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Leilões de biodiesel

O aperto da oferta de biodiesel no 27º leilão


BiodieselBR.com - 28 set 2012 - 09:52 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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A metade do que poderiam. Foi isso o que as usinas de biodiesel colocaram a disposição do mercado no 27º Leilão de Biodiesel da ANP. Se quisesse, a indústria poderia colocar a venda a cada trimestre mais de 1,66 bilhão de litros de biodiesel, mas, contabilizado o resultado da segunda etapa do certame, o mercado teve que se contentar com menos de 850 milhões de litros.

O leilão chegou ao fim esta semana com a aquisição de 773 milhões de litros, ou seja, 91% de todo o biodiesel ofertado foi adquirido. Apesar da baixa oferta, o mercado não deverá ficar sem o B5 durante o quarto trimestre. Mas a mensagem foi clara: problemas no mercado de soja trazem risco para o abastecimento do biocombustível.

Desde o final de agosto já se sabe que os usineiros estão desgostosos com os preços máximos de referência (PMRs) definidos pela ANP. Nessa época, já havia quem apostasse que muitas usinas entrariam na disputa com sua capacidade de oferta reduzida.

Foi precisamente o que aconteceu. Na comparação com o leilão 26, realizado em junho, sobraram 247 milhões de litros, contra 75 milhões de litros do leilão desta semana.

Motivos
Para entender melhor os motivos, BiodieselBR procurou diversos empresários do setor que alegaram uma série de motivos para a pouca oferta. O mais comum, previsivelmente, foi a relação pouco favorável entre o custo da matéria-prima e os PMRs.

Contudo, essa não foi a única razão apontada. Entre os entrevistados, vários lembraram que a situação da oferta de metanol ainda não está normalizada nos portos e que as recentes escaramuças entre o governo federal e os caminhoneiros por conta da chamada Lei do Descanso – a Lei 12.619 que limita o número de horas que os motoristas de caminhão podem dirigir durante um dia – não tem ajudado em nada o insumo chegar mais rápido às usinas do interior.

Mais de uma das fontes dessa reportagem contou histórias sobre usinas que tiveram de paralisar atividades por falta de metanol, o que teria feito com que o setor chegasse ao leilão preocupado com a capacidade real de produção dentro desse contexto. Diminuir as ofertas seria uma forma de minimizar o perigo de tomar multas ou até de levar uma punição mais severa.

Houve até quem lembrasse do final das vendas entre as usinas para justificar a redução.  Até agora, as usinas podiam comprar 10% do volume que haviam vendido no leilão de outras usinas, no edital do leilão 27 essa janela foi fechada.

Saiba os que as usinas pensam

Adilton Sachetti, presidente da Cooperbio
Volume que a empresa ofertou no L26: 25 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 18 milhões de litros
“Para nós o problema foi preço. O PMR da ANP levou em conta só o preço em Chicago sem considerar que houve um descolamento entre o preço lá e o do Mato Grosso. A maioria reduziu a oferta porque o óleo de soja está caro, se o preço fosse mais atrativo teríamos ofertado mais. Nossa oferta foi limitada ao óleo que a gente tinha estocado, mas para comprar mais óleo para fazer biodiesel ficou impossível porque não teria viabilidade financeira.

O metanol também nos preocupa, no trimestre passado não conseguimos fazer 100% das entregas porque ficamos sem metanol. Esperamos que isso se normalize até o final do ano.”

Carlos Omar Polastri, diretor-executivo Cesbra
Volume que a empresa ofertou no L26: 7,5 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 5 milhões de litros
“Com não dá para simplesmente parar a usina, então você oferta um volume menor de produto num cenário em que você tem insegurança na oferta de matéria-prima. Assim, você se defende oferecendo menos para que, se a situação for muito ruim, você se dar menos mal. Temos um PMR que não atende os custos, temos falta de óleo de soja no mercado e incertezas em relação ao metanol. Essa é uma realidade simples e todo mundo sabia que isso ia acontecer.”

Eduardo Bundyra, diretor-presidente Biotins
Volume que a empresa ofertou no L26: 5 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 0 litros
“No meu caso a conta simplesmente não fechou, e não fechou por muito, mesmo pensando em matérias-primas alternativas como a gordura de babaçu ou o óleo de peixe. Eu fui surpreendido negativamente com os preços de referência aqui na Região Norte. Acho estranho que enquanto o Nordeste tem um PMR bem melhor, o Norte tenha um preço muito parecido com o Sudeste. Tanto é que nenhuma das usinas do Tocantins, que estiveram em praticamente todos os leilões anteriores, participaram do leilão 27. “

Posição oficial da Camera
Volume que a empresa ofertou no L26: 74 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 42 milhões de litros
“Entendemos que a oferta foi menor em decorrência da redução na disponibilidade, em especial na região Sul, da soja. Os níveis recordes de exportação do produto in natura e a seca na safra americana jogaram os preços da commodity em patamares que impactam diretamente a rentabilidade das usinas.

Nossa leitura é de que a oferta também não foi maior pela instabilidade no desembaraço do metanol que o setor tem vivido e pela exclusão da possibilidade de compra dos 10% entre as usinas em caso de problemas operacionais. As companhias tendem a ser mais conservadoras com a exclusão desta possibilidade, visando se resguardarem.”

Leandro Martins, presidente da Cooperfeliz
Volume que a empresa ofertou no L26: 600 mil de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 600 mil de litros
“Minha análise é que a redução da oferta se deveu a duas situações. Primeiro temos as matérias-primas com uma oferta menor tanto na soja quanto no sebo bovino. O óleo de soja, em particular, está num valor muito alto com o grão praticamente todo comprado e na mão das esmagadoras. Tivemos também a questão da greve da Receita Federal que atrapalhou o metanol. Por isso, as usinas estão um pouco cautelosas em não fazer compromissos muito grandes.”

Nivaldo Tomazela, diretor Biopar do Paraná
Volume que a empresa ofertou no L26: 10,8 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 6 milhões de litros
“Se você olhar para o nosso histórico vai ver que nossa oferta não está fora do que costumamos fazer que fica entre três e seis mil metros cúbicos. A gente costuma oferecer apenas o volume que conseguimos produzir a partir de matérias-primas alternativas. O leilão passado é que foi uma experiência que fizemos em função da mudança do modelo, dessa vez oferecemos apenas o que queremos vender efetivamente.

Além do mais, somos sabedores de que o mercado do óleo de soja vai ser difícil nesse ultimo trimestre com preços muito elevados. E o metanol que estamos comprando quase que gota a gota. A Biopar está olhando o mercado com muita reserva por isso.”

Silvio Rangel, diretor da Barralcool
Volume que a empresa ofertou no L26: 9 milhões de litros
Volume que a empresa ofertou no L27: 4 milhões de litros
“O problema é justamente o preço. Nós vendemos praticamente para não ficarmos parados porque seria ainda mais complicado. Hoje [dia 20 de setembro] vieram me oferecer óleo de soja a R$ 2.940 a tonelada, como é que eu vou vender biodiesel a R$ 2.600?”

Comunicado enviado pela Abiove, entidade que representa a ADM, Cargill e Fiagril
“Nos dois últimos leilões, constatou-se que o setor é um ofertante líquido de biodiesel. No 26º e 27º leilões, houve uma sobra de oferta de 21% em relação à quantidade demandada para o período. Mesmo quando se pôde observar um desequilíbrio entre oferta e demanda do óleo de soja (matéria-prima responsável por 80% da produção de biodiesel) e dificuldades enfrentadas na importação de metanol (outro insumo fundamental na produção), em virtude de recentes greves de servidores federais, o setor foi capaz de manter níveis de oferta suficientes para suprir a demanda obrigatória em território nacional.
 
Em 2013, estima-se que o Brasil produzirá cerca de 81,3 milhões de toneladas de soja, volume que contribuirá para uma oferta significativamente superior de óleo de soja e, consequentemente, maior disponibilidade para biodiesel.”
 
Fábio Rodrigues - BIodieselBR.com
Tags: L27