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Seminário discute limitações e oportunidades do biodiesel no Brasil


Embrapa Agroenergia - 19 set 2011 - 05:57 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

Na semana passada a Embrapa realizou o Seminário Nacional sobre o Complexo Agroindustrial do Biodiesel no Brasil no auditório da sede da instituição, em Brasília (DF).

A análise das cinco principais cadeias produtivas de oleaginosas identificadas no Brasil, suas limitações e oportunidades, os diversos elos da cadeia, a competitividade do biodiesel no país e o lançamento do livro da Embrapa estiveram entre os assuntos apresentados no seminário.

O livro foi produzido a partir de 118 entrevistas realizadas com produtores, técnicos, pesquisadores e empresários, em todas as regiões do país, de revisão de bibliografia, de painéis de especialistas e de seminários técnicos e deve se tornar “referência entre pesquisadores, estudantes e integrantes das cadeias produtivas para o estudo do biodiesel”, como destacou o Chefe-Geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior, que abriu o Seminário. Ainda na abertura do evento, Souza Júnior ressaltou a importância do tema para o país e para os negócios da agroenergia e apontou as perspectivas futuras para o biodiesel.

Um dos editores técnicos da obra, o ex-pesquisador da Embrapa Antônio Maria Gomes de Castro, abriu a discussão técnica sobre o conteúdo do livro. A primeira grande discussão foi a definição das alternativas disponíveis no Brasil para o biodiesel. Nesse sentido, foram selecionadas cinco oleaginosas – soja, dendê, girassol, mamona e canola – a serem abordadas no estudo. Em cada uma delas foi analisado o sistema agroindustrial, ressaltando as respectivas características de produção, de produtividade e as limitações e oportunidades.

Entre as oportunidades para o biodiesel, Castro aponta o encarecimento do barril de petróleo, que acelerou a busca por combustíveis alternativos e a necessidade de se produzir inovação nos sistemas agroindustriais. Entre as dificuldades, o editor levantou a possível competição com a produção de alimentos. Ressaltou que os resultados apresentados e as análises efetuadas têm como corte temporal o final do ano de 2009, quando se encerrou o período de coleta de dados e informações.

Suzana Maria Valle Lima, também ex-pesquisadora da Embrapa e editora técnica, apresentou o segundo capítulo do livro, que traça um panorama da produção de biodiesel no Brasil e do mundo, tendo ressaltado a inexistência de um padrão internacional de qualidade, o que pode trazer problemas quando o Brasil se tornar exportador de biodiesel.

Iniciando as apresentações sobre os sistemas produtivos, João Flávio Veloso Silva, terceiro editor técnico do livro e Chefe-Geral da Embrapa Agrossilvipastoril, falou sobre a soja, que responde por cerca de 80% da produção nacional de biodiesel. Silva apontou que, ao contrário do que muitos pensam, há uma forte participação de empresas familiares na produção de soja, principalmente na região Sul do país. As empresas familiares, enfatizou estão somente um pouco atrás das empresas capitalistas na produtividade e no custo por hectare, sendo que, no item preço, ambas têm praticamente a mesma eficiência. Entre os custos de produção da soja, os gastos com insumos (fertilizantes e corretivos) foram os que mais cresceram ao longo do período 2000-2008, independente da escala da unidade produtiva.

O sistema produtivo do dendê foi abordado por Jeferson Luís Vasconcelos Macêdo, da Embrapa Amazônia Ocidental. Entre as oleaginosas é a que produz a maior quantidade de óleo vegetal por hectare chegando a 5.000 kg por hectare cultivado. Além disso, entre os fatores favoráveis, Macêdo destacou a elevada produção ao longo do período de exploração econômica da palmeira, que pode ser de até 25 anos. Sobre as limitações desse sistema, um dos pontos que mais preocupa é o fornecimento de sementes, que hoje está muito aquém da demanda, gerando uma produção descontínua, que aumenta ou diminui dependendo da oferta do insumo.

A apresentação do pesquisador Cesar de Castro, da Embrapa Soja, sobre o sistema produtivo do girassol mostrou como essa oleaginosa ainda tem muito espaço para crescer na produção nacional. Com condições edafoclimáticas favoráveis, o girassol pode ser plantado de norte a sul do país. Além disso, Castro destacou a grande capacidade que o Brasil tem para expandir sua produção de oleaginosas. Em relação ao girassol especificamente, o pesquisador acredita que dois fatores ainda dificultam essa expansão: a falta de um pacote tecnológico e de um zoneamento definidos, o que afeta também a transferência de tecnologias para os produtores, Ainda assim, ele destacou que a produtividade média de girassol no Brasil, atualmente, é maior que a média mundial.

O sistema de cultivo da mamona foi abordado pelo pesquisador Joffre Kouri, da Embrapa Amapá, que apresentou dados mostrando que essa planta se consolidou na região Nordeste, onde estão cerca de 80% da produção nacional, sendo que a Bahia concentra mais de 90% da produção dessa região. Entre as características do produto, o pesquisador destaca a grande variedade de uso, sendo que a produção é feita predominantemente (cerca de 90%) em empresas familiares de subtipo transição inicial que necessitam de infraestrutura para escoar produção, usam pouco insumos, não contam com assistência técnica, têm baixa produtividade e praticam consórcios com culturas alimentares. Já as empresas familiares subtipo transição avançada (10% das unidades produtivas no Nordeste) têm como diferencial a participação de cooperativas e associações, enquanto nas demais características são semelhantes ao primeiro subtipo.

Com relação ao processo produtivo, Kouri explicou que, de modo geral no cultivo da mamona, não são seguidas as recomendações da pesquisa. Também se registram problemas com arranjos populacionais, época de semeadura, assistência técnica e planejamento e gestão das atividades na propriedade. “Entre as oportunidades para reverter esse quadro, cito o aumento da disponibilidade de crédito para as culturas de oleaginosas na agricultura familiar, das opções tecnológicas e da organização do segmento. Entre as limitações estão a dificuldade de acesso ao crédito por inadimplência, baixo grau de adoção de tecnologias e assistência técnica, alto custo de matéria, vulnerabilidade do sistema produtivo em decorrência da prática de plantios sucessivos, entre outros”, finalizou.

O pesquisador Gilberto Tomm, da Embrapa Trigo, explanou sobre a canola, cuja produção nacional chegou a 40 mil toneladas em 2009. Segundo Tomm, as pesquisas de seleção e melhoramento genético para essa cultura têm como objetivo a produção de óleo de excelente qualidade, tanto para consumo alimentício como para a produção de biodiesel. Iniciadas em 1974, as pesquisas têm garantido a posição mundial da cultura em terceiro lugar entre as oleaginosas, atrás do dendê e da soja. “Cresce a cada ano a produção de canola no Brasil, fruto também de estratégias bem-sucedidas de transferência de tecnologia, do bom aproveitamento de tecnologias e maquinários já utilizados na cultura da soja e ainda graças às parcerias e envolvimento do setor produtivo”.

Outro aspecto abordado pelo pesquisador foi a excepcional adaptação da cultura aos diversos climas e solos do país, o que tornou a canola uma opção em potencial de produção de alimentos e biodiesel. “Esse fenômeno está sendo chamado de tropicalização da canola, que tem ganhado espaço não só em regiões tradicionais de cultivo, mas também em regiões mais quentes do Brasil, como o Nordeste e o Cerrado. A lógica é a mesma da soja. Observa-se já uma expansão fantástica que mostra sua capacidade de flexibilização. Mas essa realidade é pouco conhecida, o que é uma limitante para o crescimento da cultura”. Entre as conclusões citadas pelo pesquisador da Embrapa Trigo, destacam-se a percepção de que a demanda pelo óleo de canola é superior à oferta, de que há tecnologia disponível para a cultura, o que propicia otimização dos investimentos e redução da capacidade ociosa. “A comercialização é fácil, seguindo o exemplo da soja. A expectativa é de que o Brasil seja um grande produtor e exportador de canola em um futuro próximo, o que permitirá aumento da produção de biodiesel e de alimentos e geração de emprego e renda a um baixo custo ambiental”.

Por fim, foram abordadas as estratégias para a competitividade do biodiesel por Antônio Maria Gomes de Castro, Ao falar sobre as indústrias de biodiesel no Brasil, apontou que há diferenças entre as usinas, tanto no volume de produção, na capacidade de processar uma ou mais matérias-primas, no nível de ocupação, quanto na estratégia de localização: umas próximas às matérias-primas e outras dos consumidores, sem que essa logística tenha sido estudada previamente.

Entre as conclusões do estudo apresentado pelo ex-pesquisador da Embrapa, estão a necessidade de estabelecer estratégias na área de políticas públicas, P&D e gestão para viabilizar e gerar competitividade crescente à produção de biodiesel no Brasil. Em termos das características combustíveis, Castro diz; “nenhum óleo é considerado de configuração ótima. O ideal seria pensar na mistura deles”, sugeriu.

Ao tratar da produção das matérias-primas, Castro disse que, no geral, há necessidade de expansão, bem como de mais investimento em pesquisa sobre cada um dessas culturas e seus produtos. A agenda de pesquisa da canola, segundo ele, deve focar a produção de cultivares e sementes básicas de alta produtividade e resistência, bem como nutrição e adubação. Com relação ao girassol, foi percebida, também, a necessidade do aumento da área plantada, além de investimentos em assistência técnica e pesquisa mais estruturada, ampliação da oferta de crédito e inclusão de agricultores familiares. No caso do dendê, o problema de sementes é limitante. “É necessário o estabelecimento de parcerias com o setor produtivo, com órgãos de controle ambiental e empresas. As pesquisas devem propiciar o aumento da produção e a redução dos custos, sem causar impactos ambientais negativos”, esclarece.

No que diz respeito à mamona, faz-se necessária uma intervenção forte e integrada para dotar a cadeia produtiva de coordenação, que permita a articulação de sistemas produtivos agrícolas com agroindústrias e/ou indústrias de biodiesel. A soja tem situação mais confortável, pois há uma base tecnológica bem estabelecida, assistência técnica ampla, cadeia produtiva coordenada, mercado em expansão, competitividade e linha de crédito oficial. “Acredito que o aproveitamento de áreas de pastagens degradadas é uma boa estratégia de aumento da produção de soja” afirmou o ex-pesquisador.

Finalizando o Seminário, Castro afirmou que “sem barreiras técnicas ou tarifárias, o biodiesel brasileiro conquistará o mundo”. Mas, para isso, há que trabalhar a questão política e estratégica para se conseguir vantagens competitivas. “Deve-se dar atenção especial às normas de qualidade nacionais e internacionais e para garantir a crescente eficiência produtiva no complexo agroindustrial do biodiesel deve-se investir continuamente em pesquisa e inovação”, concluiu Castro.