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Agrenco tem dois meses para resolver pendências


Valor Econômico - 18 jul 2008 - 06:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

A definição de um aporte de capital ou aquisição da Agrenco terá que ser tomada em dois meses, ou antes disso, para evitar que a situação financeira piore ainda mais, segundo a avaliação dos principais conselheiros da empresa de agronegócios.

Enquanto não há acordo, o banco contratado para as negociações, JP Morgan, cuidará também de administrar as relações com os credores. Com caixa reduzido, a empresa tem dívida total de R$ 1,2 bilhão, com 80% do vencimento no curto prazo.

Os conselheiros José Guimarães Monforte e James Wright falaram ontem, pela primeira vez, sobre a empresa, desde que assumiram a condução dos negócios após a prisão de três dos sócios controladores. Antonio Iafelice, Antônio Augusto Pires Jr. e Francisco Ramos foram presos, em 20 de junho, na Operação Influenza da Polícia Federal (PF).

Os executivos, suspeitos por crimes como desvio de dinheiro, fraude de balanço e sonegação fiscal, entre outros, foram soltos na quarta-feira.

Junto com Cássio Casseb, expresidente do Banco do Brasil e do Pão de Açúcar que chegou à empresa no fim de fevereiro, Monforte eWright assumiram o conselho de administração e os trabalhos em busca de uma solução. Ficam até a chegada do novo dono. Antes de ser negociador, Monforte participou ativamente na criação da companhia. Além da função de consultor do projeto, colocou recursos próprios há cerca de três anos (o que lhe rendeu fatia de 1,6% na holding controladora), auxiliou na listagem das ações na Bovespa com sua empresa de consultoria Pragma e tornou-se conselheiro da empresa depois de aberta. Mais do que seus serviços, emprestou seu dinheiro e seu nome ao projeto da Agrenco.

A expectativa, segundo Monforte, é que o novo controlador assuma toda a empresa, inclusive a parte dos executivos investigados pela PF. Mas, até o momento, não há decisão sobre isso. Antes disso, devem apresentar ao mercado os resultados da revisão do balanço que a auditoria externa da companhia, a KPMG , conduz desde o escândalo. Até agora, nada foi encontrado.

Procurado por meio de seu advogado, Iafelice, não comentou o assunto. Os conselheiros hoje à frente da administração não esperam resistência dele ou dos outros sócios caso algum dos interessados condicione o negócio à compra da fatia dos atuais donos. “Como nós, ele só pensa na continuidade da empresa. Assim como assinou o memorando com a Dreyfus, deve concordar com os próximos passos.”

Monforte explicou que alguns contatos já estavam sendo feitos por Iafelice no começo do ano, na busca de um sócio estratégico— o que permitiu o recebimento das três propostas em curto espaço de tempo. Antes mesmo do JP Morgan assumir os trabalhos, a francesa Louis Dreyfus, a asiática Noble e a suíça Glencore fizeram propostas. Com exceção da asiática, as outras duas já vinham conversando com o sócio fundador para um possível aporte. A francesa era a mais avançada no diálogo.

Monforte e Wright conhecem a companhia desde que era um projeto, em2002. Participaram de sua concepção e, antes de serem conselheiros da empresa aberta, compunham um conselho deliberativo, que ajudava nas questões estratégicas quando ainda era de capital fechado. Ambos são acionistas.

Apesar do trabalho conjunto, Monforte está à frente desse momento. Há comentários de quem conhece a história da empresa de que esteve nessa posição de liderança em boa parte das decisões. Teria, inclusive, apresentado a companhia ao Credit Suisse, na busca de assessoria financeira para a abertura de capital. Ele nega ter participado dessa aproximação.

Tanto Monforte como Wright disseram estar confiantes de que sua imagem não foi abalada pelos problemas na empresa. Sobre as questão de governança corporativa, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e um dos maiores difusores das melhoras práticas de gestão, Monforte argumenta que trata-se de um processo evolutivo e que haveria avanços na empresa. Para ele, o fato de a Agrenco ter sede nas Bermudas e ter captado recursos com recibos de ações, os BDRs, são explicados pela necessidade de a companhia ter custos competitivos, por atuar num segmento de margens apertadas.

Graziella Valenti, de São Paulo

Tags: Agrenco