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2007

O problema do etanol


Janeiro 2007 - 29 jan 2007 - 10:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Ontem eu fui ver Tad Patzek dar um seminário no campus da Universidade Berkeley chamado “Agricultura, Biocombustíveis e a Terra” (Agriculture, Biofuels and the Earth), queria ver em primeira mão uma das figuras mais controvertidas do mundo emergente dos biocombustíveis. O professor de engenharia química de Berkeley é o co-autor (junto com o professor aposentado da Universidade Cornell David Pimentel) de dois estudos que lançam dúvidas (.pdf em inglês) sobre o balanço energético do etanol de milho e outros biocombustíveis. Os estudos foram amplamente citados tanto por direitistas anti-biocombustíveis que querem acabar com os subsídios para energia alternativa de todas as formas, e por críticos de esquerda que acreditam que a pressa com os biocombustíveis resultará na destruição de florestas tropicais, na proliferação pelo planeta de monoculturas geneticamente modificadas, e vários outros desastres ecológicos. Se você tiver um problema com biocombustíveis, Patzek e Pimentel te apóiam.
 
A veracidade dos números de Patzek e Pimentel foi ferozmente debatida. Eles foram acusados de usar dados ultrapassados, de escolher números, de fazer suposições injustas ou antiquadas sobre que fatores incluir em sua análise de dados. Para muitos fãs de biocombustíveis, o background de Patzek como engenheiro de petróleo foi considerado motivo para o descrédito imediato de todas suas colocações. Um bom resumo do debate pode ser achado aqui.
 
Em janeiro, eu escrevi sobre um estudo publicado na Science por um grupo de pesquisadores de Berkeley que contradisseram os resultados de Patzek e Pimentel. Mas isso não dissuadiu Patzek de cruzar o país em uma jihad de um-homem-só contra a idéia de que os biocombustíveis oferecem alguma esperança de substituir petróleo como fonte de energia. Considerando que Berkeley também é um ninho de geeks do biocombustível de álcool feito em casa, e o seminário era parte de uma série do Departamento de Ciência Ambiental, Política e Administração de Berkeley, eu estava curioso para ver se ia sair faísca.

Porém, o confronto estava em falta. Havia de 50 para 60 pessoas na conferência, a maioria parecia ser de estudantes, e alguns já vieram com carrancas, mas não havia ninguém contestando. Os evidentes bons modos e comportamento amigável de Patzek podem tê-los parcialmente desarmado. Mas ele também pulou a seção de sua fala que trataria dos dados do balanço energético, e havia muito pouco tempo para perguntas no final, embora, julgando pelo número de mãos levantadas, não havia falta de pessoas para continuar. Não tinha um clima de perguntas-e-respostas com uma platéia crítica. Patzek fez seu falatório (que poderia ter sido facilmente rebatizado de “Como Nós Estamos Completamente Condenados”) e foi isso.

Mas com respeito a uma pessoa que perguntou o que poderia explicar as enormes discrepâncias entre os números citado por Patzek e esses propostos por alguns defensores dos biocombustíveis, ele tossiu, fazendo referências a “sistemas complexos” e como a escolha de modelos “determina as respostas”.
 
E ele disse, pelo menos duas vezes, “não vamos discutir sobre os detalhes”.

Agora, pedir a um grupo de estudantes não discutir os detalhes é uma coisa estranha para qualquer professor dizer, e os críticos dos números de Patzek e Pimentel estariam completamente certos em rir desdenhosamente de tal declaração. Detalhes fazem uma grande diferença, especialmente quando os detalhes determinam se algo tem balanço energético positivo ou não. Mas no contexto maior do impulso principal da conferência de Patzek, o desvio fez certo sentido.

A mensagem primária de Patzek era que nós (e por nós ele quis dizer especialmente o “Homo Colossus Americanus” — o Gigante Americano) consumimos muita energia. Um das estatísticas favoritas dele é que cada americano consome 105 vezes mais energia do que ele/ela precisam para viver. Patzek não parecia um cúmplice da indústria petroleira. Ele acredita no peak oil [ou Pico de Hubbard], que predisse que antes de 2020 o mundo estará consumindo mais energia do que produziria, se as tendências atuais forem extrapoladas mais adiante. Ele é um fã do Greenpeace e disse diretamente que o ANWR [Arctic National Wildlife Refuge, Refúgio de Vida Selvagem Nacional do Ártico] não nos salvará.

Seu ponto fundamental é que nosso consumo de energia atual é insustentável, até mesmo se a produção de biocombustíveis aumentasse em taxas de crescimento espetaculares. Termodinamicamente, nós não podemos fazer isto — nós estamos queimando os recursos energéticos acumulados do planeta mais rapidamente do que nós podemos criar ou descobrir novas fontes de combustível.

Patzek iniciou a conferência afirmando que uma melhoria de 15 por cento em eficiência de combustível eliminaria a dependência de petróleo do Oriente Médio. Se teve alguma coisa que eu tirei dos gráficos e da ladainha de termodinâmica, não foi que os  biocombustíveis são ineficientes, mas que a raça humana tem que ficar mais eficiente.

Esta não é a mais surpreendente das conclusões, eu concordo. Indo bem fundo nas entranhas do caso de amor do ser humano com o consumo de energia, parece bastante claro que isso é só uma “solução de portfolio” que irá encarar a crise vindoura. Nós precisamos consumir menos e ser mais eficiente no que nós consumimos, até mesmo se aumentarmos o uso de energia solar, eólica, e sim, de biocombustíveis onde e se faz sentido proceder assim. E nós vamos precisar nos esforçar para assegurar que as novas usinas de carvão incorporem as tecnologias de seqüestro de carbono e as novas usinas nucleares sejam tão seguras quanto humanamente possível. Nós podemos esperar que a energia solar se torne competitiva quanto ao custo e podemos sonhar com tecnologias de etanol de celulose ou biodiesel de algas, que deixam o velho etanol de milho na poeira, mas não haverá uma solução tecnológica mágica. Nós vamos ter que fazer mais com menos.

Eu voltei da conferência do professor Patzek sentindo como se ele não tivesse feito nada para defender seus números do etanol dos muitos críticos. Mas eu também estava duplamente alegre por ter ido de bicicleta lá, porque a vergonha de ser o Homo Colossus Americanus está sendo demais para agüentar. Eu agradeço Patzek por aumentar a pressão.

Andrew Leonard
Salon.com