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Negócio

Petrobras passa por mudança em seu comando


BiodieselBR.com - 04 jun 2018 - 09:05

Pedro Parente está fora da Petrobras. Nessa sexta-feira (01), o executivo anunciou sua decisão de deixar o comando da petroleira que havia assumido em maio de 2016. Isso acontece alguns dias depois do Palácio do Planalto ter cedido a pressão de um movimento nacional de caminhoneiros que pediam uma redução substancial na política de preços para o óleo diesel.

O ex-presidente da Petrobras chegou a negar que tivesse intenção de entregar o cargo e mantinha o mesmo posicionamento frente à necessidade de continuidade da atual política de preços da estatal que procura acompanhar de perto as variações nas cotações internacionais dos combustíveis. No entanto, circulava pelo mercado a informação de que Parente estaria cogitando trocar o comando da estatal pela presidência da empresa de alimentos BRF.

Ele teria, inclusive, solicitado nos últimos dias para ‘segurarem’ o processo de escolha de um CEO na companhia. A possibilidade da troca ocorrer já corria no mercado financeiro, principalmente, diante da crise gerada com a greve dos caminhoneiros e já mexeu nos papéis da própria empresa de alimentos.

A saída de Parente era exigida por sindicatos de trabalhadores da Petrobras e por políticos de oposição, que criticavam a alta dos preços dos combustíveis sob sua gestão. Após a demissão, o executivo recebeu críticas também de políticos da base do governo Temer, como o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que escreveu em sua conta no Twitter que o presidente da Petrobras “precisa reunir visão empresarial, sensibilidade social e responsabilidade política”.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix, negou que tenha havido pressão do governo para que Parente deixasse o cargo ou para que mudasse a política de preços da companhia. No entanto, o ministério divulgou nota em que diz ter iniciado um “debate público” sobre a criação de uma política de “amortecimento” dos preços dos combustíveis para consumidor com a ideia de aliviar a volatilidade trazida pela variação do petróleo no mercado internacional e do câmbio.


Sucessor

No mesmo dia foi anunciado o sucessor de Parente: o engenheiro Ivan Monteiro que, até então, ocupava o cardo de diretor financeiro da estatal.

A definição rápida buscou acalmar o mercado. Logo após o anúncio do pedido de demissão de Parente, as ações da Petrobras chegaram a se desvalorizarem em quase 15% – o equivalente a R$ 45 bilhões – por temores de uma possível interferência política no comando da estatal. A queda levou a bolsa paulista B3 a suspender as negociações das ações da companhia.

Na Petrobras desde 2015, quando foi nomeado diretor financeiro pela então presidente Dilma Rousseff, Monteiro havia sido definido pelo conselho de administração da petroleira como presidente interino mais cedo nesta sexta-feira.

Em breve pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer classificou a escolha de Monteiro como uma garantia de que o rumo da estatal será mantido e de que a companhia não estará sujeita a intervenções de Brasília. “Continuaremos com a política econômica que nestes dois anos retirou a empresa do prejuízo e a trouxe novamente para o roll das mais respeitadas do Brasil e do exterior. Declaro também que não haverá qualquer interferência na política de preços da companhia”, afirmou.

Carta

Confira a carta de Pedro Parente na íntegra:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa - que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política - Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

Respeitosamente,
Pedro Parente

Adaptação BiodieselBR.com
Com informações O Estado de S. Paulo e Reuters

Tags: Petrobras