BiodieselBR.com 26 out 2022 - 08:23

Dona de uma fatia de quase 13% do mercado global de metanol – movimentando sozinha 11,5 milhões de toneladas apenas no ano passado –, a Methanex está empenhada em garantir que seu principal produto chegue ao outro lado da transição energética. Para tanto, a empresa vem investindo para reduzir as emissões de seu parque produtivo atual e se preparando para mudanças na base tecnológica do segmento.

Para entender melhor como a empresa vem se posicionando para transformar a transição energética em novas oportunidades, BiodieselBR.com conversou com o diretor de Marketing e Logística para a América Latina, Sergio Almarza, e a diretora Corporativa de Sustentabilidade, Katey Grist.

BiodieselBR.com – Pelo paradigma tecnológico atual, o metanol continua sendo um produto de origem fóssil. Como a Methanex vem trabalhando para reduzir sua pegada de carbono?

Sergio Almarza – Como maior produtor e fornecedor mundial de metanol, a Methanex está comprometida em desempenhar um papel ativo na transição para uma economia de baixo carbono. Tem vário fatores que afetam a intensidade de carbono de nosso metanol e nós estamos trabalhando continuamente para reduzir as emissões de nossas plantas existentes com foco em manter a confiabilidade, maximizar a eficiência de conversão do gás natural, injetar o gás carbônico recuperado durante a produção, testar o uso de um novo catalisador e avaliar potenciais projetos de redução de gases do efeito estufa (GEEs) em todos os nossos sites.

BiodieselBR.com – Você falou das ‘plantas existentes’. E plantas futuras como a que vocês estão construindo no complexo de Geismar?

Sergio Almarza – A construção de novas fábricas permite migrar para tecnologias mais avançadas, capazes de reduzir a intensidade de carbono das operações. O nosso portfólio atual emite aproximadamente de 0,6 tonelada de CO2 para cada tonelada de metanol produzida. Esperamos que a planta Geismar 3 tenha uma intensidade de 0,4 tonelada. Cerca de um terço menos do que nosso parque industrial atual e muito abaixo das plantas de metanol à base de carvão que emite, em média, de 3,2 toneladas de carbono para cada tonelada fabricada. Além disso, nossa equipe está desenvolvendo um novo processo para a produção do metanol que poderia operar com aproximadamente metade da intensidade de CO2 em comparação com os atuais. As emissões poderiam chegar perto de zero se uma quantidade substancial de eletricidade verde estiver disponível. Comprometemos US$ 1 milhão em capital e recursos humanos para iniciar o processo de comprovação da tecnologia que ainda deve demorar para ser comercialmente viável.

BiodieselBR.com – Qual é a meta de descarbonização das atividades da Methanex e qual é o porte dos investimentos que já estão previstos para atingir esse objetivo?

Katey Grist – Para as operações já existentes e mais a unidade Geismar 3, nós acreditamos que seja realista, alcançarmos redução de 10% na intensidade das emissões de Escopo 1 e Escopo 2 até 2030. Escolhemos 2019 como nosso ano base, pois foi o último ano em que todas as nossas fábricas funcionaram e é considerado uma linha de base realista da intensidade de emissões para nosso conjunto atual de ativos. Um dos trunfos para atingir essa meta é Geismar 3 que é um projeto de US$ 1,4 bilhão. Temos orgulho em investir em tecnologia de redução das emissões e que esses investimentos estejam integrados ao nosso processo regular de orçamento e alocação de capital. É o caso do anúncio do um investimento que faremos para melhorar a tecnologia das instalações de Motunui, na Nova Zelândia. Esse projeto têm o potencial de reduzir nossas emissões de carbono em mais de 50 mil toneladas por ano. É o equivalente a 20 mil carros fora das estradas.

BiodieselBR.com – O relatório de sustentabilidade da Methanex dá bastante atenção às tecnologias de Captura, Armazenamento e Uso de Carbono (CCUS, na sigla em inglês). Essa já é uma opção madura para ser implementada pela Methanex?

Katey Grist – CCUS é uma tecnologia comprovada, mas que continua a evoluir. O objetivo do estudo de viabilidade que estamos realizando é garantir que entendemos adequadamente a tecnologia, seu potencial, as opções que temos para o armazenamento do CO2 e os incentivos de capital disponíveis por parte dos governos. A Lei de Redução da Inflação nos EUA forneceu incentivos fiscais positivos adicionais que apoiam a viabilidade do CCUS naquele país.

Sergio Almarza – O CCUS tem o potencial de reduzir significativamente as emissões de CO2 em nossas unidades de Medicine Hat e Geismar, podendo chegar a até 90% de nossas emissões do Escopo 1, mas atualmente requer apoio do governo ou preços mais altos de metanol para ser economicamente viável. Também é preciso ter acesso a formações geológicas que armazenem o gás carbônico.

BiodieselBR.com – De que forma a Methanex vem observando o desenvolvimento o chamado ‘metanol verde’?

Sergio Almarza – Estamos atentos às novas tecnologias potenciais como o metanol verde. De modo geral, contudo, acreditamos que as condições para viabilizar essas tecnologias de forma mais significativa ainda estão no futuro. Hoje, o mercado de metanol verde ou renovável é muito pequeno. Muitas empresas, especialmente na indústria naval, estabeleceram metas de descarbonização e o metanol renovável poderia desempenhar um papel importante porque há menos ou nenhum carbono associado à sua combustão. Isso é particularmente interessante em mercados emergentes – como o de combustíveis marítimos – que consideramos uma futura oportunidade. As metas de descarbonização desses clientes podem ajudar a criar condições para que esses projetos se tornem competitivos com o tempo.

BiodieselBR.com – Em sua opinião, há condições de mercado para suportar a produção de ‘metanol verde’ em escala? O que teria que ser feito por mercados/governos para acelerar a adoção?

Katey Grist – Hoje, nossa visão é que as condições para sustentar um investimento em metanol verde ainda estão muito distantes. Ainda há um longo caminho para que essa nova opção se torne competitiva em termos de custos que inclui: melhorias tecnológicas e ganho de escala de fabricação; queda nos preços da energia renovável e disponibilidade de fontes concentradas de gás carbônico que sirvam de matéria-prima. Além disso, do lado da demanda, a disposição dos clientes em pagar um preço mais alto é um fator chave para suportar o aumento do custo de produção de metanol verde.

BiodieselBR.com – Como a Methanex vem atuando para criar essas condições?

Sergio Almarza – Para acelerar esse processo estamos trabalhando ativamente com clientes em potencial de forma a ajudar a educá-los sobre alternativas de produção de metanol verde, ao mesmo tempo em que destacamos os benefícios do metanol convencional na transição para um futuro de baixo carbono. Além disso, como parte de nossa associação com o Methanol Institute (MI), vários membros da equipe Methanex são participantes ativos de comitês que fazem esse desenvolvimento do mercado. Em 2020, o MI divulgou um relatório em parceria com a Agência Internacional de Energia Renovável que oferece recomendações para a aceleração do metanol renovável.

BiodieselBR.com – Embora vocês concordem que é um mercado incipiente, a Methanex está envolvida em pelo menos dois projetos de metanol verde, um é uma parceria com a CRI que prevê o aproveitamento de gás carbônico de grandes emissores e um em Geismar para a produção de metanol a partir de biometano. Como esses dois projetos vêm caminhando?

Sergio Almarza – Embora o projeto na Islândia no qual investimos com a CRI ainda não esteja operando comercialmente, por meio dele continuaremos monitorando os avanços na tecnologia, no mercado e na viabilidade comercial dessa rota. Também podemos produzir biometanol certificado de baixo carbono na Geismar. Em 2020, obtivemos a certificação que permite a venda para mercados da Europa regulamentados sob a Diretiva de Energia Renovável II. Estamos explorando a disponibilidade de matérias-primas renováveis para que possamos nos posicionar para atender às solicitações de clientes de metanol com baixo teor de carbono. Embora o custo do gás renovável seja significativamente maior do que o custo do gás natural convencional, ter esse certificado em Geismar nos permite responder rapidamente a mudanças na demanda desde que o preço reflita o aumento nos custos.

BiodieselBR.com – As emissões de gases do efeito estufa não são único problema ambiental do mundo. Que outras iniciativas a Methanex vem desenvolvendo para melhorar a performance ambiental de suas operações?

Katey Grist – Nossos esforços de governança e gestão do meio ambiente, saúde, segurança e questões comunitárias estão detalhadamente descritos em nosso Relatório de Sustentabilidade de 2021. Eles são informados por nosso comprometimento com o conceito de Responsible Care [Atuação Responsável] e os Princípios para a Sustentabilidade – que é uma iniciativa da indústria química. Os objetivos da Atuação Responsável incluem a fabricação química segura, responsável e sustentável e são centrais para nossa cultura, por isso trabalhamos continuamente para melhorar nosso desempenho e defendemos esses princípios junto a colegas, clientes e parceiros de negócios.

BiodieselBR.com – Considerando que nossos leitores vêm do setor de biodiesel, não temos como evitar abordar a questão dos preços do metanol. No rebote da pandemia, os preços subiram bastante e se mantiveram elevados durantes todo ano passado e em boa parte deste. Quais foram os drivers dessa alta e quais as perspectivas para o mercado?

Sergio Almarza – Os aumentos nos preços globais da energia puxaram os preços do metanol. No médio prazo, as perspectivas para o mercado são atraentes, pois há capacidade limitada de fornecimento entrando em operação e as taxas operacionais para o setor provavelmente permanecerão restritas devido às limitações tanto de preços quanto de disponibilidade de matérias-primas e problemas de tecnologia. Com a demanda prevista para crescer ao nível do PIB, é provável que a demanda supere a oferta durante este período, pressionando a indústria de metanol.

BiodieselBR.com – A Guerra na Ucrânia afetou as cotações do gás natural que é o insumo básico da indústria. Como a Methanex tem agido para buscar para reduzir os riscos?

Sergio Almarza – Nossa estrutura de custos para o gás fora da América do Norte está vinculada aos preços do metanol, o que reduz o risco do custo do gás natural e nos permite manter a competitividade. Na América do Norte, temos um programa de hedge em vigor, com o objetivo de cobrir 65% de nossas necessidades de gás natural. No próximo ano, estaremos protegidos em 85%. Isso reduz a quantidade de gás que precisamos comprar no mercado spot e, consequentemente, nossa exposição a flutuações de preços mais abruptas.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com