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Negócio

Petrobrás perde R$ 32,4 bi em valor de mercado com adiamento de reajuste do diesel


Fábio Rodrigues - 15 abr 2019 - 09:30

A decisão da Petrobrás de adiar por mais alguns dias o reajuste no preço do diesel, horas depois de ter anunciado um aumento de 5,7%, na quinta-feira, 11, jogou para baixo as ações da estatal no pré-mercado de Nova York e na B3, a Bolsa de São Paulo, nesta sexta-feira, 12. As perdas se aceleraram depois que o presidente Jair Bolsonaro admitiu que determinou a suspensão do reajuste no diesel - o litro passaria de R$ 2,1432 para R$ 2,2662.

Sem o reajuste, a estatal também deixa de lucrar mais R$ 13 milhões por dia, segundo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIEE) que considera o volume de vendas do combustível.

Ao fim do pregão, a Petrobrás sofreu uma perda de R$ 32,4 bilhões em valor de mercado. As ações ON fecharam em queda de 8,54%. Já os papéis PN recuaram 7,75%. Com a queda, a estatal encerrou o dia valendo R$ 361,499 bilhões.

As ações da petroleira negociadas em Nova York fecharam com recuo de 9,29%.

O Ibovespa fechou em baixa de 1,98%, aos 92.875 pontos. Na quinta, fechara em baixa de 1,25%, aos 94.754,70 pontos. No mercado de câmbio, o dólar à vista fechou em alta de 0,83%, cotado a R$ 3,8884.

Interferência

“Eu liguei para o presidente (da Petrobrás, Roberto Castello Branco) sim. Me surpreendi com o reajuste de 5.7%. Não vou ser intervencionista. Não vou praticar a política que fizemos no passado, mas quero os números da Petrobrás”, afirmou Bolsonaro.

O novo valor começaria a ser cobrado nesta sexta, mas vai ficar suspenso até que os técnicos da estatal justifiquem ao presidente a necessidade do aumento.

Em entrevista à Rádio CBN, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que a determinação do presidente Jair Bolsonaro de recuar na decisão foi caso "isolado".

Mourão disse crer em bom senso e que não se repetirá a política adotada do governo Dilma Rousseff (PT), que segurou os preços dos combustíveis para manter a inflação dentro da meta.

Além da estimativa de desempenho desfavorável das ações da empresa, a possibilidade de atraso na admissibilidade da reforma da Previdência continua no radar dos investidores e deve impedir o índice de subir, a despeito do crescimento das exportações na China, o que pode diminuir as preocupações quanto ao desaquecimento econômico mundial.

Para completar, a atenção do mercado nesta sexta ainda deve recair sobre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-Rio), após a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentar parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base em laudo da Polícia Federal que aponta pagamento de propina da Odebrecht no valor de R$ 1,4 milhão para codinomes que se referem a Maia e a seu pai, o vereador César Maia (DEM-RJ).

As exportações chinesas em dólares aumentam 14,2% em março na comparação anual, superando as expectativas de alta de 8,7%. Os dados impulsionam as principais commodities lá fora e eleva as bolsas europeias, bem como os índices futuros em Nova York, que ainda reagem a balanços melhores que o esperado de bancos no primeiro trimestre.

"Acho difícil o bom humor externo segurar a Bolsa. Essa interferência não é boa, pode ter reflexo nas demais estatais listadas na B3", avalia um operador de renda variável. A princípio, analisa, o mercado não deve focar no argumento da Petrobrás, mas no fato de a empresa ter voltado atrás na decisão. No comunicado, a companhia disse que decidiu adiar "por mais alguns dias" o reajuste no preço do diesel.

A MCM Consultores observa em nota que o reajuste da estatal seria o primeiro aumento desde que o anúncio no fim de março de um intervalo mínimo de 15 para as revisões dos preços do diesel por conta da evolução de sua paridade internacional. Assim, o preço do diesel na refinaria continua abaixo da sua paridade internacional.

"Essa intervenção na empresa causará impactos negativos nos preços de ações e bônus. Mesmo que a empresa venha a reajustar os preços dos combustíveis nos próximos dias, ficará a incerteza entre os investidores quanto ao risco de novas ações desse tipo do governo nos negócios da companhia", avalia a MCM.

De acordo ainda com a consultoria, o sucesso da recuperação financeira da Petrobrás, implementado desde meados de 2016, deve-se à autonomia dada, pelo governo, aos diretores da estatal na condução de seus negócios.