BiodieselBR.com 28 out 2022 - 08:46 - Última atualização em: 31 out 2022 - 11:03

Este não foi um ano dos mais fáceis para quem opera com metanol no Brasil. Com a mistura de biodiesel restrita a 10%, a demanda pelo insumo praticamente não saiu do lugar. Embora reconheça que isso teve impacto em seus negócios no país, a Helm Proman Methanol (HPM) reforçou o portfólio de serviços disponível para seus clientes e se prepara para começar a levar seu metanol para outros mercados regionais.

Para entender melhor os planos da empresa para o Brasil e o contexto global do mercado de metanol, BiodieselBR.com conversou com o diretor comercial da Helm do Brasil, Sérgio Melchert.

BiodieselBR.com – Este foi um ano bastante complicado para o setor de biodiesel com o governo mantendo a mistura em 10%, de que forma isso impactou os negócios da HPM?

Sérgio Melchert – O setor de biodiesel representa a maior parcela da demanda do metanol no país; qualquer mudança na mistura, portanto, impacta diretamente nas vendas. Neste sentido, apesar de termos observado um crescimento no segmento de químicos, acreditamos que o mercado total de metanol no Brasil não irá crescer em 2022. Devemos igualar os níveis de 2021 quando foram consumidas 1,4 milhão de toneladas de metanol. Como não poderia deixar de acontecer, as vendas da HPM foram afetadas. Porém, como contamos com uma carteira de clientes diversificada, os impactos foram mínimos.

BiodieselBR.com – Atualmente qual é o share da empresa do mercado brasileiro de metanol? Que cartas a empresa tem na manga para aumentar sua presença?

Sérgio Melchert – Atualmente temos 30% de participação de mercado nacional e estamos trabalhando para oferecer cada vez mais serviços diferenciados aos nossos clientes. Neste ano, além das vendas diretas e de distribuição de metanol, introduzimos o serviço de entregas pela modalidade CIF na nossa operação de revenda. Para 2023, estamos trabalhando para aumentar a nossa presença em outras regiões do País para além de nossas operações nos portos de Santos, Paranaguá e Rio Grande.

BiodieselBR.com – O mercado global de metanol vem passando por alguns solavancos nesses últimos anos, não? Quais os fatores que mais pesaram na formação dos preços do produto?

Sérgio Melchert – É verdade! Sempre comentamos que dois fatores afetam o preço do metanol. O primeiro deles é equilíbrio entre a oferta e demanda do produto. E o segundo está relacionado ao valor energético do metanol que, normalmente, acompanha as variações do barril de petróleo. Adicionalmente podemos mencionar o custo do gás natural como um terceiro fator relevante. Assim sendo, não é difícil entender a fonte destes ‘solavancos’ vividos pela indústria do metanol já que experimentamos recentemente grandes alterações nestes fatores. Nesses últimos anos tivemos problemas na produção do metanol e a entrada de novos fabricantes que afetaram o balanço entre oferta e demanda principalmente no mercado regional. Também tivemos variações bruscas nas cotações do petróleo e do gás natural.

BiodieselBR.com – Apesar de um salto importante em abril e da instabilidade no que a guerra entre Rússia e Ucrânia vem causando no mercado de energia, os preços do metanol vêm caindo ao longo dos últimos seis meses. Como a HPM vem conseguindo sustentar essa queda?

Sérgio Melchert – O conflito na Ucrânia obrigou um rearranjo no mercado de metanol na Europa já que a Rússia era uma importante fornecedora para todo o continente. Além disso, também pressionou o custo da energia no mundo. Só que, na região do Golfo do México, vimos um aumento da produção de metanol e a entrada efetiva de novas fábricas. Isso trouxe um maior equilíbrio entre a oferta e demanda e, por consequência, um ajuste nos níveis de preços em termos regionais.

BiodieselBR.com – Embora os mercados sejam entidades notoriamente caprichosas e difíceis de prever, qual a expectativa da HPM para o mercado? Que variáveis podem vir a afetar o cenário?

Sérgio Melchert – O metanol é uma commodity e, portanto, é difícil ter previsibilidade. O que podemos comentar é que os preços atuais do gás natural no Golfo vêm gerando uma certa preocupação em relação aos custos de produção. Afinal, este insumo representa cerca de 85% do custo variável do metanol. Nossa expectativa é que os preços do gás voltem logo para patamares entre US$ 3 ou US$ 4 por milhão BTUs. Nós também acreditamos que os impactos causados pela mudança na relação entre oferta e demanda na região sejam mais suaves daqui para frente, uma vez que o mercado já vem precificando este novo equilíbrio. No Brasil, acreditamos no programa RenovaBio e esperamos uma mistura maior para 2023, de modo que devemos ter uma recuperação de demanda do metanol.

BiodieselBR.com – Junto com a Shell e outros parceiros vocês fazem parte de um projeto que prevê a construção de uma planta que pretende usar resíduos não recicláveis e florestais na produção de metanol. Qual é o porte deste investimento e como está o andamento do projeto?

Sérgio Melchert – É com orgulho que estamos investindo neste projeto que junta os governos da província de Quebec e do Canadá, Shell, Enerkem e Suncor Energy para produzir metanol verde. A expectativa é que a primeira etapa da planta esteja pronta para começar a operar até o final do próximo ano e passe a transformar 200 mil toneladas de resíduos não renováveis em aproximadamente 100 mil toneladas de metanol a cada ano.

BiodieselBR.com – Qual o nível de maturidade do chamado metanol verde? Você acredita que já seria possível fabricar metanol renovável em escala a preços competitivos?

Sérgio Melchert – Estamos numa fase inicial da produção do metanol verde. Portanto, sendo necessário o apoio dos governos para justificar os maiores custos de produção. Mas acreditamos no futuro deste produto. Assim como outros produtos sustentáveis ou de menor intensidade de carbono, o metanol verde naturalmente terá um valor agregado mais alto para os seus parceiros de negócios, justificando um preço mais elevado de forma a cobrir os custos de produção. O mercado global evoluirá com o tempo.

BiodieselBR.com – E quem vocês imaginam que vá demandar o metanol verde?

Sérgio Melchert – Ele tem um potencial interessante para o setor marítimo, que vem buscando opções para descarbonizar suas atividades. Além disso, o metanol verde tem potencial em outros segmentos de mercado, sendo possível a utilização como combustível, como aditivo para a gasolina ou no abastecimento de geradores portáteis.

BiodieselBR.com – Falando o uso naval, já tem algum tempo os produtores de metanol vêm apostando que seu produto pode ser uma opção para a descarbonização da navegação. Como a HPM vem trabalhando esse novo mercado?

Sérgio Melchert – Sem dúvida. A HPM está operando com navios ‘flex’ que podem usar tanto metanol quanto com diesel em sua frota própria. Já temos duas embarcações assim e vamos incorporar mais duas ao longo de 2023. Cada navio consume algo em torno de 12 mil toneladas de metanol ao ano o que irá contribuir para descarbonização das suas operações. A nível, mundial, grandes empresas como a Maersk vêm anunciando investimentos na mesma direção. Acreditamos que o metanol é a melhor opção para a descarbonização do setor naval.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com