O produtor rural Vitório Ângelo Cella, de Sorriso (MT), completou no ciclo 2024/25 a sua 50ª safra de soja no Cerrado. Ele conta que os anos de experiência o ensinaram que manter o planejamento financeiro e as informações de mercado atualizadas são fundamentais para o negócio. “O produtor pode deixar de ganhar, mas não pode perder”, resume.
Ele cultiva 1.740 hectares de soja e relata que a lucratividade tem ficado cada vez menor. “O alto custo de produção tem deixado as margens bem menores a cada ano”, afirma o agricultor.
Os gastos têm subido em todas as frentes: adubos, sementes, defensivos, óleo diesel, revisão de máquinas e peças, impostos e seguros. Também entram nas despesas os salários e prêmios por safra dos funcionários e as prestações de máquinas agrícolas, que representam, em média, seis sacas por hectare. “No total, o custo de produção fica em torno 64 sacas por hectare”, calcula.
Mesmo trabalhando com capital de giro próprio, cultivo sem arrendamento e atrelando a comercialização ao mercado futuro, ele projeta uma “situação precária para o próximo ano”, considerando a safra 2025/26 e a seguinte. “Quem paga juro de financiamento e tem custo com arrendamento com certeza vai ter prejuízo”, afirma.
O relato de Vitório Cella está longe de ser exceção. “Quem acompanha o mercado sabia que a rentabilidade diminuiria. Os índices são totalmente previsíveis. Ninguém foi pego de surpresa”, comenta Jeferson de Souza, analista de insumos da Agrinvest Commodities.
Durante o Simpósio Sindiadubos NPK 2025, em outubro, em Curitiba, o especialista apresentou cálculos que atestam a perspectiva de redução das margens de lucro dos produtores de soja. Segundo o estudo, a lucratividade média dos produtores de soja do Cerrado brasileiro chegou a 52% na safra 2021/22, quando a rentabilidade atingiu seu auge dos últimos anos. Os percentuais caíram para 28% na temporada seguinte (2022/23), 2% no ciclo 2023/24 — uma das piores safras da história de Mato Grosso — e 18% na safra 2024/25.
A projeção para a safra 2025/26 está em 12%, mas os dados podem mudar, a depender dos resultados de produtividade, o principal fator no cálculo da rentabilidade do produtor. “As margens mudaram de patamar e estão muito mais apertadas do que estavam no passado. Normalmente, o percentual de lucratividade para o produtor ficaria entre 20% a 25%”, observa.
Souza também avaliou quantas sacas de soja por hectare os produtores precisam colher para cobrir todo o custo de produção em quatro cenários. O primeiro deles considera a produção sem arrendamento de área: em 2020/21, foram necessárias 30 sacas por hectare, e em 2024/25, 43 sacas por hectare.
O segundo cenário considerou um produtor sem arrendamento, mas com parcelas e juros de crédito rural. Nesse caso, o custo em sacas por hectare foi de 34 sacas por hectare no ciclo 2020/21 e de 52 sacas por hectare em 2024/25.
Na terceira hipótese, o analista considerou um cenário que inclui despesa com arrendamento. Nesse caso, o gasto médio foi de 42 sacas por hectare na temporada 2020/21 e de 57 sacas por hectare na safra 2024/25.
Por fim, o estudo considerou a produção de soja com área arrendada e pagamento de parcelas de crédito rural. Nessa situação, para cobrir os custos, os agricultores tiveram que gastar o equivalente a 47 sacas por hectare em 2020/21 e 68 sacas por hectare no ciclo 2024/25. Se consideradas as projeções para o ciclo 2025/26, a despesa dos produtores será de 71 sacas por hectare nesse último cenário.
Carolina Mainardes – Globo Rural