Adição de 3% de biodiesel pode ser antecipada
Pressionado pelos produtores de biodiesel, o governo federal deve antecipar para março a obrigatoriedade da adição de 3% de biodiesel ao diesel, o B3. A decisão terá de passar ainda por uma votação no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), mas uma fonte do governo informou ao DCI que é quase certa a aprovação. A intenção era passar para o B4, mas a medida foi embargada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Esta será uma forma de trazer maior equilíbrio a um mercado no qual boa parte das indústrias já anunciou a paralisação dos seus investimentos. No entanto, a dificuldade de cumprir os prazos para a entrega do produto e as irregularidades diagnosticadas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) podem se agravar. Uma fonte que esteve presente nas últimas reuniões revelou que a entidade cobrou as indústrias no que se refere à qualidade do que está sendo ofertado e à entrega do volume estipulado no leilão.
Com problemas que vão de indisponibilidade de matérias-primas a dificuldades na distribuição, a agroindústria do setor não demonstra grande otimismo frente à notícia de uma antecipação do B3. "Todo percentual que incrementar já vai ajudar, mas a gente precisa do B4 no curto prazo", ressalta Irineu Boff, presidente da Oleoplan, primeira indústria a operar uma unidade de biodiesel na Região Sul do País.
A entidade cobrou as indústrias no que se refere à qualidade do que está sendo ofertado e à entrega do volume estipulado no leilão
Para Boff, apesar de o aumento do percentual sinalizar um período de recuperação, o principal problema das indústrias diz respeito aos altos preços da soja, matéria-prima utilizada em mais de 90% da produção de biodiesel. "Os preços da soja e do óleo de soja não estão baseados só no tamanho da safra, mas no consumo mundial. Há uma conjuntura enorme que muitas empresas não conseguiram prever", diz.
O executivo afirma ainda que para agravar a situação muitas companhias venderam o biodiesel por um preço muito baixo nos leilões da ANP, mas hoje não conseguem cumprir os contratos no prazo. "Elas imaginaram que iriam ganhar dinheiro num momento de escassez do mercado, mas não calcularam a falta de matéria-prima."
De acordo com o gerente de Projeto da Bioverde, José Pereira Júnior, a antecipação do B3 já vem sendo discutida internamente e deverá ser uma medida para fortalecer o mercado que sofre com a sobreoferta do produto e com a enorme capacidade de produção estagnada. "Será uma prévia muito boa para o B5", avalia. A empresa, que pertence ao grupo Petrosul, participou do último leilão com a venda de 8 milhões de litros.
Para atender a demanda por B2 nesse semestre a ANP comprou 480 milhões de litros de biodiesel que deverão ser entregues à Petrobras ao longo desses meses. Para atender o B3 seria necessário um volume 50% maior e ainda há uma incógnita sobre como esse mercado irá se comportar.
A demanda anual irá saltar dos atuais 840 milhões para 1,2 bilhões de litros e a demanda do segundo semestre será de 630 milhões.
"Até 2010 o governo quer um mercado firme de 2,4 bilhões de litros por ano", garante o coordenador geral de agroenergia do Ministério da Agricultura (Mapa), Frederique Abreu. Ele disse ainda que muita gente investiu no setor ouvindo um chamado do governo, que, agora, precisa dar uma resposta a esses produtores.
Em evento realizado ontem pelo Sindicato Nacional dos Coletores e Beneficiadores de Subprodutos de Origem Animal (Sincobesp) Abreu defendeu a utilização de gorduras animais e ácidos graxos na produção de biodiesel e afirmou que os Estados Unidos têm mostrado interesse em produzir biodiesel utilizando sebo animal.
Ele alertou para a necessidade de ampliar o leque de matérias-primas e que hoje os preços da soja estão abrindo mercado para outros produtos. Ele disse ainda que para atingir as especificações da União Européia (UE) muitos produtores brasileiros estão misturando óleo de soja ao óleo de sebo bovino para obter um biodiesel com o teor de iodo permitido. "Hoje é importante atender às prioridades dos compradores europeus", diz.
Priscila Machado