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Soja

‘Superciclo’ de soja e milho se acentuou em abril


Valor Econômico - 03 mai 2021 - 11:32

Se realmente há um novo superciclo de commodities na praça, como defendem muitos analistas, milho e soja são a face agrícola desse fenômeno, como foram em picos observados nos anos 2000 e no início da década passada.

Básicos na alimentação humana e animal, esses grãos continuaram a subir na bolsa de Chicago em abril, e não há no radar sinais de queda. Embalados pelo aumento das apostas dos investidores em ativos de risco, pela piora das relações entre oferta e demanda (que segue aquecida na pandemia, sobretudo na China) e por incertezas climáticas nos EUA e no Brasil, que lideram as exportações, a expectativa é que as cotações até subam um pouco mais antes de cair - o que poderá acontecer no início do segundo semestre, com a entrada no mercado da colheita da próxima safra americana (2021/22).

Cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega mostram que abril foi o 11º mês consecutivo de altas de milho e soja em Chicago. No caso do milho, os papéis subiram 23%% no mês e alcançaram uma média (US$ 5,9377 por bushel), 10,5% maior que a de março e 81,2% superior a de abril do ano passado. É a maior média desde maio de 2013, mas ainda ficou 26,6% abaixo da máxima histórica de agosto de 2012 (US$ 8,0858).

No caso de soja, a alta dos contratos foi de 7,5% ao longo do mês passado, e a média mensal atingiu US$ 14,4938 por bushel - com avanços de 3% ante março, de 70,3% em relação a abril de 2020 e maior nível desde abril de 2014. Segundo o Valor Data, ante a máxima histórica de setembro de 2012 (US$ 16,7596 por bushel), o valor foi 13,5% menor.

Se do ponto de vista financeiro a liquidez dos mercados continua a favorecer investimentos nos futuros de grãos, do lado dos fundamentos as relações mais apertadas entre ofertas e demandas globais justificam as apostas dos fundos.

No tabuleiro do milho, os dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostram que os estoques finais mundiais nesta safra 2020/21 (283,85 milhões de toneladas) representam 24,6% da demanda total (1,156 bilhão de toneladas), enquanto em 2019/20 o percentual foi de 26,7% e em 2018/19, de 28%. Já na soja os estoques finais mundiais estimados pelo USDA (86,87 milhões de toneladas) representam 23,5% da demanda total (369,55 milhões de toneladas) em 2020/21, ante 27% em 2109/20 e 33,3% no ciclo 2018/19.

Para ambos os grãos haverá aumentos de áreas plantadas nos EUA na próxima temporada (2021/22), mas as últimas estimativas do USDA ficaram aquém do que esperavam os analistas diante dos elevados preços atuais. A depender das projeções para a demanda, que poderá se fortalecer conforme a vacinação contra a covid-19 avança no mundo, a fase de cotações nas alturas poderá se prolongar - beneficiando exportadores (os brasileiros ainda têm o câmbio ao seu lado) e mantendo a pressão inflacionária.

Na bolsa de Nova York, as “soft commodities” mais exportadas pelo Brasil também seguem negociadas a preços elevados, embora as variações sejam menos impressionantes.

Sob influência de adversidades climáticas no Centro-Sul brasileiro, açúcar e café subiram em abril - 15%% e 12,8%, respectivamente - e atingiram médias 4,5% e 2,7% superiores às observadas em março. Na comparação com as médias de abril de 2020, a do açúcar foi 59% maior e a do café subiu 16,8%. Nos dois casos, os níveis atuais são os maiores desde 2017.

O algodão, por sua vez, continuou em recuperação. Os contratos de segunda posição de entrega da commodity avançaram 7,2% no mês, mas a média foi 1,2% mais baixa que a de março. Em relação a abril de 2020, contudo, a alta ainda chega a 57,9%. E o suco de laranja, finalmente, registrou relativa estabilização, em um patamar apenas ligeiramente superior ao de um ano atrás.

Fernando Lopes, Rikardy Tooge, Naiara Albuquerque e Fernanda Pressinott – Valor Econômico