$ 4 por quilo. ´É um novo mercado que surge e que certamente estará muito aquecido ao menos pelos próximos cinco anos´, avalia o diretor presidente do órgão, Elias Fernandes.
Em áreas irrigadas, a produtividade chega a 3 toneladas quilos por hectare, enquanto no sequeiro a média é de 700 quilos. Logo, confirmando-se a elevação no plantio das oleaginosas, haverá um acirramento na demanda pelas sementes.
O chefe do Centro de Ciências Agrárias da UFC (Universidade Federal do Ceará), Sebastião Medeiros, explica que a produção de sementes chega a envolver custos até 30% maiores que a de grãos. Alta mais do que compensada pelos preços que triplicam, em média, pelo produto final.
A necessidade de investimento se explica nas despesas com monitoramento técnico, beneficiamento e condicionamento dos produtos. ´Qualquer brasileiro ou estrangeiro está apto a produzir grãos. Mas apenas as pessoas autorizadas pelo Ministério da Agricultura podem trabalhar com o cultivo de sementes´, detalha.
FRASE
´É um novo mercado que surge e que certamente estará muito aquecido ao menos pelos próximos cinco anos´
Elias Fernandes
Diretor Presidente do Dnocs
E esta autorização não vem fácil, assegura o doutor em tecnologia de sementes. ´Todas as etapas, desde o plantio até a colheita, têm de ser analisadas e aprovadas´, diz.
Mas a agregação de valor por meio da produção de variedades com elevado potencial produtivo implica, conforme o especialista, plantio em áreas irrigadas. ´Quando há estiagem, o prejuízo sofrido é duplo. Em stress climático, as sementes perdem seu potencial reprodutivo e não podem se multiplicar´, explica.
No Ceará, estão previstas experiências nos perímetros irrigados de Tabuleiro de Russas, Pentecoste, Baixo Acaraú, Morada Nova, Icó e Várzea do Boi. Todas estas localidades, de acordo com Elias Fernandes, são submetidas a visitas periódicas, com 40 dias de intervalo, para avaliar o procedimento dos agricultores.

SDA quer plantio fora do zoneamento rural
A tímida adesão de produtores ao programa do biodiesel fez com que a SDA passasse a financiar produtores de municípios que ficaram de fora da área de zoneamento do cultivo da mamona, feito pelo Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O órgão federal havia apontado que apenas 81 localidades no Ceará dispunham das condições físicas necessárias para o cultivo, mas o governo do Estado já está aceitando a participação de agricultores de outros 50 municípios. A informação é do presidente da Fetraece (Federação dos Trabalhadores Rurais do Ceará), Moisés Braz Ricardo.A medida foi tomada como forma de inflar o número de agricultores participantes. Uma tentativa de assegurar produção em volume suficiente para a usina da Brasil Ecodiesel, que já opera em Crateús, e a da Petrobras, a entrar em operação em Quixadá no segundo trimestre deste ano.
Até o fim de janeiro, segundo o presidente da entidade, o número de produtores cadastrados estava em apenas 16 mil. ´Foi com a abertura para os novos municípios que o governou chegou perto da meta de 25 mil´, afirma Moisés Braz.
Um dos impedimentos para os produtores que estão nestas zonas é a tomada de empréstimos para o cultivo da mamona. A dificuldade, entretanto, é driblada pelo consórcio com o feijão. Ou seja, os produtores tomam empréstimos para produzir feijão, mas usam o dinheiro também para a mamona.
O titular da SDA (Secretaria do Desenvolvimento Agrário), Camilo Santana, rebate a análise de que a mudança foi feita para inflar os resultados do cadastramento. ´Estamos questionando o zoneamento feito pelo ministério porque discordamos da análise feita em algumas localidades. Certas variedades já conseguem resistir e dar bom resultados em condições distintas das previstas no zoneamento´, argumenta.
Para evitar que o produtor corra risco de inadequação do cultivo à realidade climática e do solo, há a exigência pela emissão de um laudo da Ematerce que ateste as condições da propriedade em receber as oleaginosas. Ainda de acordo com ele, apenas seis municípios não apontados pelo Mapa estão sendo contemplados pelas ações do governo. (LA)
FIQUE POR DENTRO
Como funciona o Zoneamento Agroclimático
Zoneamento Agrícola é determinar quais as regiões dentro do estado que apresentam as melhores condições climáticas para o desenvolvimento de uma cultura, levando-se em também em consideração as exigências bioclimáticas da planta.
O zoneamento também permite determinar a melhor época para semear em cada município, onde as fases mais críticas da cultura tenham um probabilidade menor de coincidirem com as adversidades climáticas tais como a falta de água no solo, temperaturas muito baixas ou muito elevadas, capazes de prejudicar as culturas.
O zoneamento é um processo dinâmico, pois constantemente surgem cultivares novas, com diferentes exigências climáticas, mais resistentes à doenças. Com isso, torna-se necessário readequar o zoneamento.
Uso do girassol é alternativa viável
Francisco Aélio usou os restos da safra para alimentar os animais (Foto: Kiko Silva)
O agricultor Francisco Aélio da Silva resolveu espalhar um pouco de amarelo por sua propriedade no ano passado. De olho na venda das sementes de girassol como ração de pássaros e antecipando a procura que seria gerada para a produção de oleaginosas, ele reservou parte de sua propriedade para a plantação das flores.
Como quase todo começo, a tentativa foi tímida. O terreno ocupado não chegava a meio hectare, mas o resultado gerou entusiasmo: a colheita do ano passado ficou em pouco mais de 250 quilos, que foram vendidos integralmente para os armazéns da região.
Mas se por um lado o novo mercado traz a segurança de que toda a produção gerada será absorvida, por outro submeter-se a um único comprador é correr o risco de ter de acatar uma posição um tanto desfavorável, de estabelecimento praticamente unilateral no preço.
Com a pulverização da comercialização, o item era vendido por, em média, R$ 1,20 o quilo, enquanto a remuneração paga pela usina ficava em R$ 0,60. Além disso, ele podia usar a torta, rica em proteínas, para alimentar seus animais.
No caso de seu Francisco, a ampliação da área destinada ao item vem embalada pela garantia da compra do volume que será atingido. Para ele, a diferença não compensa o trabalho e a preocupação com o escoamento dos grãos, apesar de temer queda de preços.
Ele se queixa do tratamento diferenciado dado aos que desejam plantar girassol, de fora da política de pagamento de R$ 150 por cada hectare plantado. ´Com a mamona, tem de cercar tudo para o gado não morrer. Já o girassol também serve de ração´, compara. Mas quem opta pelo girassol tem de ter em mente que, se de um lado a sinergia com a pecuária é perfeita, por outro as flores exigem um espaço só seu. (LA)
Até duas toneladas por cada hectare
Um dilema se impõe na hora de estabelecer qual a variedade de mamona e de girassol que será adotada no sertão cearense para a fabricação do biodiesel. Em um ambiente marcado pela escassez de chuvas e pelo baixo patamar de preços do produto, o que seria mais vantajoso: optar por variedades geneticamente modificadas que são capazes de produzir mais por hectare, porém são vulneráveis a estiagens longas, ou manter foco nas plantas selvagens, que produzem menos, mas resistem à seca?Depois de mais de 30 anos de pesquisas, a Embrapa já disponibiliza sementes de espécie geneticamente melhoradas que chegam ao rendimento de até duas toneladas para cada hectare plantado: mais que o dobro dos 900 quilos obtidos em média com as variedades tradicionais da planta.
De acordo com Liv Soares Severino, pesquisador da Embrapa Algodão que coordena o projeto de pesquisa sobre a utilização da mamona no semi-árido, não é possível apontar categoricamente que uma variedade é melhor do que a outra. ´Já disponibilizamos três tipos de sementes melhoradas geneticamente, e cada uma delas se adequa bem
Outra vantagem das novas espécies é o seu porte reduzido. Enquanto as selvagens chegam a medir até cinco metros de altura, as novas atingem, no máximo, dois metros e meio, tornando mais ágil e fácil a colheita da mamona. Para o semi-árido, a redução na altura da mamoneira é especialmente vantajosa. Com o predomínio de pequenas propriedades, onde é desenvolvida a agricultura familiar, a utilização de tecnologia é baixa. Ou seja, pensar em um cultivo que depende de maquinário para a colheita dos grãos, concentrados nos galhos altos, é um paradoxo diante do sistema produtivo instalado. Em alguns municípios, o girassol é testado.
LEÔNIDAS ALBUQUERQUE
Diário do Nordeste