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Bio

O biodiesel feito com sebo de boi


Jornal do Commercio - 31 ago 2009 - 07:40 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

O que antes ia para o lixo agora é uma importante matéria-prima para a fabricação do biodiesel, substância limpa que, misturada ao poluente óleo diesel, reduz seus efeitos nocivos e serve de combustível nos quatro cantos do País. A boa nova chama-se gordura animal. Seu melhor aproveitamento pode fazer com que o País, no futuro, consiga uma produtividade maior na fabricação do biodiesel. Plantando menos poderemos produzir mais. A reportagem, de Angela Fernanda Belfort e Verônica Falcão, dá início à série Riqueza das sobras, que o JC publica até a próxima terça-feira.

Um material que até bem pouco tempo era queimado ou enterrado hoje é responsável por 16,75% de todo o biodiesel produzido no Brasil: o sebo bovino. Este resíduo está sendo usado pelos motores que usam o óleo diesel, que, atualmente, no Brasil, já conta com 4% de biodiesel.

O que consolidou a gordura do boi como uma das principais matérias-primas desse tipo de biocombustível foi sua viabilidade econômica. “O sebo é uma matéria-prima mais barata do que o óleo de soja. É importante aproveitar o resíduo, que antes gerava um passivo com o meio ambiente”, diz o pesquisador de um dos mais importantes laboratórios de biocombustível, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Donato Aranda.

De cada boi abatido, são retirados 20 quilos de sebo. O Brasil é um dos maiores exportadores de carne e detém o maior rebanho de gado de corte do mundo, formado por cerca de 200 milhões de cabeças. “O biodiesel de sebo de boi tem se mostrado viável economicamente. Dá lucro e se constitui em mais um uso para o subproduto”, comenta o diretor executivo da Brasbiodiesel, Rogério Barros. A empresa, inaugurada em agosto de 2007, é subsidiária do frigorífico Bertin, um dos maiores do País.

Localizada em Lins, no interior paulista, a fábrica da Brasbiodiesel é uma das maiores do País e tem capacidade para produzir 125 milhões de litros por ano. A maior unidade de processamento de sebo bovino do País usa um mix de matérias-primas, sendo cerca de 70% sebo de boi e 30% de óleo de soja. A fábrica também compra o sebo bovino de outros abatedouros. “Hoje não há sebo sobrando no mercado. Quem está jogando esse subproduto no lixo não é sustentável. Está perdendo dinheiro”, diz.

Os grandes frigoríficos do Sul e Sudeste vendem o sebo para a indústria de produtos de higiene pessoal ou usinas de biodiesel. No entanto, os abatedouros do Norte e Nordeste ainda o desperdiçam. A Zona da Mata de Pernambuco é um exemplo. “A região poderia produzir 90 mil litros de biodiesel mensalmente com a quantidade de bois abatidos – cerca 14,8 mil animais por mês”, explica o professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e um dos coordenadores da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, Sérgio Peres.

“Estou dando a minha contribuição”

O motorista Claudio José de Lima, de 43 anos, quase não nota diferença entre o biodiesel e o diesel puro no motor do microônibus no qual transporta toda noite 22 estudantes no interior de Pernambuco. O motorista observa, no entanto, que a produção de fumaça é menor. Diz que o desempenho do motor é satisfatório e o cheiro do combustível é mais agradável (parece azeite, segundo ele), além de não arder nos olhos. “E, claro, estou dando minha contribuição para o meio ambiente.”

O veículo usa o percentual de biodiesel adicionado ao diesel de 28%, sete vezes mais que o determinado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). É que a frota de 18 veículos da Transtil Turismo, de Garanhuns, é usada nos testes do biodiesel produzido por uma usina experimental do Ministério de Ciência e Tecnologia em Caetés, cidade vizinha, onde nasceu o presidente Lula.

Segundo a ANP, a proporção deve ser de 4% de biodiesel, ou seja, para cada 100 litros de combustível usado em ônibus e caminhões, 4 são de ocmbustível a partir do óleo vegetal ou animal. É o chamado B4, que já foi B2, passou para B3 e deve chegar a B5 em janeiro de 2010. Até a adoção desse percentual, um veículo pode rodar sem precisar de adaptação no motor, embora a experiência da Transtil comece a provar o contrário.

Este é o segundo ano da obrigatoriedade do biodiesel e também fez cair outros mitos. “Muitos não acreditavam que fosse possível fazer um biodiesel de qualidade tendo como matéria-prima o sebo bovino”, lembra o pesquisador Donato Aranda. E isso ainda é pouco diante do potencial existente. “O somatório de outras gorduras residuais (da galinha, do porco e do peixe) poderiam somar em média mais 15% de biodiesel”.

Angela Fernanda Belfort e Verônica Falcão
Tags: Sebo