Cidades

O Brasil está acelerando na mudança da frota de ônibus a diesel para elétricos. De acordo com Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), o país já superou a marca de mil veículos do tipo. O número ainda é abaixo do que existe no Chile (2,6 mil) e na Colômbia (1,7 mil), além de ser proporcionalmente pequeno em relação ao total dos que rodam no país, mas cada vez mais municípios investem na transformação.

“Temos visto um avanço em várias cidades de formas diferentes. Algumas já criaram um marco legal que define metas de descarbonização, enquanto outras estão aplicando para o PAC para a compra de ônibus elétricos. Há uma mudança em curso”, destacou Linke. A Associação Brasileira do Veículo Elétricos (ABVE) divulgou que o setor registrou um crescimento expressivo na frota no primeiro semestre de 2025. Foram emplacadas 306 unidades em todo o país, um aumento de 141% em relação ao mesmo período de 2024.

O aumento é puxado especialmente pela cidade de São Paulo. O município já tem 841 ônibus elétricos, ou 6,3% da frota total, mas a meta é chegar a 20% dos 13,3 mil coletivos até o fim de 2028. Já em Curitiba, os primeiros ônibus elétricos começaram a circular em agosto do ano passado. Foram 54 veículos na primeira aquisição, como parte do projeto de eletromobilidade do transporte público da cidade, que conta com R$ 380 milhões em investimentos.

O Ministério das Cidades informou que estão em processo de compra 2,2 mil ônibus elétricos para 92 cidades, como Florianópolis (SC), Palmas (TO) e Niterói (RJ). Só Campinas (SP) levará 250 veículos. Outros 13 municípios da região metropolitana baiana vão receber 150 coletivos cada. Na lista estão Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Itaparica. Os projetos foram escolhidos em 2023 e, juntos, custaram R$ 7 bilhões. Para 2025, os valores disponíveis são de R$ 4 bilhões, e a seleção ainda está ocorrendo. Os ônibus elétricos zeram emissões de gases e evitam a poluição do ar por partículas que causam doenças, especialmente pulmonares. Eles também são mais silenciosos e confortáveis.

Segundo Linke, a mudança é maior do que a simples substituição de veículos. A tecnologia tem particularidades que mudam a rotina das empresas de ônibus, além de criar um desafio adicional para concessionárias de energia que precisam reformar a estrutura de abastecimento para suportar o aumento da demanda. Outro problema é a localização das garagens. “É preciso espaços bem localizados com uma estratégia de recarga bem desenhada para colocar esses ônibus para rodar de forma efetiva. Mas encontrar terrenos em áreas melhores para garagens nas grandes cidades é complicado”, aponta.

No Rio, o Departamento estadual de Transportes Rodoviários começou a testar um modelo de ônibus 100% elétrico na linha intermunicipal 417T, que liga Xerém à Barra da Tijuca. O objetivo é observar aspectos como abastecimento do veículo, a disponibilidade de energia pela concessionária e o conforto. Serão avaliados também a autonomia, a eficiência operacional em trajetos longos e o custo-benefício do uso desta tecnologia em linhas intermunicipais. A expectativa é que o modelo possa ser adotado em outros itinerários.

Linke explica que, além de mudanças no funcionamento das empresas, um ônibus elétrico é três vezes mais caro do que um normal, o que pode ser uma barreira. Além disso, ele não tem um valor de revenda compensatório. Porém, sustenta ela, a operação é tão mais barata que compensa esse custo inicial.

Bruno Alfano – O Globo

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