Glencore é a mais nova interessada na Agrenco e Dreyfus perde exclusividade
A Agrenco decidiu que irá negociar um aporte de capital no negócio com mais interessados, além da Louis Dreyfus Commodities (LDC), com quem já vinha conversando antes mesmo da ação da Polícia Federal (PF), em 20 de junho. A companhia agora tem em mãos uma proposta da asiática Noble e, mais recentemente, da suíça Glencore, segundo apurou o Valor.
A oferta da companhia suíça é a terceira recebida desde que as conversas com a Dreyfus se tornaram públicas, em função da prisão de três dos sócios controladores e executivos da Agrenco.
O grupo francês já vinha negociando a compra de uma fatia na empresa brasileira antes do escândalo. Para acomodar o novo acionista, inclusive, a companhia já havia programado mudanças em seu estatuto social — aprovadas na sexta-feira, a despeito da mudança na estrutura da transação.
Em função do surgimento de mais interessados e também, de um desentendimento quanto à urgência da conclusão da transação, a Agrenco renegociou as condições preliminares com a Dreyfus para eliminar a cláusula de exclusividade. Além disso, decidiu formar um comitê de assessoramento para a venda dos ativos. Esse colegiado será formado por um banco de investimentos, um escritório de advocacia e uma empresa de auditoria e contabilidade.
“A questão do tempo é muito importante para nós”, disse Marco Antonio Modesti, gerente de relações com investidores da Agrenco, explicando porque quer abrir a possibilidade de diálogo com mais interessados. De acordo com pessoa próxima à administração atual, desde a prisão dos sócios, a empresa não conseguiu mais dinheiro junto aos bancos. Assim, a situação financeira, que já era difícil, está ainda mais delicada. Em março, a companhia tinha R$ 52 milhões emcaixa para uma dívida de curto prazo de R$ 1 bilhão.
A definição da instituição financeira que fará a operação deve ocorrer ainda hoje e, então, comunicada ao mercado junto com o nome dos demais componentes desse comitê. Assim que iniciar os trabalhos, o banco abrirá o diálogo com os demais interessados. “Os três serão tratados da mesma forma.” Modesti reconhece, porém, que a empresa francesa está mais avançada no processo de negociação.
A proposta da Dreyfus e da Noble são muito semelhantes, em valor e estrutura. Já sobre a a terceira oferta recebida pela Agrenco, não há nenhum detalhe. Modesti não quis comentar a informação do Valor de que é Glencore é a mais nova interessada. Limitou-se a dizer que os termos da terceira proposta foram “gerais” e muito diferentes do que está na mesa com os demais grupos. Por isso, não haveria como comparar e ver, neste momento, o que é melhor. A definição será do banco de investimentos.
O interesse da Glencore faz sentido. A gigante suíça, que também é a maior acionista individual da mineradora Xstrata, quer voltar a atuar na indústria brasileira de soja. A multinacional atuou aqui até 1997, quando vendeu as operações para a americana ADM. A venda incluiu um escritório em São Paulo, 33 silos de armazenagem e uma fábrica de processamento de fertilizantes. Na semana passada, o Valor informou que ela negocia a aquisição da esmagadora Sperafico Agroindustrial, com sede em Toledo (PR), fruto da estratégia de voltar ao país no ramo de grãos.
Procurada, a Glencore não quis comentar o tema. Sua atuação agrícola na América do Sul concentra-se em cinco beneficiadoras de arroz no Uruguai e Argentina. As operações incluem ainda parceria com o grupo argentino Vicentín, para a produção de biodiesel, e o controle da Moreno, unidade de processamento de girassol. A Agrenco, além de ser importadora e exportadora de grãos, como a Glencore, também possui três usinas de esmagamento de soja e um projeto de biodiesel.
Graziella Valenti, Mônica Scaramuzzo e Patrick Cruz, de São Paulo