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Brasil

Biodiesel no Nordeste


BiodieselBR - 28 jan 2006 - 23:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

A região semi-árida do Brasil abrange quase todos os estados da Região Nordeste e o norte de Minas Gerais. São regiões de convivência com secas periódicas e possuem grandes contigentes de miseráveis nas zonas rurais.

Nessa região, as culturas energéticas podem se basear em lavoura de sequeiro, isto é, sem irrigação. A mamona e o algodão apresentam-se como viáveis, uma vez que tais culturas podem conviver com o regime pluviométrico do semi-árido. A mamoneira adapta-se muito bem ao clima e as condições de solos do semi-árido. Estudos realizados pelo Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, da Empresa de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vem disponibilizando cultivares de alta produtividade. A lavoura da mamona presta-se para a agricultura familiar, podendo apresentar economicidade elevada. A torta resultante da extração do óleo de mamona apresenta-se como ótimo adubo, encontrando aplicações na fruticultura, horticultura e floricultura, atividades importantes e crescentes nos perímetros irrigados nordestinos. Sem falar no pinhão manso que surge como uma alternativa ainda mais viável que a mamona.

Essa região, responsável por aproximadamente 15% do diesel consumido no País, é caracterizada pelo pioneirismo nas iniciativas em relação ao biodiesel. Atualmente, devido á conotação social dada ao programa, seu foco de produção tem sido a mamona. Isso se reflete nas plantas já instaladas (da NUTEC, em Fortaleza e da Brasil Biodiesel, em Teresina, ambas de natureza experimental, com capacidade diária de 800 litros e 2.000 litros, respectivamente), bem como nos projetos de produção comercial, com destaque para a planta da Brasil Biodiesel, localizada no município de Floriano, no Piauí.

A planta da Brasil Biodiesel, em fase final de instalação, terá a capacidade de processamento de 90.000 L/dia. Trata-se de um projeto ousado, especialmente pela falta de matéria-prima nas suas proximidades. A empresa instalou um assentamento modelo no município de Canto do Buriti, que fica a aproximadamente 225 quilômetros da unidade industrial. Esse assentamento poderá produzir até 14 mil toneladas de mamona por ano, equivalente a 25% da demanda da unidade industrial. O restante deverá ser adquirido de agricultores familiares da própria região.

Conjunturalmente, deve ser considerado que a cotação internacional do óleo de mamona oscila em torno de US$1000,00 /t, devendo haver um enorme incremento na oferta para reduzir o preço ao patamar dos demais óleos. Esse valor deriva dos múltiplos usos do óleo de mamona na indústria química. Em 2005, ocorrerá a instalação de uma planta da Petrobras no município de Guamaré, no Rio Grande do Norte, com tecnologia desenvolvida pelo seu centro de pesquisas. Essa planta deverá ser a primeira experiência em escala comercial, de produção do biodiesel de mamona utilizando o etanol como reagente. Estima-se uma capacidade diária de 2 mil litros, o que atenderá à mistura dos 2% no Estado, bem como, nos municípios dos Estados vizinhos, atendidos pela mesma base de distribuição da BR.

A soma desses projetos totaliza uma produção potencial pouco superior a 27 milhões de litros por ano, o que permite a mistura de 2% em apenas um quarto do óleo diesel consumido na própria região. Apesar dos registros de grande expansão na área cultivada com mamona, onde se estima que chegue a mais de 600 mil hectares até 2007, e da própria possibilidade de contar com outras alternativas, como o óleo de soja do Oeste Baiano e sul do Piauí e Maranhão, tal como na Região Norte, deve ser feito um grande esforço para superar o déficit de capacidade de processamento.

A mamona consolidou-se como importante alternativa da região central do Estado da Bahia, hoje com uma área cultivada superior a 150 mil hectares e uma produção superior a 100 toneladas de baga, o que representa mais de 90% da produção nacional. Lavouras implantadas com a tecnologia recomendada pela Embrapa alcançam até 3 t/ha. Pela sua capacidade produtiva no Semi-Árido, constituindo alternativa para os estabelecimentos de agricultura familiar, ela foi pensada como o carro chefe na fase inicial do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, em sua vertente social.

Através do zoneamento agrícola, a Embrapa já mapeou mais de 600 mil hectares de terras aptas ao cultivo da mamona, o que pode representar uma alternativa para mais de 100 mil famílias de agricultores. Entretanto, tão importante quanto a aptidão agronômica é a obediência a práticas de manejo, especialmente quando do plantio em sistema de consórcio, para reduzir o risco, diversificar as oportunidades e obter o máximo de fontes alimentares da própria lavoura.

Destaque-se que ainda são incipientes as pesquisas de novas variedades e de tecnologias de manejo (especialmente colheitadeiras, uma vez que ainda se usa a do milho, com algumas adaptações). Portanto, embora a mamona tenha sido vislumbrada como vetor de inclusão social no Semi-Árido, caso os produtores daquela região não sejam preparados para enfrentar um ambiente competitivo, poderão não suportar a concorrência da produção nas novas áreas, com um pacote tecnológico e capital intensivo.

Como o Estado do Maranhão situa-se na região de transição entre o SemiÁrido, o Cerrado e a Amazônia, apresenta potencial para alternativas perenes, cujo maior exemplo é o babaçu, estimando-se uma área superior a 18 milhões de hectares com esse planta, nativa da região. Embora o óleo seja de excelente qualidade, o babaçu tem como restrições o custo de extração, já que o óleo representa de 4 a 5% do fruto, o qual é envolto por uma casca muito dura, e o fato de a produção ainda ser baseada no extrativismo, com baixo padrão de organização.