Tecnologia: Segunda geração do biodiesel
Novas tecnologias para produção de biocombustíveis ganham importância e investimentos ao prometer sustentabilidade e bom desempenho
André Amorim, de Curitiba
O viajante do tempo volta do futuro e traz com ele uma tecnologia que transforma o lixo que encontra na rua em combustível para o seu automóvel fantástico. A cena do filme De Volta Para o Futuro 2, sucesso de bilheteria em 1989, serve de ponto de partida para esboçar uma primeira imagem da segunda geração dos biocombustíveis, que utiliza em seus processos a biomassa proveniente de resíduos agroindustriais para produzir energia.
É claro que entre a ficção de Hollywood e a realidade existe uma enorme distância. Hoje, essa modalidade de combustíveis é produzida apenas a título de experimento, dentro de laboratórios e em algumas plantas-piloto. Mesmo assim, é possível observar um crescente interesse por essas tecnologias nos últimos anos. Os chamados combustíveis de segunda geração são objeto de pesquisa em diversos países, principalmente naqueles que não têm grande disponibilidade de recursos naturais, como terras férteis, água e energia solar. Para estes que não podem produzir a mesma quantidade de biomassa possível nos trópicos, a tecnologia renovável se apresenta como uma estratégia de sobrevivência.
Prova disso são os altos investimentos realizados por algumas grandes empresas petrolíferas na pesquisa de biocombustíveis de segunda geração, como a British Petroleum (BP), a Shell e a ExxonMobil, que estão travando uma verdadeira corrida tecnológica. Recentemente, a ExxonMobil anunciou uma parceria com uma companhia de biotecnologia no valor de US$ 600 milhões. A idéia é utilizar algas modificadas geneticamente para produzir hidrocarbonetos (e não mais triglicerídeos, como ocorre com as oleaginosas e com a maioria das algas).
No Brasil, segundo Ney Sarrão, coordenador do programa tecnológico de energias renováveis do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), a estatal irá investir US$ 530 milhões em pesquisas de combustíveis de segunda geração entre 2009 e 2013. O foco dessas pesquisas será a produção de biocombustíveis a partir de microalgas e do bagaço de cana – insumo abundante no Brasil devido à produção de etanol. Além disso, a companhia já domina o H-Bio, processo que combina o uso de matéria-prima renovável no refino do petróleo. O óleo vegetal é misturado com frações de diesel de petróleo para ser hidroconvertido em Unidades de Hidrotratamento presentes dentro das refinarias. A reação se dá em elevada pressão e temperatura, com presença de catalisador metálico. Esse processo melhoraria a qualidade do óleo diesel produzido e reduziria os teores de enxofre. Ele já foi testado industrialmente em seis refinarias da empresa e este ano há previsão de novo teste na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Estado do Rio de Janeiro.
Tamanho interesse se justifica do ponto de vista ambiental. Além de possuírem menos enxofre e óxido de nitrogênio, os biocombustíveis de segunda geração têm um balanço de carbono (relação do carbono que é emitido com o que é recolhido da atmosfera) melhor do que os atuais. A diferença está no fato dos combustíveis de segunda geração não precisarem de metanol, que muitas vezes é gerado a partir de hidrocarbonetos fósseis.
Uma grande vantagem desses novos biocombustíveis é que eles podem ser produzidos a partir de qualquer biomassa lignocelulósica (vegetal) e, portanto, em qualquer local do planeta onde haja alguma oferta de matéria-prima, mesmo que de baixa qualidade. Isso não acontece hoje com os biocombustíveis de primeira geração, que se mostram inviáveis em algumas regiões do mundo onde faltam matrizes energéticas de melhor qualidade.
Outra promessa desses combustíveis é a sustentabilidade, pois aproveita-se os resíduos da agricultura, sem que seja necessário aumentar a área plantada para produzi-los. Com isso, além de não ameaçar a biodiversidade, sua produção não interfere no mercado de alimentos, como pode ocorrer quando insumos – como o milho e a canola – são usados como matéria-prima.
A estrutura tecnológica necessária para produzir os combustíveis do futuro é semelhante à de uma refinaria de petróleo tradicional. A novidade está na matéria-prima utilizada. “A idéia é ter uma biorrefinaria, um complexo industrial onde, ao invés de entrar petróleo, vai entrar bagaço de cana”, exemplifica o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dílcio Rocha. Segundo ele, “tudo que você faz com um barril de petróleo você pode fazer com a biomassa”. Atualmente a Embrapa realiza experiências com sorgo, vários tipos de capim e florestas energéticas como pinus, eucalipto e tachi-branco, uma espécie de árvore nativa.
André Amorim, de Curitiba
O viajante do tempo volta do futuro e traz com ele uma tecnologia que transforma o lixo que encontra na rua em combustível para o seu automóvel fantástico. A cena do filme De Volta Para o Futuro 2, sucesso de bilheteria em 1989, serve de ponto de partida para esboçar uma primeira imagem da segunda geração dos biocombustíveis, que utiliza em seus processos a biomassa proveniente de resíduos agroindustriais para produzir energia.
É claro que entre a ficção de Hollywood e a realidade existe uma enorme distância. Hoje, essa modalidade de combustíveis é produzida apenas a título de experimento, dentro de laboratórios e em algumas plantas-piloto. Mesmo assim, é possível observar um crescente interesse por essas tecnologias nos últimos anos. Os chamados combustíveis de segunda geração são objeto de pesquisa em diversos países, principalmente naqueles que não têm grande disponibilidade de recursos naturais, como terras férteis, água e energia solar. Para estes que não podem produzir a mesma quantidade de biomassa possível nos trópicos, a tecnologia renovável se apresenta como uma estratégia de sobrevivência.
Prova disso são os altos investimentos realizados por algumas grandes empresas petrolíferas na pesquisa de biocombustíveis de segunda geração, como a British Petroleum (BP), a Shell e a ExxonMobil, que estão travando uma verdadeira corrida tecnológica. Recentemente, a ExxonMobil anunciou uma parceria com uma companhia de biotecnologia no valor de US$ 600 milhões. A idéia é utilizar algas modificadas geneticamente para produzir hidrocarbonetos (e não mais triglicerídeos, como ocorre com as oleaginosas e com a maioria das algas).
No Brasil, segundo Ney Sarrão, coordenador do programa tecnológico de energias renováveis do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), a estatal irá investir US$ 530 milhões em pesquisas de combustíveis de segunda geração entre 2009 e 2013. O foco dessas pesquisas será a produção de biocombustíveis a partir de microalgas e do bagaço de cana – insumo abundante no Brasil devido à produção de etanol. Além disso, a companhia já domina o H-Bio, processo que combina o uso de matéria-prima renovável no refino do petróleo. O óleo vegetal é misturado com frações de diesel de petróleo para ser hidroconvertido em Unidades de Hidrotratamento presentes dentro das refinarias. A reação se dá em elevada pressão e temperatura, com presença de catalisador metálico. Esse processo melhoraria a qualidade do óleo diesel produzido e reduziria os teores de enxofre. Ele já foi testado industrialmente em seis refinarias da empresa e este ano há previsão de novo teste na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Estado do Rio de Janeiro.
Tamanho interesse se justifica do ponto de vista ambiental. Além de possuírem menos enxofre e óxido de nitrogênio, os biocombustíveis de segunda geração têm um balanço de carbono (relação do carbono que é emitido com o que é recolhido da atmosfera) melhor do que os atuais. A diferença está no fato dos combustíveis de segunda geração não precisarem de metanol, que muitas vezes é gerado a partir de hidrocarbonetos fósseis.
Uma grande vantagem desses novos biocombustíveis é que eles podem ser produzidos a partir de qualquer biomassa lignocelulósica (vegetal) e, portanto, em qualquer local do planeta onde haja alguma oferta de matéria-prima, mesmo que de baixa qualidade. Isso não acontece hoje com os biocombustíveis de primeira geração, que se mostram inviáveis em algumas regiões do mundo onde faltam matrizes energéticas de melhor qualidade.
Outra promessa desses combustíveis é a sustentabilidade, pois aproveita-se os resíduos da agricultura, sem que seja necessário aumentar a área plantada para produzi-los. Com isso, além de não ameaçar a biodiversidade, sua produção não interfere no mercado de alimentos, como pode ocorrer quando insumos – como o milho e a canola – são usados como matéria-prima.
A estrutura tecnológica necessária para produzir os combustíveis do futuro é semelhante à de uma refinaria de petróleo tradicional. A novidade está na matéria-prima utilizada. “A idéia é ter uma biorrefinaria, um complexo industrial onde, ao invés de entrar petróleo, vai entrar bagaço de cana”, exemplifica o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dílcio Rocha. Segundo ele, “tudo que você faz com um barril de petróleo você pode fazer com a biomassa”. Atualmente a Embrapa realiza experiências com sorgo, vários tipos de capim e florestas energéticas como pinus, eucalipto e tachi-branco, uma espécie de árvore nativa.