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Estudos obtidos pela Reuters colocam dúvidas sobre os benefícios do biodiesel


Reuters - 11 jul 2011 - 14:12 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17
A indústria de biodiesel da Europa pode ser prejudicada pelos planos da UE de enfrentar os efeitos colaterais indesejados da produção de biocombustíveis, após estudos – obtidos pela Reuters – mostrarem que há poucos benefícios climáticos no uso desses combustíveis.

A indústria do biodiesel europeia, que cresceu rapidamente devido a decisões políticas de 2003 para promovê-la, está agora à beira de ser descartada legalmente, após estudos revelarem que os impactos indiretos do biodiesel anulam quase todos os benefícios.

“Esse estudo poderia levar ao fim do setor de biodiesel europeu”, disse à Reuters Philippe Tillous-Borde, diretor da gigante francesa Sofiproteol, que é dona da maior produtora de biodiesel da Europa.

A UE vem discutindo, por mais de dois anos, a extensão dos danos indiretos ao meio ambiente causados por estabelecer uma meta no aumento do uso dos biocombustíveis, dos menos de 3% atuais, para 10% em todos os combustíveis rodoviários até 2020.

A própria análise do bloco mostra que a meta pode levar a uma liberação indireta de cerca de mil mega toneladas de dióxido de carbono – mais do que o dobro das emissões anuais da Alemanha.

O panorama emergente que a política da UE estabeleceu se mostrou prejudicial, e a Comissão Europeia não permitiu à Reuters consultar as informações dos últimos estudos, argumentando que o interesse público na divulgação era insuficiente. No entanto, esses documentos foram agora divulgados.

“Isso teria implicações significativas para a indústria de biodiesel existente na UE”, afirmou um dos relatórios divulgados, uma avaliação preparada pela Comissão, visto pela Reuters.

“A viabilidade dos investimentos existentes poderia ser afetada a longo prazo, à medida que a disponibilidade da matéria-prima do biodiesel convencional fosse sendo reduzida”, aponta o relatório.

As descobertas poderiam ter um impacto maior no direcionamento dos investimentos de grandes companhias de petróleo, como a BP e a Royal Dutch Shell, para fontes de energia de baixo carbono, e dar um incentivo a firmas envolvidas no desenvolvimento de biocombustíveis da próxima geração, como a produtora de enzimas dinamarquesa Novozymes e a espanhola Abengoa.

Em um segundo relatório, especialistas mundiais em biocombustível alertam que a crescente produção de biocombustíveis, liderada pelas metas de energia verde da UE, diminuirão o fornecimento de alimentos e aumentarão a fome mundial.

“Qualquer declínio no consumo pode ter um impacto severo nas famílias que já estão mal nutridas”, indica o relatório de um workshop de especialistas em biocombustíveis da Comissão, de novembro do último ano.

O DEBATE ‘ILUC’
Os biocombustíveis já foram vistos como a ‘bala de prata’ para reduzir as emissões dos transportes, baseados na teoria de que eles só emitem a quantidade de carbono que absorvem durante o seu crescimento nas colheitas.

Mas essa teoria foi enfraquecida por um novo conceito conhecido como ‘mudança indireta no uso da terra’ (ILUC em inglês), que os cientistas ainda estão lutando para quantificar adequadamente.

Na essência, significa que se um campo de grãos e for substituído por uma colheita de biocombustível, alguém, em algum lugar, passará fome, a menos que essas toneladas de grãos perdidas sejam cultivadas em outro lugar.

As colheitas para compensar esse déficit poderiam vir de qualquer outro lugar, e uma pesquisa recente mostra que a maioria das novas terras agrícolas, possivelmente cerca de 80%, é criada a partir da derrubada de florestas.

Queimar florestas para desobstruir essa terra pode lançar emissões do aquecimento global suficientes, na teoria, para compensar qualquer beneficio climático que os biocombustíveis teriam a intenção de trazer.

“Os especialistas concordam unanimemente que, mesmo quando as incertezas são altas, há uma forte evidência de que o efeito ILUC é significante”, sugeriu o relatório do workshop de novembro da Comissão.

“Os efeitos do uso da terra faz com que cerca da metade dos ganhos esperados da troca dos combustíveis fósseis para os biocombustíveis renováveis desapareça”, disse um terceiro relatório do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI em inglês) para a UE.

O biodiesel do óleo de palma da Ásia, dos grãos de soja da América do Sul e da colza da UE tem um impacto climático maior que o diesel convencional, afirmou um quarto documento divulgado.

“Esses relatórios mostram claramente que os cientistas estão convencidos de que as atuais politicas de biocombustível da UE causarão indiretamente danos ambientais significantes”, declarou Nusa Urbancic, do grupo de ativistas do transporte Transport & Environment (T&E).

“A UE deve parar de varrer o problema para baixo do tapete”.

Mas a maior parte da indústria do biodiesel – que soma cerca de 80% de todos os biocombustíveis – argumenta que essa descoberta ainda é muito incerta para impor uma lei.

“Seria totalmente contraditório agir com base em resultados produzidos por um modelo que depende de hipóteses falsas e pouco pesquisadas”, disse Tillous-Borde da Sofiproteol.

Ainda assim, os cientistas estão começando a criar um ranking de sustentabilidade limpa, após quatro estudos da UE de 2010 e mais três de 2011, com o bioetanol sendo visto como uma melhor opção devido à maior energia contida nas plantas usadas para produzirem esse combustível.

“A matéria-prima do etanol tem um efeito menor de mudança uso da terra do que a matéria-prima do biodiesel. Para o etanol, a sacarina da beterraba tem os coeficientes mais baixos de emissão do uso terra”, afirmou o relatório do IFPRI.

A análise de impacto da Comissão prevê que a demanda da UE por biodiesel será arruinada se os impactos indiretos forem levados em consideração na legislação da UE. Mas ao mesmo tempo, o relatório estima que haja um grande aumento na demanda pelo bioetanol de colheitas de cereais e cana-de-açúcar, assim como pelo biodiesel avançado produzido a partir de algas.

“A capacidade de produção do etanol precisaria ser aumentada significativamente para compensar a crescente demanda”, diz o documento.

O relatório afirma que essa troca na demanda se refletiria nos mercados de commodities, reduzindo os preços dos óleos vegetais e aumentando menos intensamente o custo do açúcar e dos grãos.

Traduzido por Jéssica Lipinski - Instituto Carbono Brasil
Fonte: Reuters
Tags: Co2 Emissões