Balanço Energético do Biodiesel
A utilização do novo combustível depende, entre outros fatores, de uma relação positiva entre a energia consumida no processo de produção, e a energia disponibilizada pelo combustível produzido. É fundamental ter um balanço energético positivo para a utilização racional de derivados de biomassa como combustíveis.
Quando os pesquisadores calculam o balanço energético líquido para um biocombustível, eles consideram a energia exigida para produzir a colheita (coisas como fertilizantes, pesticidas, e diesel de trator), e então somam a energia necessária para processar a planta colhida em etanol ou biodiesel (um processo que normalmente emprega carvão ou gás natural). Eles subtraem a quantia de energia que entra no processo da quantia de energia que sai -- quer dizer, a energia contida no combustível e às vezes nos subprodutos da produção de combustível.
Por exemplo, estudos detalhados de custos energéticos conduzidos para o etanol no contexto brasileiro, indicam que para cada unidade de energia investida na agroindústria canavieira, são produzidas cerca de 8,3 unidades de energia renovável. Comparativamente, nos EUA o etanol tem uma relação de apenas 1,3.
No Brasil, alguns estudos precursores do balanço energético na produção de biodiesel foram realizados nos anos 80. Avaliando o biodiesel de soja, determinou-se uma relação produção/consumo de 1,42. Uma avaliação preliminar mais recente para o biodiesel de soja, sem ter em conta os subprodutos, estimou uma demanda energética de 30 MJ por litro de biodiesel, resultando em uma relação produção/consumo de 1,43.
Outros estudos chegaram a um balanço energético de aproximadamente 5,6 para o dendê, e de 4,2 para a macaúba, o que confirma o potencial das palmáceas como fonte de matéria-prima, ou seja, maior produtividade e disponibilidade de resíduos de valor energético.
Embora os cálculos pareçam bastante diretos, desavenças sobre os números conduziram a uma extensa gama de estimativas para o balanço energético líquido de até mesmo o biocombustíveis mais comuns--etanol de milho e biodiesel de soja. Por exemplo, o etanol de milho tem uma perda de energia líquida de 29%, ou um ganho de 13% ou até mesmo 67%, dependendo a quem você pergunta. O balanço energético da produção depende muito da matéria-prima e dos processos envolvidos.
A dificuldade começa com decisões sobre o que conta como uma contribuição de energia. Algo do alimento consumido pelo fazendeiro deveria ser incluído? E a energia usada para fabricar o trator do fazendeiro?
Então as coisas ficam até mais complicadas (e mais contenciosas) ao decidir quanto de crédito energético ganham os produtos finais. Além da energia contida no etanol ou biodiesel, muitos pesquisadores dão créditos energéticos adicionais para os "sub-produtos" ou sobras, do processo de produção de biocombustíveis. Estas são coisas como grãos de destiladores--os sólidos que sobram quando é moído milho para fazer etanol--isso pode ser alimento de gado, substituindo grãos de outras fontes que eles consumiriam em outro caso. Considerando que eles estão substituindo algo que já está no mercado, muitos proponentes dos biocombustíveis dizem que os sub-produtos deveriam ser contados como créditos na equação do balanço energético.
Tad Patzek, professor no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Berkeley e um dos maiores críticos de biocombustível é autor de vários estudos de balanço energético negativos. Não surpreendentemente, a indústria de biocombustíveis e muitos cientistas rechaçaram suas visões, alegando que seus cálculos usam dados ultrapassados e está baseado em suposições incorretas, inclusive ignorando créditos dos sub-produtos.
Patzek concorda que seus balanços energéticos seriam mais positivos se ele desse crédito para os sub-produtos, mas diz que não faz sentido enérgico fazer isso. "É como se você preparou um grande jantar e então revendeu as sobras para um restaurante local", ele disse. "Revendido ou não, você usou energia para cozinhar aquela comida, e você poderia ter preparado um jantar menor”.
Apesar de críticos como Patzek, a opinião da maioria no mundo acadêmico e na indústria é que o etanol e biodiesel resultam em ganhos de energia líquidos. A maioria dos céticos concede que se o equilíbrio não for positivo agora, no caso do etanol de milho, logo será.
O Brasil dispõe de poucos estudos sobre o balanço energético do biodiesel. O tema é importante e deve ser melhor explorado para fundamentar decisões corretas.
Referências
Macedo, I.C. ; NOGUEIRA, L. A. H. . Biocombustíveis. 1. ed. Brasilia: Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2005. v. 1. 233 p.http://www.ncga.com/ethanol/pdfs/StudySummary.pdf
http://www.ethanol.org/documents/NetEnergyBalanceissuebrief_000.pdf