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Negócio

Evandro Gussi assume presidência da Unica


Valor Econômico - 13 fev 2019 - 09:05

Enquanto o novo governo diz que seguirá a lógica de "mais Brasil e menos Brasília", o segmento sucroalcooleiro se prepara para uma intensa interlocução com os novos atores políticos instalados na capital. Para isso, as usinas de cana do Centro-Sul escolheram para presidir a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) o "padrinho" do programa RenovaBio no Congresso, o advogado e ex-deputado federal pelo PV Evandro Gussi, que assumiu o cargo ontem (12).

A apresentação do projeto de lei que criou o RenovaBio em 2017 se tornou um forte cartão de visitas de Gussi junto ao setor privado, mas suas credenciais ganharam musculatura pelo acompanhamento que fez da regulamentação do programa e pela publicidade que deu à política nas cinco viagens internacionais que realizou em 2018 – entre as quais a um seminário da Organização Internacional do Açúcar (OIA), em Londres, e à COP 24, em Katowice.

Ao Valor, Gussi disse que o segmento deve apoiar as reformas econômicas em construção pelo governo Bolsonaro, que buscam "a equalização das contas públicas e a desestatização de áreas". "Tudo o que estamos vendo nessa área econômica tem nos agradado", afirmou.

Tais medidas, segundo empresários, deverão favorecer especificamente o segmento, já que a saúde financeira das usinas é sensível à inflação, que pressiona os custos em um mercado com pouca margem de repasse de preços, e à taxa de juros, dada a alta intensidade de capital empregado na atividade.

A defesa de um regime liberal na economia não deverá abrir espaço para pleitos de subsídios, acredita Gussi. "Já somos competitivos. Desde que não sejamos atrapalhados, como fomos no governo Dilma, não precisamos de ajuda", afirmou ele.

Mas algumas pautas setoriais deverão ser acompanhadas de perto e com urgência, como a conclusão da regulamentação do RenovaBio. Criado para estimular o consumo de biocombustíveis e reduzir as emissões de gases estufa, o programa precisa ser regulamentado até o fim do ano para começar a vigorar em 2020, o que é encarado pelo setor privado como um período crítico. Nesse sentido, as usinas contam com o trânsito de Gussi com outros parlamentares e com interlocutores do presidente Jair Bolsonaro.

Para o novo presidente da Unica, a regulamentação do RenovaBio deverá atrair investidores pela previsibilidade conferida pela política e pela perspectiva de maior receita das usinas, que poderão vender os créditos de descarbonização (CBios). "Já vimos um crescimento de 7% no volume de comercialização na última Fenasucro [feira anual de vendas de máquinas ao setor], e todos os participantes atribuíram às perspectivas trazidas pelo RenovaBio", celebra.

Também na frente política, Gussi comandará o esforço da Unica para convencer o governo Bolsonaro a ter uma postura mais firme com os EUA sobre a importação de etanol, embora o presidente tenha deixado claro seu maior alinhamento com Washington. Criada em 2017, a cota de importação do produto isenta da tarifa do Mercosul vai expirar em setembro. Segundo Gussi, não faz sentido o Brasil garantir tal vantagem ao produto enquanto os EUA mantiverem sua cota para importar açúcar, que dificulta a entrada do adoçante brasileiro. Sem mudança nessa frente, Gussi afirmou que "voltar à tarifa de 20% sobre o etanol americano seria uma possibilidade".

Ainda no comércio internacional, há uma perspectiva de que as negociações bilaterais precisarão ser reforçadas. No ano passado, ante pressão da Unica, o governo decidiu duas vezes que recorreria à Organização Mundial do Comércio (OMC), contra a China e contra a Índia, por barreiras contra o livre-comércio de açúcar. Mas, entre as usinas, avalia-se que os resultados da atuação multilateral vêm apenas "quando o estrago já foi feito".

Para Gussi, é preciso recorrer ao máximo às conversas bilaterais antes de chegar aos órgãos multilaterais, mas uma postura não exclui a outra. "Quando há ofensas ao livre-comércio, aí não tem opção", disse.

Se Brasília ocupará boa parte da atenção da Unica – Gussi diz que deverá passar mais dias por semana na capital do que em São Paulo, onde está a sede da entidade -, debates com a indústria automobilística também deverão ser aprofundados. O caminho, indicou, será continuar defendendo a adoção no Brasil dos veículos híbridos flex e dos carros com célula de combustível alimentada a etanol. Embora algumas montadoras estejam lançado no país carros 100% elétricos, Gussi disse que a indústria automobilística "está convencida" de que esse é o caminho para eletrificação no Brasil.

Camila Souza Ramos – Valor Econômico