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Biodiesel

Mercado de óleo de palma ganha fôlego


Valor Online - 10 ago 2006 - 00:47 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Os preços do óleo de palma registraram ontem mais uma forte alta na bolsa da Malásia - mercado de referência da oleaginosa. O contrato futuro com maior liquidez subiu 1,1% e fechou a 20,73 centavos de dólar por libra-peso. Nos últimos 30 dias, a alta acumulada chegou a 9,5% - e, segundo analistas, novas valorizações virão.

Mais um sinal de que se trata de um "novo" mercado, outro a ser chacoalhado pela onda dos combustíveis vegetais. Começa a ganhar ainda mais corpo, a atrair novos investimentos e a oferecer uma volatilidade de preços que costuma agradar aos especuladores. E respingos dessa transformação, também embalada pelo maior consumo alimentar, podem beneficiar o Brasil, até agora só uma sombra em um segmento tradicionalmente dominado por países asiáticos.

Óleo de Palma valorizado
Mas são os atuais donos da bola que estão no ataque. Recentemente, os governos de Malásia e Indonésia, que juntos respondem por 85% da exportação mundial de óleo de palma, anunciaram que cada país reservará 6 milhões de toneladas do produto por ano para a produção de biodiesel. Esse volume corresponde a 40% da produção anual desses países. Os dois países anunciaram em julho parceria para produzir anualmente 12 milhões de toneladas de biodiesel de palma, com vistas à exportação.

O aquecimento da demanda ocorre sobretudo na China. O país consome 70 milhões de toneladas de diesel por ano e planeja construir 100 usinas de biodiesel - à base de canola, soja e palma - para reduzir a demanda por diesel. Em 2005, os chineses importaram, no total, 4,4 milhões de toneladas, quase tudo da Malásia. E o volume deve crescer.

Em julho, a estatal China National Offshore Oil Corp. (CNOOC) anunciou a construção de uma usina de biodiesel em Hainan Island, com capacidade inicial para 100 mil toneladas por ano e planos para chegar a 1 milhão no médio prazo. Analistas do segmento acreditam que a empresa utilizará como matéria-prima o óleo de palma da Malásia, já que o exportador oferece vantagens comerciais à China. A mesma CNOOC também planeja construir uma unidade de biodiesel de óleo de palma em seu país ou na própria Malásia.

Ainda na China, pesquisadores do Instituto de Físico-Química de Dalian também desenvolvem pesquisas para produzir etileno, propileno e outros produtos de química fina a partir da palma, em substituição aos derivados de petróleo. A expectativa é que o país eleve suas importações do óleo em pelo menos 1 milhão de toneladas já em 2007, para a produção de biocombustíveis.

Na Ásia, o Japão também demonstra interesse no biodiesel de palma. O grupo japonês Itochu Corp. e a petroleira malaia Petroliam Nasional Bhd planejam investir US$ 22,6 bilhões para desenvolver a indústria de biodiesel na Malásia. Outras interessadas são as também malaias Sime Darby e Golden Hope Plantations, além da Wilmar Corp., de Cingapura.

O melhor exemplo de que o eixo do mercado de óleo de palma começa a mudar é a União Européia, onde o consumo é crescente principalmente em Holanda, Inglaterra e Bélgica, que usam o produto para para gerar energia elétrica. Conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as importações do bloco europeu aumentaram 12% na safra 2005/06, para 4,5 milhões de toneladas, e deverão crescer mais 9% em 2006/07. A demanda mundial, segundo o USDA, deverá crescer 6,5% no ciclo 2006/07, para 37,5 milhões de toneladas; a oferta está projetada em 37,4 milhões, o que deixa como saldo estoques apertados, de 77 mil toneladas.

Nos EUA e na UE, nota João Paulo de Moraes Filho, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não é apenas a febre do biodiesel que puxa a demanda. Ele diz que, nos últimos anos os dois mercados vêm recorrendo mais ao óleo de palma na alimentação, como substituto do óleo de soja e de outros óleos com gordura trans (formada por processo de hidrogenação e, se consumida em excesso, causadora de aumento dos níveis de colesterol ruim no organismo). Em parte graças a essa preocupação, na temporada agrícola 2005/06 o consumo mundial de óleo de palma superou o de óleo de óleo - 35,2 milhões contra 33,4 milhões de toneladas. "Só que há mais restrições geográficas à produção de palma do que no caso da soja, o que limita sua expansão", avalia Moraes.

Para o técnico, a atual tendência de maior produção de biodiesel de óleo de palma em outros países fora da Ásia tem limite. Mesmo na Europa, observa, a principal matéria-prima adotada tem sido a canola. Nos EUA, as apostas deverão se concentrar na soja. Não é de esperar, portanto, crescimentos geométricos da demanda, mas aumentos graduais.

No Brasil as perspectivas também apontam para essa direção, definida pelo avanço do biodiesel também por aqui e pela nova legislação sobre rotulagem de óleos comestíveis. E nesse cenário, a Agropalma, que responde por 75% da incipiente produção nacional de óleo de palma, já estuda ampliar a produção do combustível e reavalia a possibilidade de entrar no varejo de margarinas. Hoje a empresa faz a margarina Vitapalma, voltada exclusivamente para a área de food-service (padarias, sorveterias, bares e restaurantes).

Desde o dia 1º, no país, as indústrias de alimentos devem incluir nos rótulos a quantidade de gordura trans contida em seus produtos. Nos EUA, a rotulagem de gordura trans tornou-se obrigatória em 2005, e no primeiro ano da lei o consumo de óleo de palma cresceu 51,9%, para quase 416 mil toneladas, segundo a Comissão Internacional de Comércio dos EUA (ITC). As perspectivas apontam para novo crescimento em 2006, de 44%.

"Com a rotulagem de gorduras trans, a demanda por produtos mais saudáveis no Brasil também deve crescer", diz Marcelo Amaral Brito, diretor comercial da Agropalma. Segundo ele, as grandes indústrias já adequaram produção e rotulagem e aumentaram as consultas para compra de óleo de palma por empresas de menor porte. A produção de óleo da Agropalma não deverá chegar às 145 mil toneladas previstas no início do ano. Segundo Brito, uma seca no fim de 2005 e as chuvas de julho afetaram a produtividade das palmeiras. No ano passado, foram cerca de 130 mil toneladas. Conforme Brito, a Agropalma também estuda implantar uma nova tecnologia para elevar a produção de biodiesel. A empresa investiu US$ 1 milhão em 2005 em uma fábrica em Belém (PA).

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