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Negócio

Pressão sobre a Petrobras é de dois dígitos: defasagem nos combustíveis passa de 10%


O Globo - 28 jan 2021 - 09:02

A Petrobras reajustou o preço dos combustíveis na terça-feira, mas o aumento foi considerado tímido para recompor a diferença em relação às cotações internacionais. Pelas contas do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), mesmo com a alta de 4,98% no diesel, o preço brasileiro ainda está 11,8% abaixo do praticado fora do país. Na gasolina, a diferença chega a 12,6%, já somado o aumento de 5,05% anunciado.

A petrolífera está em uma situação delicada. Se tivesse autonomia para estabelecer o preço dos combustíveis, tomaria imediatamente a decisão de repassar esse aumento, como faria qualquer companhia listada em bolsa. Mas se fizer isso pode desagradar aos caminhoneiros – que ameaçam greve – e enfraquecer o governo Bolsonaro, que é quem nomeia o presidente da Petrobras, já que a União é o acionista controlador da petrolífera.

O presidente Jair Bolsonaro deu entrevista demonstrando que o improviso segue ditando as ações do governo. Disse que a equipe econômica estuda uma forma de reduzir impostos sobre combustíveis, para compensar a alta, e deu “graças a deus” que o dólar recuou quase vinte centavos na terça-feira.

As duas medidas, no entanto, têm fôlego curto. O governo não tem controle sobre o dólar, ontem a moeda americana subiu 1%, e a redução de PIS e Cofins terá que ser compensada com aumento de outros tributos, já que o governo vive uma crise fiscal. Além disso, significaria subsídio ao combustível fóssil. Segundo o CBIE, o governo arrecadou cerca de R$ 18 bilhões com o imposto sobre o diesel no ano passado.

O mercado financeiro continua confiante na diretoria da Petrobras e, ontem, as ações estavam em alta. Mas têm sido mais frequentes as análises de que a empresa está demorando muito para zerar a diferença de preços. A XP Investimentos, por exemplo, afirmou em relatório que a percepção de risco sobre a companhia pode piorar se a defasagem continuar.

“Os níveis atuais de preços ainda não estão em um patamar que permita que operadores independentes possam importar combustíveis com margem de lucro”, afirma. “Em nossa opinião, se o cenário atual de descontos em relação às referências internacionais de preços de combustíveis persistir por mais tempo, poderá ocorrer um aumento da percepção de risco para as ações da Petrobras”.

Quase três anos após a greve dos caminhoneiros, o governo não tem solução definitiva para lidar com a alta dos preços da gasolina e do diesel.

Alvaro Gribel – O Globo