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Emissões

Produtores de petróleo estão diante de “momento da verdade” do investimento verde, diz AIE


Financial Times - 24 nov 2023 - 10:43

Os gastos dos produtores de petróleo e gás em projetos de energia limpa deveriam representar metade do investimento total anual do setor em 2030 para que estejam alinhados às metas climáticas mundiais, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

O órgão, que atua como supervisor mundial na área energética, também advertiu as empresas de petróleo e gás que investem em novos projetos de captura de carbono que essa tecnologia não deve ser vista como um substituto para a redução de emissões e que ela "não pode ser usada para manter o status quo".

Os produtores de petróleo e gás representam apenas 1% do investimento mundial em energia verde e em 2023 destinaram a essa área US$ 20 bilhões, o equivalente a 2,5% de seu capital, segundo a AIE, de forma que precisariam realizar uma enorme reorientação estratégica de investimentos até 2030 para atingir as metas ambientais.

"A indústria de petróleo e gás está diante de um momento da verdade na COP28 em Dubai", disse o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, referindo-se à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que começa no dia 30 de novembro.

"Com o mundo sofrendo os impactos de uma crise climática cada vez pior, continuar com os negócios como de costume não é social nem ambientalmente responsável."

A análise é a mais incisiva da AIE desde 2021, quando deixou a indústria dos combustíveis fósseis desconcertada ao sustentar que, para atingir as metas climáticas, não poderia haver espaço em seus planos para novos projetos de exploração de petróleo e gás.

A AIE foi fundada após o embargo de petróleo árabe de 1973 para dar assessoria em questões de segurança energética e conta com membros de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como EUA, Reino Unido e Japão.

O novo relatório calcula que os produtores de petróleo e gás precisariam chegar a 2030 com metade de seu orçamento de capital anual alocado a projetos de energia limpa se quiserem estar alinhados com o Acordo de Paris sob o clima de 2019, que almeja limitar o aquecimento mundial médio a bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais ou, como meta ideal, a 1,5°C.

A British Petroleum afirma estar na liderança entre as grandes produtoras de petróleo que tentam reduzir as emissões. Informou que em 2030 cerca de 50% dos gastos de capital do grupo estariam destinados a negócios de "transição", o que inclui os postos de abastecimento com serviços de conveniência e carregamento de veículos elétricos.

No entanto, a empresa de combustíveis fósseis encolheu neste ano seus planos de redução de emissões e reduziu o ritmo de abandono da área de petróleo e gás, diante do aumento dos lucros com essas operações.

As duas superpetrolíferas dos EUA, Chevron e ExxonMobil, optaram por não investir em sua própria geração de energia renovável e, em vez disso, concentraram-se em tecnologias de baixa emissão de carbono, como as relacionadas ao hidrogênio, à captura e armazenamento de carbono e aos biocombustíveis.

A Chevron gastará apenas US$ 2 bilhões de seu orçamento total de gastos de capital, de US$ 14 bilhões, em investimentos na área de baixas emissões de carbono. A Exxon comunicou em dezembro que no total planeja gastar US$ 17 bilhões em iniciativas de menor emissão até o fim de 2027, enquanto os investimentos em bens de capital permaneceriam em US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões ao ano durante o período.

A Shell divulgou que planeja investir cerca de US$ 5 bilhões em média por ano entre 2023 e 2025 em energia de baixas emissões de carbono, em comparação com gastos de capital totais anuais de US$ 22 bilhões a US$ 25 bilhões em 2024 e 2025.

A francesa TotalEnergies da França pretende destinar 33% de seus gastos de capital entre 2023 e 2028, ou cerca de US$ 5 bilhões por ano, para investimentos considerados de baixo carbono.

Nos últimos dois anos, vários produtores de petróleo e gás encolheram os compromissos com energia limpa, em meio ao aumento nos preços do petróleo e gás e à preocupação quanto à segurança energética provocada pela invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia.

Birol disse que as empresas de petróleo têm se mostrado lentas em investir em energia limpa, pois "não veem que vão lucrar" com isso, mas argumentou que o retorno financeiro dos combustíveis fósseis é menos estável e apenas um pouco mais alto que o da energia limpa.

A AIE estimou que o retorno sobre o capital empregado na indústria de petróleo e gás foi de 6% a 9% entre 2010 e 2022, em comparação ao de 6% dos projetos de energia limpa.

As empresas precisavam "abandonar a ilusão de que quantidades incrivelmente grandes de captura de carbono são a solução", acrescentou Birol, com a AIE advertindo que as políticas atuais exigiriam uma quantidade "inconcebível" de 32 bilhões de toneladas de carbono sendo capturadas anualmente até 2050.

"A indústria precisa se comprometer a ajudar genuinamente o mundo a atender a suas necessidades energéticas e metas climáticas", disse.

Rachel Millard – Financial Times