BiodieselBR.com 27 out 2020 - 10:50 - Última atualização em: 27 out 2020 - 14:10

Cinco anos atrás, a primeira carga de metanol comercializado pela Southern Chemical Corporation (SCC) chegava ao porto de Paranaguá. Muita coisa aconteceu de lá para cá. Para atender melhor às necessidades de seus clientes globais, em meados de 2018, a empresa se associou à alemã Helm e a Proman para formar a Helm Proman Methanol (HPM) – bandeira sob a qual e consolidou todas suas operações de marketing nesse segmento. Hoje, a empresa movimenta cerca de 6 milhões de toneladas de metanol por ano ao redor do globo. No Brasil, a HPM é dona de praticamente um quarto da demanda do insumo. É, também, uma das parceiras de BiodieselBR.com na realização da Conferência BiodieselBR 2020.

Para falar sobre a transição da empresa e as perspectivas do mercado de metanol também no Brasil quanto no mundo, BiodieselBR.com conversou com o atual diretor comercial de Químicos da Helm do Brasil, Sérgio Melchert.

BiodieselBR.com – Da primeira vez que conversamos, o seu cartão de visitas era da Southern Chemical Corporation (SCC). Agora ele é Helm do Brasil. Como foi costurada essa nova estrutura corporativa?

Sérgio Melchert – Bem observado! Entre outros fatores, tal movimento teve origem na necessidade de atendermos a uma demanda dos nossos clientes por contratos globais. Foi isso o que levou à unificação dos esforços da Helm, da Southern Chemical Corporation (SCC) e da Proman na formação da Helm Proman Methanol (HPM). Atualmente, é a HPM que comercializa todo o metanol fabricado pelo grupo ao redor do mundo. Aqui no Brasil o time da SCC foi integrado à estrutura da Helm do Brasil, trazendo para o mercado local mais uma opção de comercialização de metanol.

BiodieselBR.com – Qual é o porte dessa nova operação?

Sérgio Melchert – Tenho o privilégio de fazer parte de uma empresa que comercializa aproximadamente 6 milhões de toneladas todos os anos com sites de produção localizados em Trinidad, Omã e nos Estados Unidos.

BiodieselBR.com – A entrada do grupo no mercado brasileiro é relativamente recente. Qual é o peso da operação de metanol dentro do portfólio de negócios da Helm no Brasil?

Sérgio Melchert – É verdade. Este ano completamos cinco anos de atuação no Brasil, mas note que experimentamos um forte crescimento desde a chegada de nosso primeiro navio em outubro 2015. Pelo terceiro ano consecutivo, somos o segundo maior player do mercado nacional com uma participação estimada em 26% e temos mais de 15 parceiros estratégicos em nossa carteira de clientes entre os quais grandes empresas no segmento biodiesel e o maior consumidor de metanol do país no segmento formaldeído. Nesse meio tempo, montamos uma estrutura logística que nos permite a sonhar mais alto. Em virtude de todos estes pontos, tornamos o metanol o principal produto de comercialização da Helm do Brasil no setor químico.

BiodieselBR.com – Qual é a estrutura que a Helm dedica atualmente ao produto metanol aqui no Brasil?

Sérgio Melchert – Temos um time local dedicado ao metanol, com grande experiência. São mais de 13 anos na gestão e comercialização do produto. Separamos os negócios em importação direta e vendas locais de produto nacionalizado. Em Houston, utilizamos a estrutura da nossa matriz regional para ter o apoio quanto a comercialização, produção e embarques dos nossos navios dedicados. No Brasil, além do time de apoio comercial, temos todo o suporte da Helm do Brasil para as atividades locais de faturamento, crédito, logística e outras atividades relacionadas ao negócio. Fazemos também a gestão dos terminais onde atuamos, que somam mais de 100.000 m³ disponíveis nos portos de Paranaguá e de Santos.

BiodieselBR.com – Há novos investimentos previstos para esse segmento nos próximos anos?

Sérgio Melchert – Por se tratar de um produto que pode ser uma fonte de energia “verde”, a indústria do metanol vem fazendo fortes investimentos, especialmente nos Estados Unidos onde busca aproveitar o gás de xisto abundante e competitivo. Recentemente completamos, em parceria com o grupo OCI, a construção de uma planta com capacidade para fabricar de 1,75 milhões de toneladas de metanol chamada Natgasoline. Temos um segundo projeto para uma fábrica com capacidade de 1,4 milhões de toneladas que ficará pronta nos próximos anos.

BiodieselBR.com – E no Brasil?

Sérgio Melchert – No Brasil, os nossos investimentos estão focados na expansão de nossa capacidade logística para buscar melhorar o atendimento aos nossos clientes e prestar um excelente serviço.

BiodieselBR.com – De que forma a vocês avaliam as perspectivas do mercado brasileiro de biodiesel para os próximos anos?

Sérgio Melchert – Acreditamos no crescimento da indústria do biodiesel, não só por um aumento no consumo de diesel, mas, também, pelo crescimento da mistura obrigatória. Os fabricantes de biodiesel também vêm aumentando sua capacidade produtiva. Note que, em virtude do forte crescimento desta indústria nos últimos anos, ela já representa a maior parcela do consumo de metanol no Brasil.

BiodieselBR.com – O ano de 2020 foi bastante desafiador para toda a economia. Como o mercado de metanol foi afetado?

Sérgio Melchert – Sem dúvida! Podemos analisar o tema por dois lados. Do lado da demanda, podemos dizer analisando os segmentos em que atuamos, que o segmento do biodiesel não foi tão severamente afetado como outros setores. Houve a retração no consumo durante alguns meses, porém percebermos que a atividade já voltou aos níveis pré-pandemia. Do lado da oferta, muitas plantas de metanol da região foram hibernadas e tiveram dificuldades no retorno, o que restringiu a obtenção do produto no mercado local. Ressaltamos que a existência de contratos entre os fornecedores e clientes que não dependam do mercado spot ajuda muito em momentos de incerteza como este.

BiodieselBR.com – Os preços do metanol tiveram uma queda importante nos últimos meses e agora voltaram a ganhar tração. Como estão os fundamentos do mercado agora?

Sérgio Melchert – O preço do metanol em geral é impactado por duas variáveis: preço do petróleo e o equilíbrio regional entre oferta e demanda que, no nosso caso, tem sua referência no Golfo Americano. No primeiro momento da pandemia, o preço do petróleo derreteu levando consigo o preço do metanol. Em um segundo momento, com a recuperação parcial do preço do petróleo e desequilíbrio regional entre oferta e demanda, estamos vivenciando uma recuperação dos preços.

BiodieselBR.com – Tradicionalmente, o Brasil é um importador de metanol em função dos preços relativamente elevados do gás natural por aqui. Com a entrada do gás natural do pré-sal, há uma perspectiva de que aconteça uma redução significativa nesse custo. Esse barateamento seria suficiente para atrair para cá investimentos na produção de metanol?

Sérgio Melchert – Difícil competir com os preços do gás de xisto dos Estados Unidos. Idealmente, uma planta de metanol tem que ter uma capacidade acima de 1 milhão toneladas e estar localizada literalmente em cima de uma fonte gás de fácil acesso e de custo competitivo. Infelizmente, não é o que encontramos no pré-sal, onde temos grandes desafios logísticos devido à localização da fonte de gás que está acerca de 7.000 metros de profundidade e a mais de 200 quilômetros da costa.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com