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Diversificação sai do discurso e chega à prática com a canola


BiodieselBR.com - 22 mar 2011 - 09:57 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

O mantra da diversificação tem sido entoado por diversos agentes do setor de biodiesel. Diversificar a matéria-prima das usinas é o caminho para reduzir a dependência da soja na produção de biodiesel, mas o discurso tem sido, até aqui, muito mais fácil que a prática.

Agora uma empresa resolveu sair do discurso e colocou em ação um conjunto de iniciativas para alavancar a oferta de canola.

A planta é a aposta da BSBios, empresa produtora de biodiesel com sede no Rio Grande do Sul. Somente na semana passada a usina firmou mais três acordos para estimular a cultura alternativa, dois deles renovando parcerias já existentes.

Entre as iniciativas para fazer o projeto decolar está a fundação, em dezembro do ano passado, da Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola), entidade que representa toda a cadeia produtiva da planta – agricultores, indústria, entidades de classe, logística, pesquisa e desenvolvimento.

Com sede em Passo Fundo, a associação se originou de um núcleo de entidades de classe, produtores e indústria que começou um trabalho há quatro anos para estimular o desenvolvimento da planta no país. “A BSBios iniciou esse trabalho, liderou e logo em seguida essa liderança foi compartilhada com o Banco do Brasil, com quem iniciamos o grupo de trabalho DRS Biocombustíveis”, conta o diretor superintendente da usina e presidente da associação, Erasmo Carlos Battistella. Este grupo atua no desenvolvimento regional sustentável focado em produzir matérias-primas para diversificação na produção de biodiesel. “Desse grupo de trabalho, as ações foram se tornando cada vez mais efetivas e dele se originou a associação.”

Segundo o dirigente, a Abrascanola já está finalizando a parte burocrática e enviando convites para que mais empresas, agricultores e entidades se associem. Ele explica que o objetivo da associação é difundir e desenvolver a canola nas regiões em que ela possa ser plantada – atualmente os três estados do Sul, mais São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A Abrascanola reivindica ao governo federal a formulação de uma política estruturante para o desenvolvimento da cultura da canola, assim como foi feito com a palma. “Precisamos transformar a canola numa grande oleaginosa produzida no Brasil, porque ela é a terceira oleaginosa produzida em nível mundial, só perdendo para a soja e a palma”, ressalta Battistella.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que reúne condições climáticas e área disponível para ser um dos líderes mundiais com a canola e com a palma, a exemplo da sua posição de destaque com a soja. “Queremos que a cultura se desenvolva, aumente a participação de área plantada e dê rentabilidade ao produtor, independentemente se for para biodiesel, alimentação humana ou qualquer fim que seja”.

O presidente da Abrascanola reconhece que o alto custo pode ser uma barreira ao uso do óleo de canola na produção de biodiesel. “O biodiesel sempre vai procurar usar a matéria-prima que tenha o menor custo, diferentemente da alimentação humana, que você escolhe entre o produto de menor custo e menor qualidade ou o de maior custo e maior qualidade”, compara.

Segundo Battistella, não se pode exigir que a canola tenha um custo igual ao da soja. “Por exemplo, o Rio Grande do Sul planta 30 mil hectares de canola e 5 milhões de hectares de soja”, lembra. “É Davi contra Golias, então não há como ter a mesma competitividade de custo ainda. Se nós tivermos políticas estruturantes, se passarmos a ter produtividade maior, ganho de escala, melhor logística, certamente teremos redução no custo da canola.”

Mais benefícios
O biodiesel produzido a partir do óleo de canola atende em 100% a especificação da União Europeia. “Isso facilitaria a exportação se tivéssemos preço competitivo”, ressalta o diretor da BSBios.

Erasmo Battistella destaca ainda os benefícios da canola para a agricultura familiar, cujo número de produtores vem crescendo. “Neste ano teremos um crescimento exponencial e os agricultores familiares também estão representados dentro da Abrascanola”, garante. Na segunda-feira (14), primeiro dia da Expodireto 2011, em Não-Me-Toque (RS), a BSBios anunciou um aumento de 15% no valor de comercialização do produto, a R$ 46 por saca, com bônus de R$ 1 para os agricultores familiares.

Também no primeiro dia da exposição, considerada uma das maiores do país, a BSBios assinou termo de cooperação com a Emater-RS para viabilizar o fomento da cultura, principalmente na agricultura familiar. Na quarta-feira, a usina renovou parceria com a cooperativa de crédito Sicredi para estimular a produção de canola destinada ao biodiesel. No dia seguinte, foi renovado outro convênio, desta vez com o Banco do Brasil e a Cotrijal, para viabilizar financiamentos para a produção de canola.

Battistella define a canola como a “soja do inverno”, ou seja, uma alternativa de cultura para o período em que as áreas de plantio de soja ficam ociosas. Segundo a Emater-RS, a monocultura não é uma boa alternativa para os agricultores familiares. Agricultores que praticam a rotação de cultura percebem o aumento da produtividade da soja no verão, com até três sacas a mais por hectare nas áreas onde se planta canola no inverno.

Ari Silveira - BiodieselBR.com