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Dificuldades no uso de algas podem ser maiores que o imaginado


BiodieselBR.com - 06 abr 2011 - 07:13 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Um estudo interdisciplinar conduzido por pesquisadores ligados à Universidade Estadual do Kansas nos Estados Unidos joga um balde de água fria sobre os entusiastas do uso de microalgas na produção de biocombustíveis. De acordo com suas conclusões, seria preciso nada menos do que subverter parte das leis da física para que as algas pudessem realmente ser uma alternativa verdadeiramente sustentável ao consumo de diesel fóssil.

Batizada “Sustainability of algae derived biodiesel: A mass balance approach” (ou, em tradução literal, “Sustentabilidade do biodiesel derivado de algas: Uma abordagem por balanço de massa”), a pesquisa ganhou destaque na capa da edição de janeiro da publicação Bioresource Technology .

Para determinar se a produção de biodiesel a partir de microalgas pode ser 100% sustentável, a equipe responsável pelo estudo considerou que o balanço de massa de carbono no interior do sistema de produção e consumo deveria ser igual a zero – ou seja, todo o carbono que fosse despejado na atmosfera ao longo de todo o processo teria que ser absorvido durante a fase de crescimento da biomassa.

Eles criaram um fluxograma de todo o sistema, checando o uso de recursos não renováveis em cada ponto, para ter certeza que mais dióxido de carbono não seria despejado na atmosfera. “Se quisermos ser sustentáveis, o que entra tem que ser igual ao que sai. Sem isso, o nosso ciclo de produção não poderá durar por décadas – ou séculos – sem esgotar recursos não renováveis”, resume o professor de engenharia química, Peter Pfromm, líder do estudo.

Os resultados obtidos comprovam que é possível produzir biodiesel de algas totalmente sustentável. Contudo, o volume de produção não chegaria nem perto do necessário para eliminar a dependência do petróleo. Mesmo sob condições ótimas, o volume de biomassa produzido ficou muito abaixo do que alguns modelos conceituais considera ideal.

“Descobrimos que em algumas estimativas populares a produção entre 200 a 500 gramas de algas por metro quadrado de tanque aberto não eram factível simplesmente porque não há sol o suficiente”, diz Pfromm.     “Então, a não ser que consigamos modificar o sol, esse tipo de produção é fisicamente impossível”, ironiza.

De acordo com o estudo, um número mais realista seria de 50 gramas de algas por metro quadrado por dia. O que, nas contas da equipe, exigiria 28,5 quilômetros quadrados de tanques para produzir 189 milhões de litros de biodiesel por ano – o equivalente a 0,1% do consumo anual dos Estados Unidos.

Ainda segundo o pesquisador um segundo estudo que está para ser publicado vai lidar com os aspectos econômicos da questão. Ele adianta que os prognósticos também não são dos melhores por esse lado.

Embora os tanques abertos sejam o modo mais barato de cultivar algas, uma instalação com 28,5 km2 não só exigiria grandes investimentos como também ficaria muito exposta à contaminação por outros microorganismos que poderiam diminuir a produtividade. Tanques fechados poderiam evitar esse tipo de perigo, mas tem um custo bem maior tanto de instalação quanto de operação. Na opinião dos cientistas, sem incentivos governamentais, os custos para produzir biocombustíveis de algas seriam impeditivos.

Mas mesmo se os subsídios pudessem ajudar na questão dos custos, isso não seria de grande ajuda com a parte científica da produção. “No momento, os fundamento é que são o problema. Não importa a forma como desenhamos a máquina, se o motor que ela tem sob o capô não é bom”, problematiza o pesquisador. “Nossa melhor opção nesse momento é continuar investindo em ciência básica e esperar que a produtividade ultrapasse os 50 gramas por m2”.

Baixe aqui o estudo na integra (PDF em inglês - 2,0mb)

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com