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Negócio

Petrobras reduz preço da querosene de avião e cria dúvida para diesel e gasolina


Valor Econômico - 04 jun 2024 - 10:08

A redução dos preços do querosene de aviação (QAV), pela Petrobras, neste mês levanta a questão se a estatal pode efetuar também mudanças no diesel e na gasolina. No caso da gasolina, consultorias ouvidas pelo Valor calculam que a empresa opera abaixo da paridade de importação. Significa que, em tese, não haveria espaço para cortes, mas sim para aumentos. No diesel, a companhia está mais alinhada ao mercado externo.

O pano de fundo dessa conjuntura é o petróleo tipo Brent, que registra recuo de 9,56% desde o início de abril, segundo o Valor Data. Nesta segunda-feira (3), a commodity fechou a US$ 78,22.

Conforme atualização feita pela Petrobras nas cotações do QAV em 1º de junho, a chamada gasolina de aviação registrou redução de 7,6% para as distribuidoras, o equivalente a R$ 0,31 por litro. É a primeira mudança de preços no QAV sob a gestão da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard.

Com o corte, a estatal tem uma redução acumulada no combustível de aviação neste ano de 8,8%, R$ 0,36 por litro em relação ao preço de dezembro de 2023. “A Petrobras comercializa o QAV produzido em suas refinarias ou importado apenas para as distribuidoras, que por sua vez transportam e comercializam os produtos para as empresas de transporte aéreo e outros consumidores finais nos aeroportos, ou para os revendedores. Distribuidoras e revendedores são os responsáveis pelas instalações nos aeroportos e pelos serviços de abastecimento”, disse a Petrobras. Na comparação com dezembro de 2022, há redução acumulada é de 26,7% ou R$ 1,35 por litro.

No diesel e na gasolina, a Petrobras está há meses sem fazer mudanças nos preços. Na gasolina, a última mexida nos preços nas refinarias foi em 21 de outubro e no diesel, em 27 de dezembro. Nos dois casos houve reduções nos preços praticados. Conforme cálculos da consultoria StoneX, o preço da gasolina da Petrobras vendido às distribuidoras está R$ 0,127 abaixo do preço de paridade de importação (PPI), cerca de 4,5%. No caso do diesel, os preços da estatal estão mais próximos aos internacionais, cerca de R$ 0,017 acima do PPI, ou 0,5%, segundo a StoneX.

Bruno Cordeiro, analista da StoneX, afirma que a diferença do preço da gasolina da Petrobras em relação ao exterior não significa que a estatal esteja próxima de alguma mudança. A defasagem média foi de R$ 0,35 por litro em abril e chegou a R$ 0,48 em alguns dias: “Observamos a redução dessa diferença [da defasagem] entre o preço da Petrobras e o PPI desde meados de abril. Isso ocorre pela redução do risco geopolítico no Oriente Médio e no Leste Europeu, e também pelos receios macroeconômicos sobre a política econômica do Banco Central americano, que leva a uma perspectiva menos otimista para demanda de petróleo e derivados.”

Segundo o analista, a redução do QAV reflete a redução dos preços do petróleo nas últimas semanas, mas não existe uma correlação com diesel e gasolina, uma vez que o querosene de aviação tem revisões mensais por contrato.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) calcula, com base no fechamento do petróleo desta segunda (3), que tanto a gasolina quanto o diesel vendidos pela Petrobras operam, em média, R$ 0,05 abaixo dos preços internacionais. Seria o equivalente a 1% para o diesel e 2% para a gasolina. Já o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a gasolina está defasada em R$ 0,48 em relação ao PPI, cerca de 14,6%. O CBIE calcula ainda que o diesel está R$ 0,14 acima da referência internacional ou 4,2%.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, afirma que o QAV tem uma importância pequena no portfólio da Petrobras: “Não podemos considerar esse primeiro movimento da gestão de Chambriard como sinal para os outros produtos. Existem outros fatores que ajudam a compor o cenário para o diesel e a gasolina.” O analista prossegue: “Com a decisão da Opep [Organização dos Países Produtores de Petróleo] de reduzir os cortes de produção gradualmente, a commodity caiu. A queda do barril é positiva para atenuar pressões sobre defasagem da Petrobras, mas também é negativa porque a empresa exporta petróleo.”

Kariny Leal – Valor Econômico