Estamos otimistas com a regulamentação do diesel verde, diz diretora da Petrobras
A diretora financeira da Petrobras, Andrea Almeida, disse que a empresa está confiante na aprovação do diesel verde pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O órgão regulador realiza nesta quinta-feira (17) a regulamentação do produto enquanto biocombustível.
“Estamos otimistas de que vamos conseguir aprovar esse produto”, afirmou ela, durante a 8ª edição do Diálogos da Rio Oil & Gas, evento on-line realizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
De saída da produção de biodiesel, após prejuízos bilionários no setor, a Petrobras quer se reposicionar no mercado de biocombustíveis. Depois de se aventurar em projetos sem retorno financeiro, na agroindústria, a estatal aposta, agora, nas biorrefinarias.
A bola da vez é o diesel renovável (ou diesel verde), produzido a partir do coprocessamento de petróleo com óleos vegetais nas refinarias. A companhia já concluiu os testes e se diz pronta para investir na escala industrial do produto.
O produto, contudo, depende da regulamentação do diesel verde pela ANP. A petroleira defende que o produto seja enquadrado como um biocombustível e, assim, possa gerar créditos de descarbonização – os CBios, que as distribuidoras de combustíveis são obrigadas a comprar, dentro de metas assumidas no programa RenovaBio
Além disso, a Petrobras quer que os percentuais de mistura obrigatória de biodiesel ao diesel (hoje de 12%, mas que será de 15% em 2023, chamado de B15) possam ser cumpridos também com o uso do novo produto. Assim, seria possível atender ao B15 usando parte o biodiesel convencional e parte o diesel verde. Sem uma regulamentação favorável, a estatal não vê como colocar o projeto de pé, já que a matéria-prima (óleo vegetal) é mais cara que o diesel.
Menor intensidade de carbono
Andrea Almeida disse também que a revisão da carteira de exploração e produção da companhia, que prevê um corte de investimentos de até US$ 24 bilhões entre 2021 e 2025, vai reforçar investimentos no pré-sal, área onde a petroleira opera com taxas de intensidade de carbono menores.
“Não podemos mais fazer todos os projetos. Temos que fazer os mais resilientes e que sejam priorizados, inclusive, sob essa ótica [da gestão] do carbono”, afirmou a executiva, durante o evento on-line.
Ao comentar sobre os princípios ESG (do inglês environmental, social and governance, traduzido como ambiental, social e governança), a executiva citou a vantagem competitiva do óleo de baixo teor de enxofre do pré-sal. Segundo ela, a demanda mundial por produtos menos poluentes ficou evidente este ano, quando a petroleira conseguiu bater os recordes de exportação de óleo combustível e petróleo bruto, durante o auge da contração da demanda, em abril. “Na crise, vimos esse valor [do baixo teor de enxofre do pré-sal] na veia”, disse.
Andrea destaca que os princípios ESG têm entrado cada vez mais nas rodas de conversa com os investidores. Ela cita um interesse crescente dos americanos pelo assunto. “Talvez nunca tenhamos conversado tanto sobre esse tema com investidores”, disse ela.
A executiva destaca que as empresas ainda “engatinham”, mas que a Petrobras vem fazendo o seu trabalho para dar mais transparência às iniciativas adotadas pela companhia. Ela citou, como exemplo, a divulgação recente do código de ética e conduta da estatal e a inclusão, no último plano de negócios 2020-2024, das metas de descarbonização e sustentabilidade.
Ao destacar as iniciativas da empresa na área ambiental, ela destacou que o plano de negócios 2020-2024 prevê investimentos de US$ 100 milhões ao ano em projetos de descarbonização e que a Petrobras também aposta em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) na área de energias renováveis – como eólica, incluindo offshore, e o diesel renovável.
“De fato, estamos investindo para saber onde seremos donos naturais no futuro. Temos que começar a investir para descobrir esse futuro”, comentou.
Eólica é para o futuro
A diretora financeira da Petrobras afirmou que a companhia pode vir a investir, no futuro, em eólicas offshore. “A Petrobras tem uma ligação muito forte com o mar. Tem tudo a ver... Vai fazer todo sentido, no futuro, ter uma geração de energia diferenciada, ligada a um ecossistema onde já estamos operando”, disse, durante o evento on-line.
Ela ressalvou, contudo, que os investimentos em eólica offshore ainda estão na carteira de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e que “há muita coisa a evoluir” e que ainda não há uma data prevista para que a empresa avance com o projeto.
A Petrobras tem uma parceria com a Equinor para estudos de investimentos conjuntos na área.
A executiva disse ainda que o mundo dos negócios é dinâmico. “Já fomos bons em água rasas e em terra e não somos mais, o mundo muda.”
André Ramalho – Valor Econômico