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Depois de 12 meses de testes projeto com óleo de cozinha cresce


. - 12 mai 2011 - 06:44 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Associados às altas taxas de gordura, colesterol e poluição ambiental, os três milhões de óleo de cozinha anualmente utilizados para a fritura de batatas e empanados da rede McDonald’s no país, passarão a ter um destino ambientalmente responsável: a produção de biodiesel.

Por enquanto, a iniciativa que começou há pouco mais de dois anos, abrange 20 restaurantes paulistas e envolve 5 caminhões da Martin-Brower, distribuidora exclusiva da marca, e uma das empresas da norteamericana FSB Foods. Para viabilizar a operação, a empresa utiliza o conceito de circuito fechado, os veículos que suprem as lojas, também recolhem o óleo utilizado na fritura dos alimentos em logística reversa e este é então transformado em biodiesel. Assim, o mesmo óleo ajuda a abastecer os mesmos veículos, fechando o ciclo.

“O Projeto Biodiesel é apenas um esboço da quantidade de biodiesel que podemos desenvolver por meio do óleo da rede”, explica Haroldo Barros, sócio-Diretor da SP BIO, usina responsável pela transformação do óleo em biodiesel. Para se ter uma idéia, mensalmente cada loja gera, em média, 8 mil litros de óleo que, depois de processados, resultam em torno de 3,2 mil litros de biodiesel por mês. A um custo 12% menor que o diesel.

Hoje, o óleo recebido supre o abastecimento de quatro caminhões com biodiesel B20 e um com o nível B100. Porém, quando estendido para as mais de 580 lojas da rede há um potencial de produção de mais de 2 milhões de litros de biodiesel anualmente. Em termos de comparação, o consumo anual de diesel gira em torno de 4,5 milhões de litros para abastecer a frota da Martin-Brower exclusiva para atendimento ao McDonald’s.

“O interessante é que o projeto utiliza uma logística já existente e o biodiesel produzido com o óleo residual não compete com o alimento, como acontece com o álcool produzido do milho, por exemplo”, diz Ricardo Neuding, diretor da ATA-Ativos Técnicos Ambientais, coordenadora e consultora do projeto.
 
Sistema Redondo
O sistema logístico de coleta foi testado por pouco mais de 12 meses, por exigência da própria ANP – Agência Nacional do Petróleo, e encontra-se em fase de homologação pela entidade.

Para chegar a esta fase, foi preciso desenvolver soluções para a coleta segura do óleo nos restaurantes, que é onde tudo começa. Para isso, foram desenvolvidos galões especiais de 20 litros, chamados de bombonas, que permitem o perfeito encaixe às fritadeiras e possuem travas de segurança, que impedem qualquer vazamento do líquido.

A segurança do transporte também é garantida pelo design das peças, que além de ergonômico, tem uma forma que permite o empilhamento das bombonas e seu intertravamento, facilitando a armazenagem e o transporte. Quando os caminhões chegam com os suprimentos das lojas, as bombonas são recolhidas, armazenadas na sede da Martin-Brower, em Osasco, SP, e são então encaminhadas à SP Bio, na cidade paulista de Sumaré.

Lá, o óleo é submetido a um processo de catalização ácida, que tem o objetivo de baixar a alta acidez apresentada pelo óleo residual para cerca de 1%. Depois é submetido a catalizadores alcalinos, em um processo chamado de transesterificação, que o transforma em biodiesel puro (B100).

Segundo avaliação inicial, dois litros e meio de óleo geram um litro de biodiesel. “Com produção própria, podemos ter biodiesel mais barato que o comprado nas bombas”, estima Tupa Gomes, diretor-geral da Martin-Brower, que tem planos de instalar uma pequena usina própria.

Nesse período de testes, a frota piloto rodou mais de 206 mil quilômetros, utilizando cerca de 61 mil litros de biodiesel. Destes, 59 mil litros foram especificação B20 e 2 mil, B100. Os quatro caminhões abastecidos com B20 não apresentaram nenhuma ocorrência de parada ou manutenção adicional, incluindo os equipamentos de refrigeração. Porém, houve um aumento de consumo (km/l) da ordem de 6%.

Biodiesel Total
Já para a utilização da especificação B100, logo de saída o modelo Constellation 24.350 Bifuel teve que ser equipado com dois tanques, um de 500 litros para o biodiesel e outro de 80 litros com diesel. O diesel é necessário apenas na ignição do veículo, evitando a solidificação do biodiesel quando submetido a altas temperaturas. Um módulo inteligente de controle da mistura faz parte do kit, cujo display instalado no console do veículo permite que o motorista acompanhe o processo.

Com um consumo total de cerca de 2 mil litros, necessitou de duas paradas para ajustes no sistema, realizado pela própria Man Latin America. “Ainda que nosso objetivo seja a utilização do biodiesel puro, ainda é muito cedo para medirmos os gastos com manutenção e a viabilidade de seu uso”, esclarece José Augusto Rodrigues dos Santos, diretor de Contas Nacionais e Internacionais da Martin-Brower.

O que já dá para mensurar são os benefícios relacionados à sustentabilidade. Para se ter uma idéia, cada litro de óleo de cozinha transformado em biodiesel, evita o descarte indevido e a contaminação de 20 mil litros de água, segundo dados fornecidos pela Sabesp. Além disso, a reciclagem reduz a emissão de gás carbônico, responsável pelo efeito estufa, e enxofre presente em alto teor no diesel.

Idealizado pela Martin-Brower e a Arcos Dourados, operadora do McDonald’s no Brasil, o projeto conta ainda com a parceria da Shell, Thermo King, MWM International, Cummins, Tietê Caminhões e Ônibus e Tek Diesel, além das já citadas Man Latin América, SP BIO e ATA. “O objetivo é produzir biodiesel para substituir o diesel em 40% da frota e reduzir em 27% a emissão de gases de efeito estufa”, sintetiza Gomes.

Fonte: Revista Negócios em Transporte