[Análise] A participação da soja e as principais matérias-primas

Os ministérios envolvidos com o Programa de Biodiesel dizem não saber precisamente com que matéria-prima se produz biodiesel no Brasil. Mas analisando a produção de óleos vegetais e gorduras animais no Brasil podemos facilmente concluir que no mínimo 80% do biodiesel brasileiro é feito com óleo de soja. Por uma razão muito simples: não existe outro óleo vegetal no Brasil com produção expressiva e/ou que tenha preço competitivo.

Vejamos a situação das outras matérias-primas que poderiam concorrer com a soja.

Óleo de mamona. A produção de mamona não é expressiva e a indústria ricinoquímica paga melhor por esse óleo que as usinas de biodiesel. Além disso, a produção brasileira de mamona não tem aumentado - mesmo com todo o apoio recebido do governo -, o que tem limitado a utilização desse óleo a um pequeno percentual da produção de biodiesel.

Óleo de girassol. O país importa esse óleo para atender a demanda alimentícia e o seu preço se mantém cerca de 20% mais caro que o óleo de soja. A utilização do girassol pode estar ocorrendo em pequenas usinas no Mato Grosso onde os produtores do girassol consomem o biodiesel.

Sebo bovino e outras gorduras animais. Essa é a segunda matéria-prima mais utilizada para a produção de biodiesel no Brasil, representando quase 7% de todo o biodiesel produzido. Apesar dessas gorduras serem matéria-prima para inúmeros produtos de primeira necessidade, elas têm potencial para aumentar sua participação. O grupo Bertin, de Lins (SP), que construiu uma usina com capacidade para 90 milhões de litros por ano para usar exclusivamente sebo bovino, não informou produção de biodiesel em janeiro e fevereiro. As gorduras animais podem no futuro corresponder a até 15% de todo o biodiesel produzido no Brasil.

Óleo de cozinha usado. Seu aproveitamento para a produção de biodiesel ainda é inexpressivo.

Canola. Tem uma produção pequena no Brasil e é cara. O que o país produz é destinado à alimentação humana.

Óleo de Dendê. Produção pequena e destinada para a alimentação e exportação. A Agropalma produz biodiesel com a borra do refino desse óleo, mas com uma participação inferior a meio por cento da necessidade de biodiesel para 2008. Dificilmente terá expressão na produção de biodiesel, já que o seu óleo é caro e tem sido utilizado cada vez mais em produtos alimentícios.

Óleo de Algodão. Usado em boa parte pela indústria alimentícia, seu uso para biodiesel restringe-se a pequenas usinas. Sua produção é limitada pela indústria têxtil, o que impede uma maior utilização desse óleo. Outros óleos como o de nabo forrageiro, crambe, pinhão-manso e outras palmeiras têm uma produção ainda inexpressiva ou mesmo inexistente.

Vendo a situação dessas matérias-primas, não há como negar que o biodiesel brasileiro é predominantemente de soja. O governo pode não saber exatamente qual é o percentual de cada matéria-prima utilizada, mas tem meios de chegar muito próximo desse número. Mesmo sem fazer muito esforço.