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Décio Luiz Gazzoni

Craqueamento: Um Processo para Atender Pequenos Consumidores


Décio Luiz Gazzoni* e Paulo Henrique N. Felici** - 03 ago 2006 - 20:16 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

A Embrapa e a UnB, desenvolveram uma rota alternativa para produção de biodiesel, através de craqueamento óleo vegetal ou gordura animal. O protótipo comercial desse equipamento está sendo desenvolvido em parceria com a empresa Global Energy and Telecommunication (GET), com apoio FINEP. A rota tecnológica denominada craqueamento (quebra das cadeias de moléculas de carbono) é uma alternativa à rota de transesterificação.

O óleo vegetal é colocado em um craqueador de aço inoxidável, sendo submetido a altas temperaturas, na presença ou não de catalisadores. No craqueador, ocorre rompimento das ligações atômicas, em especial das mais sensíveis. Desse modo os triglicéridos, que possuem 50 ou mais átomos de carbono, são desdobrados em moléculas orgânicas, com até 17 átomos de carbono. Os vapores das novas moléculas passam por uma torre de destilação fracionada, com um complexo sistema de fluxo e refluxo, onde ocorre a separação e recuperação, em diferentes pontos da coluna, em função do ponto de condensação. No protótipo atual são previstos quatro estágios de recolhimento das frações destiladas, com características similares ao óleo diesel, à gasolina, ao querosene e ao gás liquefeito de petróleo. Essa última fração também contém outras moléculas (monóxido e dióxido de carbono e vapor de água).

As principais vantagens da rota de craqueamento são a não produção de glicerol como subproduto, a não utilização de álcool no processo, o menor custo de investimento fixo inicial e a relativa facilidade de operação, o que torna o processo particularmente adaptável para produção de biodiesel em pequena e média escalas. Nos pequenos e médios empreendimentos, a produção de glicerol e o uso de álcool anidro possuem considerações particularizadas.

O custo de refino do glicerol é, proporcionalmente, maior que nas plantas de grande dimensão. A pequena escala e, eventualmente, a irregularidade da produção, não permitem estabelecer contratos de médio e longo prazos, fixando prazos e quantidades definidas. Assim, o pequeno ou o médio produtor de biodiesel fica refém do mercado spot que pode ficar saturado no médio prazo, inviabilizando pequenos negócios. O mesmo raciocínio pode ser aplicado para a aquisição de álcool anidro. O pequeno ou médio produtor nunca conseguirá estabelecer contratos de longo prazo, garantindo seu abastecimento a preços compatíveis. Além do que, o frete para grandes distâncias pode dilapidar a competitividade do biodiesel, pela rota da transesterificação.

Com base nessas considerações, a parceria entre a Embrapa e a UnB focou no desenvolvimento de um produto que atendesse pequenos e médios produtores de biodiesel, em especial para consumo próprio ou abastecimento comunitário.

Os protótipos desenvolvidos na parceria com a GET estão sendo instalados nas unidades da Embrapa que desenvolvem pesquisas com soja, girassol, canola, mamona e dendê. Para os testes com o combustível produzido serão utilizados motores estacionários, máquinas, camionetes e tratores da própria Embrapa, que serão avaliados em suas funções rotineiras. Será avaliado o rendimento do combustível em diferentes blends, o desempenho durante a realização das diferentes atividades e o esquema de manutenção, em especial dos sistemas de alimentação e lubrificação do motor.

Os primeiros protótipos estão sendo projetados para atender às necessidades de produtores rurais ou cooperativas de pequenos produtores rurais em regiões afastadas, tornando-os auto-suficientes energeticamente. O equipamento também permite a constituição de micro e pequenas empresas, ou mesmo cooperativas de produtores, dedicadas a produção de biocombustíveis, melhorando as condições de exploração das pequenas e médias propriedades, pela oferta de uma tecnologia de agregação de valor ao produto agrícola.

Décio Luiz Gazzoni
é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e secretário executivo da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel. e-mail: [email protected]

Paulo Henrique N. Felici é Engenheiro Agrônomo e Mestrando em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]  

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