PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Negócio

Embrapa traça cenários para o biodiesel em 2030


Valor Econômico - 17 ago 2017 - 09:20

Nota BiodieselBR.com: O estudo da Embrapa traz uma interpretação própria sobre o acordo de Paris e escolhe limitar a meta de 18% de participação da bioenergia como biodiesel e etanol, excluindo a energia gerada pelo bagaço de cana, que hoje lidera a produção de bioenergia nacional. Além de excluir todas as outras fontes de bioenergéticas na projeção, o estudo da Embrapa assume como crescimento para a produção de etanol uma projeção feita pela Unica (a principal associação de usinas de etanol do Brasil). Só que essa projeção da Unica se baseou na limitação do que está escrito no acordo de Paris, e usou o crescimento de todas as fontes bioenergéticas e não apenas dos biocombustíveis líquidos, limitando assim o espaço para o mercado do etanol. Com essas duas premissas adotadas pela da Embrapa, o estudo pode ser encarado como um levantamento de quanto biodiesel o Brasil precisaria produzir se a meta da COP fosse de 18% para biocombustíveis líquidos e a produção de etanol fosse limitada em 2030 e não como uma projeção para um cenário real de cumprimento da meta da COP21.

Apesar dos aparentes esforços do governo e da iniciativa privada, dificilmente o Brasil conseguirá cumprir a meta de elevar para 18% a participação dos biocombustíveis em sua matriz energética até 2030, como foi prometido pelo país na Conferência Mundial do Clima de Paris (COP-21).

É o que sinaliza um estudo inédito elaborado pela Embrapa Agroenergia, que traça quatro cenários para os volumes de biodiesel e etanol que o país precisaria produzir para alcançar o objetivo. Em todos eles, porém, o Brasil só cumpriria o objetivo traçado se incluísse na conta outras fontes de energia, como cogeração a partir da queima do bagaço da cana e do carvão vegetal.

O problema é que, como ressalta o estudo da Embrapa, o Acordo do Clima estabelece que a meta deve ser cumprida com biocombustíveis líquidos. E como há um "teto" previsto para o etanol, que deverá registrar crescimento anual relativamente baixo no horizonte previsto, o peso da missão recai sobre o biodiesel, que tem atualmente 70% de sua produção no país proveniente da soja, principal grão cultivado no Brasil.

As perspectivas, portanto, não são animadoras. No primeiro cenário, a Embrapa considera que a produção de etanol continuará a crescer 5% ao ano, até chegar a 50 bilhões de litros em 2030, ou 6,1% da matriz energética brasileira. Assim, o volume de biodiesel necessário para cumprir o prometido na COP-21 precisaria chegar a 63 bilhões de litros, ou 11,9% da matriz, o que demandaria um percentual de 69% de mistura no diesel fóssil (B69), de acordo com as projeções feitas pela estatal.

Hoje o percentual de mistura obrigatória de biodiesel no diesel é de 8% (B8). "Chegar a essa quantidade de biodiesel em 2030 é inviável, portanto todos os cenários mostram que só com os combustíveis não será possível cumprir a meta do Acordo de Paris", afirma Bruno Laviola, um dos seis pesquisadores da Embrapa Agroenergia envolvidos no trabalho.

O segundo cenário parte da hipótese de que, se a taxa de crescimento do etanol brasileiro dobrar para 10,2% ao ano, o volume produzido atingiria 79,5 bilhões de litros em 2030, ou 9,7% da matriz energética do país. Isso significa que restariam ao biodiesel, para cumprir a meta, os 8,3% restantes - ou seja, seria preciso que o percentual de mistura subisse para 48% (B48), marca também considerada inviável pela Embrapa.

No caso dos dois últimos cenários, Laviola explica que o objetivo não foi mais encontrar uma conta matemática que buscasse preencher os espaços exigidos para produção de biodiesel e etanol, mas sim estimar o potencial de expansão do plantio da soja, a principal matéria-prima de sua fabricação no país.

O terceiro cenário indica que, se o percentual da safra brasileira de soja utilizada hoje para o biodiesel (15%) mais do que dobrar, para 35%, será possível obter uma mistura de biodiesel de 15% no diesel (B15). Mesmo assim, a participação do biocombustível na matriz energética seria de apenas 2,6%. Se forem considerados os mesmos 9,7% de presença do etanol na matriz, faltariam 5,7% para cumprir a meta, espaço que teria que vir de outros produtos, como bioquerosene ou biogás, que ainda não têm escala de produção comercial no Brasil.

O quarto cenário prevê que se 50% do volume de soja produzido nacionalmente fosse destinado ao biodiesel, seria viável uma mistura de 21% (B21) do produto no diesel até 2030 - participação de 3,7% na matriz. "A mensagem é que o Brasil tem que diversificar urgentemente as matériasprimas com escala de produção [para a produção de biocombustíveis], como gordura animal, algodão, girassol, canola e amendoim", destaca Laviola. "Hoje não temos problema com matéria-prima para o biodiesel, mas em 2030 podemos ter", acrescenta.