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2ª e 3ª geração

Substituição do diesel por hidrogênio ainda vai demorar


Valor Econômico - 07 dez 2023 - 09:18

Embora a aplicação do hidrogênio verde como combustível possa vir a ser um grande passo na descarbonização do modal rodoviário, que responde por cerca de 60% da matriz de transportes brasileira, essa não é a prioridade dos projetos em implantação ou planejamento para a produção do gás no país. “A corrida que se dá nesse momento é para a futura exportação do H2V, sobretudo para a Europa, que decidiu subsidiar fortemente a compra desse produto para reduzir a dependência do gás russo. Isso explica a escolha do litoral nordestino para sediar a maioria das plantas de H2V no Brasil”, diz Felipe Gonçalves, superintendente de pesquisa da FGV Energia.

Já a substituição do diesel é menos viável num futuro próximo, segundo especialistas. “Há mais desafios para a implantação de uma rede confiável de abastecimento de H2V”, diz Paulo Resende, coordenador do núcleo de infraestrutura, supply chain e logística da Fundação Dom Cabral. Para Felipe Cammarata, sócio da consultoria de projetos Bain & Company, o potencial do Centro-Oeste para geração de energia a partir da biomassa seria mais bem aproveitado. “A região [Centro-Oeste] deve ser protagonista na neoindustrialização do Brasil, mas na produção de fertilizantes verdes”, concorda Luiz Antonio Mello, head de vendas da thyssenkrupp Uhde.

A produção de amônia - produto que pode ser convertido em hidrogênio e mais adequado para exportação, uma vez que seu estado natural é líquido, enquanto o H2V é um gás que precisa ser submetido a uma temperatura altamente negativa (-253 °C) para ser liquefeito -, associada à de H2V, traria ao país a possibilidade de abastecer o mercado interno de fertilizantes. “Isso justificaria, por exemplo, a instalação de fábricas de amônia verde nas regiões de maior consumo desse fertilizante, como a Centro-Oeste”, aponta Filipi Bonaldo, sócio-diretor da A&M Infra, da consultoria Alvarez & Marsal. Nesse caso, afirma, a biomassa poderia gerar a energia necessária no processo de fabricação.

“A grande vantagem do Brasil em relação ao hidrogênio verde e à amônia é reunir as condições necessárias para obter esses produtos a preços competitivos, pois o país tem matriz energética limpa e possibilidade do uso de biomassa nas regiões do agronegócio” diz ele.

Felipe Gonçalves, da FGV-RJ, avalia que a diversificação de projetos de H2V, ancorados em regiões diferentes e usando as fontes renováveis mais adequadas em cada caso, será uma tendência. “A fase agora é de aproveitar a abertura do mercado europeu para ganhar escala e reduzir progressivamente o custo de produção. Por enquanto, o hidrogênio produzido a partir de fontes fósseis custa a metade do obtido por fontes renováveis, mas essa diferença vai cair”.

Levantamento da consultoria Clean Energy Latin America indica que isso deve acontecer rapidamente no Brasil, diante de condições locais que colocam o país como favorito para se tornar o maior produtor mundial do H2V. Segundo esse estudo, o custo de produção do quilo de hidrogênio verde no Brasil pode variar de US$ 2,87 a US$ 3,56, enquanto o custo do hidrogênio cinza (de fontes não renováveis) já está em US$ 2,93. A Deloitte Brasil aponta para a criação de um mercado global de US$ 1,4 trilhão para até 2030 para o H2V, superando o de gás natural.

“A Europa terá um papel fundamental no avanço desse combustível não só por dar preferência à sua importação, mas também na taxação que fará, a partir de 2026, dos produtos fabricados com emissão de gases”, diz Gonçalves, da FGV.