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2007

Pinhão Manso: Verdades e Mentiras


Fevereiro 2007 - 02 fev 2007 - 15:13 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Nos últimos tempos, anda-se falando muito sobre o potencial produtivo do pinhão manso, principalmente depois que a planta foi apontada pelo Programa de Biodiesel Brasileiro como uma das fontes de alta produtividade do combustível. Alguns pesquisadores da Embrapa junto com pesquisadores da EPAMIG, preocupados com o que está sendo publicado pela mídia sobre o pinhão manso, reuniram-se e publicaram um documento alertando a respeito das verdades e mentiras sobre a oleoginosa. Confira na íntegra o que diz esse documento.

ALERTA SOBRE O PLANTIO DE PINHÃO MANSO

DE ONDE SURGIU A PLANTA?

O pinhão manso (Jatropha curcas) é uma planta arbustiva da família das Euforbiáceas possivelmente originária da América, que ocorre de forma espontânea em diversos estados do Brasil. No passado, o pinhão manso já foi cultivado em pequena escala em alguns países, inclusive no Brasil, mas atualmente é uma cultura de pequena expressão mundial. É encontrado vegetando de forma espontânea, mas também em cercas-vivas ou próximo a residências, onde tem valor folclórico ou aplicações medicinais.

Com o advento do Programa Brasileiro de Biodiesel, o pinhão manso foi incluído como uma alternativa para fornecimento de matéria-prima. Esta escolha baseia-se na expectativa de que essa planta possua alta produtividade de óleo, tenha baixo custo de produção por ser perene e seja extremamente resistente ao estresse hídrico, o que seria uma vantagem significativa principalmente na região semi-árida do país.

No entanto, causa grande apreensão aos técnicos envolvidos com a pesquisa agrícola no Brasil, o incentivo ao plantio do pinhão manso em extensas áreas, pois é uma cultura sobre a qual o conhecimento técnico é extremamente limitado. Grande parte das informações divulgadas sobre a cultura provém de fontes pouco confiáveis, principalmente da Internet, em páginas de empresas privadas, onde as vantagens da planta são exaltadas. A seguir, citam-se alguns tópicos que merecem atenção sobre a cultura:

  • Em diversos países da América, África e Ásia há programas oficiais ou iniciativas particulares incentivando o plantio de pinhão manso para produção de óleo, sempre visando os biocombustíveis, mas em nenhum deles o pinhão manso é uma cultura tradicional, nem existem lavouras bem estabelecidas (com pelo menos 5 anos) onde se possa confirmar sua produtividade e rentabilidade de forma confiável;
  • Seja no Brasil ou em outros países, não foram encontrados relatos de experimentos com validade científica de longa duração que informem sobre a produtividade do pinhão manso em condições de campo; há somente estimativas feitas sem metodologia adequada ou por métodos questionáveis*, tais como extrapolar a produção de uma planta isolada para produtividade numa lavoura comercial; a maior parte dos trabalhos científicos sobre pinhão manso são estudos de laboratório ou casa-de-vegetação sobre temas específicos, tais como fisiologia, toxicidade de suas partes, produção de mudas, tecnologia de sementes, transesterificação do óleo etc;
  • O pinhão manso ainda não foi totalmente domesticado e não existe nenhum programa de melhoramento genético bem estabelecido no mundo que tenha resultado em, ao menos, uma cultivar que pudesse ser cultivada com maior segurança;
  • A cultura não possui um sistema de produção minimamente avaliado a campo, para que se possa recomendar a forma de propagação (sementes, estacas, mudas), a população de plantio, adubação, como e quando podar, como e quando fazer a colheita etc;
  • Em observações preliminares que estão sendo feitas em lavouras cultivadas em diversas regiões do Brasil, nota-se que a planta é muito atacada por doenças (virose, oídio nas folhas, caules e flores, fusariose, podridão do sistema radicular e outras) e pragas (cigarrinha, ácaro branco, trips, broca do tronco, percevejo, cupim e outras);
  • A maturação dos frutos é muito desuniforme, o que obriga os produtores a realizar inúmeras passagens na lavoura durante a fase de produção, o que pode aumentar significativamente os custos de produção;
  • No Brasil, não há mercado estabelecido para pinhão manso; a indústria de extração tradicional possivelmente não se disporá a processar pequena quantidade dessa semente, pois necessitaria ajustar suas máquinas; há o risco de haver um ou poucos compradores para o produto, o que pode levar à prática de preços muito baixos, o que se agrava por se tratar de uma cultura perene, na qual o produtor não tem a opção de, no ano seguinte, migrar para uma cultura mais rentável, vendo-se forçado a aceitar o preço que a indústria oferecer; mesmo considerando a grande demanda para o biodiesel, essa fragilidade do produtor não muda, pois  ele dificilmente terá opções de venda além da indústria de extração mais próxima
  • não há no Brasil áreas contínuas de produção de pinhão manso para que seja feita avaliação da viabilidade econômica deste cultivo até a estabilização da produção, e mesmo as estimativas iniciais feitas por consultores têm indicado que a renda bruta por hectare é muito baixa para ser opção de renda.
  • As instituições bancárias ainda não estão preparadas para financiar o plantio de pinhão manso, pois não há garantia técnica para os produtores.
Diante deste cenário, conclui-se que no Brasil ainda não há tecnologia validada suficientemente para que se possa plantar pinhão manso de forma racional, e por isso recomenda-se aos produtores rurais que não cultivem grandes áreas, pois o risco de insucesso é alto.
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Reafirma-se a crença no alto potencial produtivo e consideráveis vantagens que o pinhão manso possui, e a esperança de que essa oleaginosa, no futuro, tenha importante participação no fornecimento de óleo para biodiesel. Neste sentido, diversas Unidades Descentralizadas da Embrapa, instituições de pesquisa e universidades do país, contando também com parceria com outros países, já estão trabalhando no desenvolvimento de tecnologia para o pinhão manso, incluindo a criação
de bancos de germoplasma, experimentos a campo, estudos em casa-de-vegetação e em laboratório. No entanto, por se tratar de uma planta perene, que só estabelece a produção após o quarto ano, estima-se que serão necessários pelo menos cinco anos para que se tenham informações mais seguras sobre a cultura.

Enfatiza-se ainda a necessidade de reforçar os investimentos em pesquisa para essa cultura, e sua manutenção por longo prazo, para que as
atividades possam chegar a resultados definitivos, pois a interrupção desse apoio financeiro durante a execução do trabalho pode inviabilizar
todo o processo.

Artigo elaborado pelos pesquisadores:

Liv Soares Severino - Embrapa Algodão

Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão - Embrapa Algodão

Nilton Junqueira - Embrapa Cerrados

Marcelo Fidelis
- Embrapa Cerrados

João Flávio Veloso - Embrapa Milho e Sorgo

Nívio Poubel Gonçalves - EPAMIG

Heloisa Matana Saturnino - EPAMIG

Renato Roscoe - Embrapa Agropecuária Oeste

Décio Gazzoni - Embrapa Soja

Jason de Oliveira Duarte
- Embrapa Milho e Sorgo

Marcos Drummond – Embrapa Semi-árido

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