Babacu

O biodiesel produzido a partir de babaçu, uma espécie de palmeira comum no Norte e Nordeste do Brasil, emite menos poluentes que o biodiesel de soja e tem desempenho parecido em motores geradores. A conclusão é de um estudo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que comparou pela primeira vez os dois biocombustíveis em um motor gerador a diesel comum, do tipo usado para produção de eletricidade em pequenas propriedades rurais. O trabalho é assinado por Benhurt Gongora, Reinaldo Bariccatti, Samuel de Souza, Doglas Bassegio e Rodrigo Sequine e foi divulgado pela Agência Bori.

Os pesquisadores produziram biodiesel puro de babaçu por meio de reação química com álcool e soda cáustica e, depois, testaram diferentes proporções do combustível misturado ao diesel fóssil, procedimento replicado com o biodiesel de soja. Durante a operação do motor, foram monitoradas eficiência energética – ou seja, a quantidade de cada combustível necessária para gerar a mesma potência – e emissões de poluentes, especialmente óxidos de nitrogênio (NOx) e monóxido de carbono (CO).

Os resultados apontam que o biodiesel de babaçu gerou a mesma energia com menor consumo de combustível e menor emissão de poluentes em comparação ao biodiesel de soja e aos “blends” formados por misturas de óleos vegetais. A descoberta reforça uma correlação encontrada em outros estudos da área: combustíveis com mais ácidos graxos saturados, como o de babaçu, tendem a produzir menos poluentes do que combustíveis insaturados como o de soja.

“O biodiesel do babaçu se aproxima mais da qualidade do diesel fóssil do que o feito de soja, por ser mais fluido. Sua combustão também é mais rápida, o que reduz a emissão de poluentes”, afirma o químico Benhurt Gongora, um dos autores da pesquisa. Ele adiciona ainda que o biodiesel de babaçu pode ser armazenado por mais tempo que o de soja, por demorar mais para oxidar.

Gongora afirma que a pesquisa foi motivada por uma falta de análises comparativas entre a soja e o babaçu como matérias-primas do biodiesel, além da avaliação das emissões de cada um. Segundo ele, o babaçu pode ampliar a autonomia energética em regiões isoladas do Sistema Interligado Nacional (SIN), onde comunidades extrativistas dependem do transporte de combustível de outras regiões. A produção, afirma, pode ser feita com sementes não destinadas ao consumo e não exige equipamentos complexos.

A soja responde atualmente por 74% da produção de biodiesel no país, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Embora o aumento da mistura obrigatória ao diesel fóssil tenha impulsionado a oferta do biocombustível, a dependência da soja traz riscos de segurança energética, diante da volatilidade das safras.

Os pesquisadores apontam que o uso do babaçu como matéria-prima pode fortalecer cadeias produtivas no Norte e Nordeste e ampliar o acesso à energia renovável em comunidades extrativistas, eliminando a necessidade de transportar combustível de outras regiões. Segundo Gongora, a produção pode ser feita com as sementes não utilizadas para consumo e não exige equipamentos complexos. Outras oleaginosas também servem para a produção do combustível.

O Brasil produziu mais de 25 mil toneladas de babaçu em 2024, de acordo com o levantamento de Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os produtos derivados da palmeira incluem o óleo, usado em cosméticos, alimentos e artesanato, as amêndoas verdes para produção de leite vegetal, o mesocarpo usado na fabricação de farinha e o estipe, que serve como adubo natural.

A produção se concentra em Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, onde o manejo do babaçu compõe a renda de milhares de famílias. Nesses estados atua o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que defende os direitos de povos e comunidades tradicionais ligadas ao extrativismo.

A mobilização resultou na criação das leis estaduais conhecidas como “Babaçu Livre”, que proíbem a derrubada das palmeiras, garantem acesso das quebradeiras aos babaçuais, vetam o uso de agrotóxicos e estimulam a regularização fundiária das áreas de floresta. O primeiro território tradicional reconhecido – Vila Esperança, no Piauí – tornou-se referência do modelo.

Gabriella Franco – Valor Econômico

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