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A confirmação de que o La Niña pode persistir até fevereiro de 2026 tem gerado preocupações entre os produtores rurais brasileiros, já que o fenômeno climático pode impactar a produção agrícola do país, sobretudo a soja e o milho de segunda safra.

Embora a previsão de um La Niña curto e fraco sugira efeitos climáticos menos intensos, o padrão de chuva tradicional pode não se concretizar, criando incertezas para o setor, avalia Willians Bini, meteorologista e chefe de novos negócios da Metos Brasil.

“O problema é que, por ser curta e fraca, a atmosfera pode não ter tempo suficiente para se ajustar a essa condição climática global, o que pode impedir que os efeitos tradicionais ocorram como esperado – ou seja, com menos chuva no sul e mais no norte e nordeste. Esse é um dos principais pontos a ser considerado”, afirma Bini.

Na quinta-feira, 4, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou uma probabilidade de 55% de que um La Niña fraco se concretize a partir deste mês até fevereiro do próximo ano.

Em meados de novembro de 2025, os indicadores oceânicos e atmosféricos mostraram condições limítrofes de La Niña e a OMM acrescentou que há uma chance de 65% a 75% de que condições neutras prevaleçam de janeiro a março e fevereiro a abril de 2026.

Embora o padrão La Niña envolva o resfriamento temporário das temperaturas no Oceano Pacífico central e oriental, muitas regiões ainda devem registrar temperaturas mais altas que o normal, o que aumenta as chances de enchentes e secas, impactando as colheitas, segundo a entidade.

O La Niña é um evento climático caracterizado pelo resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico tropical, o que provoca uma série de efeitos climáticos, como chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul.

O clima incerto já está no radar dos agricultores. Um levantamento da consultoria agrícola AgRural mostra que o plantio da soja no Brasil atingiu 89%, um volume ligeiramente inferior aos 91% registrados no mesmo período do ano passado.

Segundo a consultoria, embora as chuvas tenham melhorado no Cerrado, o padrão irregular das precipitações ainda resulta em pontos de estiagem, com destaque para Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Piauí.

No Rio Grande do Sul, que iniciou a safra com excesso de chuvas, a redução da umidade também entra no radar dos produtores, mas “ainda não se pode falar em perdas de produtividade”, diz a AgRural.

Há também o impacto da inflação. Na avaliação do BTG, a inflação dos alimentos deve voltar a acelerar no próximo ano, passando de 1,3% para 5,0%, impulsionada pelo ciclo da pecuária e pelos riscos climáticos relacionados ao fenômeno La Niña.

La Niña no Brasil

O ponto de consenso entre os meteorologistas, contudo, não é se o La Niña vai ocorrer, mas sim quais serão seus reais impactos no agronegócio.

No caso do Brasil, as atenções estão voltadas para o Centro-Oeste e o Sul, regiões que, juntas, são responsáveis por mais de 80% da produção de soja, com destaque para Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul.

“A expectativa é de menos chuva no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina, o que pode prejudicar a safra 2025/26. Apesar disso, as previsões iniciais para o Centro-Oeste e Sudeste apontavam chuvas dentro da média, mas as projeções mais recentes indicam que essas regiões também poderão enfrentar déficits hídricos”, afirma Bini.

Segundo as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos no Brasil em 2025/26 deve superar o recorde da temporada anterior, alcançando 355 milhões de toneladas.

Desses 355 milhões, 178 milhões de toneladas devem ser de soja, enquanto o milho deve somar 139 milhões de toneladas.

César H. S. Rezende – Exame

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